Afrotando a ditadura: Gilberto Gil revela os bastidores da criação de 'Cálice'

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Durante sua última turnê, Tempo Rei, que estreou em Salvador no último sábado, 14, Gilberto Gil usou o X (antigo Twitter) nesta sexta-feira, 21, para relembrar, em detalhes, a criação de Cálice, uma de suas músicas mais icônicas, composta em parceria com Chico Buarque em 1973.
A canção, que se tornou um dos alvos da ditadura militar, nasceu a partir de um convite da gravadora Polygram para que os dois artistas compusessem e apresentassem uma música juntos no festival Phono 73.
História da música
Gil conta que o encontro com Chico aconteceu no sábado da Semana Santa, em seu apartamento na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Na véspera, inspirado pelo simbolismo da Sexta-feira da Paixão, ele compôs o refrão, baseando-se no pedido de Jesus no momento da agonia: “Pai, afasta de mim este cálice”.
Ele também escreveu a primeira estrofe lembrando-se do Fernet, um licor amargo italiano apreciado por Chico, que sempre o oferecia ao amigo quando se encontravam.
No sábado, ao apresentar a ideia a Chico, ele percebeu de imediato a ambiguidade da palavra “cálice”, que, cantada, soava como “cale-se”, e associou a música à censura imposta pelo regime militar. A dupla, então, trabalhou na musicalização da estrofe e se encontrou outras vezes para finalizar a composição, incorporando o tema do silêncio e da repressão.
Quando finalmente subiram ao palco para apresentar Cálice no Phono 73, os microfones foram cortados logo no início da performance. Gil acredita que a música havia sido previamente vetada pela censura e que receberam a recomendação de não tocá-la.
No entanto, decidiram desobedecer e levaram a canção ao público, marcando um dos momentos mais emblemáticos da resistência artística contra a ditadura no Brasil.


