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A saga para proteger 'Moça com Brinco de Pérolas' dos nazistas
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A saga para proteger 'Moça com Brinco de Pérolas' dos nazistas

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Aventuras Na História
04/05/2025 19h00
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©Getty Images
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Durante a Segunda Guerra Mundial, museus em toda a Europa foram forçados a tomar decisões urgentes para proteger seus acervos. No caso do Mauritshuis, em Haia (Holanda), onde estava exposta a Moça com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer, a ameaça de bombardeios e o risco de saque nazista levaram a uma operação silenciosa e meticulosa para salvar a pintura.

Segundo comunicado divulgado pelo museu, a estratégia começou em 1939, com a escalada do conflito e o temor de que a invasão da Holanda fosse apenas uma questão de tempo. Wilhelm Martin, então diretor do Mauritshuis, decidiu agir preventivamente.

A pintura de Vermeer foi inicialmente levada para o porão do próprio local, convertido em abrigo antiaéreo. Em seguida, foi transferida para um bunker de concreto escondido nas dunas do Mar do Norte, construído especificamente para armazenar obras de arte longe dos centros urbanos.

Mais adiante, quando a segurança do bunker foi comprometida, a obra foi novamente transportada — desta vez para uma caverna nos arredores de Maastricht, cidade no sul da Holanda, próxima à fronteira com a Bélgica. A Moça passou os últimos três anos da guerra nesse esconderijo.

Obras escondidas

A ação incluiu também outras obras de grande valor, como A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, de Rembrandt, e O Pintassilgo, de Carel Fabritius. Para definir quais peças seriam retiradas, Martin criou um sistema codificado por triângulos coloridos, baseado nas cores da bandeira holandesa.

O triângulo vermelho indicava tesouros nacionais e prioridade máxima de proteção — categoria atribuída à Moça. As obras com triângulo branco tinham importância intermediária, enquanto as marcadas com azul poderiam permanecer expostas, mesmo ao lado de molduras vazias das que haviam sido retiradas.

arte
paredes da galeria no Mauritshuis durante a ocupação nazista / Crédito: Divulgação/Mauritshuis

 

Enquanto isso, o museu tentava manter as aparências. Localizado ao lado do Binnenhof, sede do poder parlamentar holandês — onde circulavam muitos oficiais alemães —, o Mauritshuis foi obrigado a ceder espaço para cinco exposições de propaganda nazista.

Mostras como “Livros Alemães Hoje” e uma coleção de âmbar (apresentado pelos nazistas como “ouro do mar”) foram exibidas sob pressão. Martin registrou protestos por escrito, mas cedeu por medo de que o prédio fosse confiscado se estivesse desocupado.

"Foi um ato de equilíbrio. Martin queria proteger as pessoas que trabalhavam lá, uma equipe relativamente reduzida, bem como a coleção e o prédio do museu, e por isso teve que agir de uma determinada maneira", afirmou Quentin Buvelot, curador da exposição, ao The New York Times.

Mesmo diante da pressão, o acervo público holandês foi, em grande parte, poupado. Isso se deve ao fato de os nazistas enxergarem os holandeses como “irmãos étnicos” e, por isso, preferirem utilizar os museus locais como instrumentos de propaganda cultural, ao invés de pilhagem direta.

Ainda assim, dezenas de milhares de obras pertencentes a colecionadores judeus foram roubadas por meio de vendas forçadas ou apropriação direta — entre elas, peças da Coleção Gutmann e da Galeria Jacques Goudstikker.

Em exposição

A Moça com Brinco de Pérola sobreviveu à guerra sem danos. "Não há evidências que sugiram que a 'Moça' tenha sido danificada durante ou depois da guerra. Acho isso bastante notável", destacou Abbie Vandivere, conservadora de pinturas do Mauritshuis, ao NYT. 

Após a libertação da Holanda, em maio de 1945, a pintura foi retirada da caverna de Maastricht e levada ao Rijksmuseum, onde foi exibida na mostra “Reencontro com os Mestres”. A exposição, aberta em julho daquele ano, reuniu mais de 150 obras recuperadas e atraiu cerca de 167 mil visitantes.

Em setembro, a obra de Vermeer voltou ao Mauritshuis. Em novembro, outras pinturas do acervo também retornaram às paredes do museu, marcando o fim de um capítulo silencioso e engenhoso de preservação cultural em tempos de guerra.

A trajetória de sobrevivência dessas obras é agora tema da exposição Enfrentando a Tempestade: Um Museu em Tempo de Guerra, em cartaz no Mauritshuis até 29 de junho. A mostra coincide com os 80 anos da libertação do país e apresenta novas pesquisas sobre o papel do museu durante a ocupação nazista.


Segunda Guerra

A Segunda Guerra Mundial (1939–1945) foi um conflito global marcado por ocupações brutais, perseguições sistemáticas e o saque generalizado de bens culturais, especialmente por parte do regime nazista. Com a invasão da Holanda em maio de 1940, o país passou a integrar o território ocupado pelo Terceiro Reich, que via os holandeses como parte de uma "raça irmã" germânica.

No entanto, isso não impediu a imposição de censura, deportações em massa de judeus e a pilhagem de obras de arte. Museus, coleções particulares e patrimônios históricos tornaram-se alvos do aparato nazista, que buscava enriquecer o acervo do regime e apagar identidades culturais consideradas inferiores. 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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