'Ainda Estou Aqui': A cena que foi cortada a pedido do filho de Rubens Paiva

Aventuras Na História






Dirigido por Walter Salles, Ainda Estou Aqui se tornou aclamado internacionalmente e até mesmo rendeu à Fernanda Torres o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz em Filme de Drama. O longa também é contado para concorrer ao Oscar.
O longa conta a história de Eunice Paiva (Fernanda Torres), que enfrentou a violência dos Anos de Chumbo durante a ditadura militar; principalmente lutando por Justiça após seu marido, o deputado cassado Rubens Paiva (Selton Mello), desaparecer após ser preso pelos órgãos de repressão na ditadura militar.
Ainda Estou Aqui é uma adaptação do livro de memórias homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, publicado em 2015 pela Alfaguara. Ao longo de 296 páginas, Marcelo relembra as dificuldades de sua mãe para cuidar sozinha dele e de suas quatro irmãs e também da luta da matriarca contra o Alzheimer.
Como mostrado em matéria publicada pela equipe do Aventuras, o filme se mantém fiel à realidade dos fatos ao longo das suas mais de duas horas — embora Salles tome algumas liberdades poéticas na adaptação. Ainda assim, Ainda Estou Aqui deixou de fora alguns trechos do livro; conheça-os!
A tortura de Rubens Paiva
Embora seja uma retratação à realidade da Família Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui deixou de fora algumas passagens do livro e, em outras cenas, outras delas ficaram apenas subentendidas.
No livro, por exemplo, recorda matéria do NaTelinha, do UOL, Marcelo Rubens Paiva conta como foi o exílio de seu pai após o Golpe de 1964 e também dá detalhes da tortura sofrida pelo patriarca, na sede do DOI-Codi.
Vale ressaltar que o corpo de Rubens Paiva jamais foi encontrado e sua família só obteve sua certidão de óbito duas décadas e meia depois, em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que havia sancionado a Lei dos Desaparecidos.

Nos seus registos, Marcelo revela que seu pai chegou a ser torturado ao som da música "Jesus Cristo", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, lançada em 1970. O autor aponta que sua irmã Eliana, que foi presa junto de Eunice dias após Rubens Paiva, recorda de ouvir a canção tocando no período em que ela foi mantida na sede do DOI-Codi.
Embora detalhes da tortura sofrida por Rubens Paiva não sejam mostradas no filme, elas são resgatadas no livro por meio de uma entrevista do médico Amílcar Lobo à Veja, em 1986.
Lobo era responsável por fiscalizar o quanto os presos ainda 'aguentavam' ser torturados. Em seus relatos, ele aponta ter visto Rubens "com hemorragias internas, numa poça de sangue, repetindo o nome".
Segundo seus depoimentos e também de outras testemunhas, anos depois foi estabelecido que Rubens Paiva morreu devido a um longo espancamento. Além disso, também foi revelado que em seus últimos momentos de vida, ele pedia constantemente por água e repetia seu nome: "Ruben Paiva".
Conforme a Veja, foi o próprio Marcelo Rubens Paiva que pediu para que tais cenas fossem cortadas por Walter Salles; que concordou com o pedido. Ainda assim, o diretor mostra brevemente a capa da Revista Veja de 1986 e algumas cenas rápidas da tortura praticada no DOI-Codi quando Eunice Paiva é presa.
Outros detalhes
O livro também se aprofunda em outros detalhes sobre a vida dos Paiva, como a infância e juventude de Marcelo. Um exemplo disso acontece após a prisão de seus pais, quando amigos da família decidem que ele deveria fazer uma viagem e deixar a casa que ele vivia no Leblon. Quando adulto, Marcelo voltou ao endereço que viveu durante a infância, mas o local havia se tornado um restaurante.

Outra sequência deixada de fora diz respeito ao cotidiano de Eunice Paiva enfrentando o Mal de Alzheimer, algo que só é mostrado no final do filme. Na obra, porém, Marcelo Rubens Paiva dedica os capítulos finais para contar como foi a evolução da doença na vida de sua mãe, falecida em 2018, aos 89 anos.


