Andy Warhol: As curiosas cápsulas do tempo deixadas pelo expoente da pop art

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Expoente da Pop Art, Andy Warhol dispensa apresentações. Responsável por transformar as latas de sopa Campbell's em arte, o norte-americano também trouxe todas suas nuances de artista gráficos para obras marcantes de grandes personalidades, como Marilyn Monroe e Elvis Presley.
O legado e a arte de Warhol acabam de desembarcar em São Paulo com a exposição "Andy Warhol: Pop Art!", que desde o último dia 1º ocupa dois mil metros quadrados no Museu de Arte Brasileira.
Mas a excentricidade do artista vai muito além do que será visto em terras paulistanas. Andy também foi responsável por colecionar uma infinidade de itens cotidianos, que muitos poderiam tratar como apenas lixo, mas que ele transformou em 610 cápsulas do tempo.
As cápsulas do tempo de Warhol
Há mais de 50 anos, Andy Warhol começava a guardar mais de 300.000 de seus pertences do dia a dia em caixas de papelão lacradas. As últimas delas só foram abertas em meados de 2014, em evento realizado no Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, na Pensilvânia.
Numa noite abafada de verão, o The Warhol, como o local também é conhecido, praticamente parou a cidade e deu holofotes mais uma vez para o mestre de múltiplas artes de Marilyn Monroes, Elvis Presleys e das latas de sopa em cores berrantes. A expectativa tomava conta do local.
O museu estava lotado de fãs, fiéis e visitantes casuais. Todos queriam ter o privilégio de ver o interior da caixa de papelão sem graça que ficava, sozinha, sobre uma mesa no palco. Tratava-se da TC 528, como indicava uma etiqueta rabiscada à mão.
A caixa era o penúltimo volume dos 610 pacotes misteriosos que Andy Warhol selou ao longo dos seus últimos 13 anos de vida. Conforme recorda a BBC, elas continham centenas de milhares de objetos, ou artefatos, como os curadores classificaram. Uma verdadeira ‘Obra de Arte’, na visão de Warhol.
As Cápsulas do Tempo de Warhol incluem todo o tipo de coisa: panfletos de galerias, correspondências indesejadas, cartas de fãs, cartões-convite, cartas fechadas, solicitações de trabalho, LPs de brinde, um pedaço de concreto, montagens pornográficas excêntricas de amigos, milhares de selos postais usados que o artista arrancou de envelopes, pacotes de doces e — inevitavelmente — latas de sopa Campbell fechadas.
Sua coleção de objetos que muitos poderiam considerar apenas lixo acumulado também incluíam objetos excêntricos e um tanto quanto nojentos: como pedaços de unhas dos pés, formigas mortas, preservativos usados e até mesmo um pé mumificado, aponta a BBB.
Outros lotes, porém, continham itens valiosos. Um exemplo disso eram as tiras de cabine fotográfica que Warhol tirou para criar seus famosos retratos e algumas peças originais concluídas por ele que, por alguma razão, ele decidiu não expor.
"É uma seleção", diz Benjamin Liu, que foi assistente pessoal de Warhol, ao veículo britânico. "Todas as vezes que eu o ajudava a embalar e lacrar, ele não jogava as coisas lá dentro. Era tipo: 'isso aqui, isso ali'".
"A Cápsula do Tempo também é uma fonte de material para muitos dos seus trabalhos. Mesmo os itens pessoais que as pessoas lhe enviavam, ele podia olhar e pensar: 'Talvez seja isso ou aquilo'".
Na noite de abertura da TC 528, o público observou atentamente enquanto os primeiros objetos eram tirados da caixa e mostrados a todos pela primeira vez. Com as mãos enluvadas de látex azul, como se estivessem manuseando uma tumba egípcia, a catalogadora-chefe Erin Byrne ouviu sinais de euforia quando mostrou uma pilha de papel de presente de Natal; um cartão de felicitações de Mick Jagger e Jerry Hall; e, para a surpresa de muitos, uma fivela de cinto metálica enviada por Liu — muito antes dele se tornar próximo de Andy.
"Há um elemento surrealista em Warhol. Esses objetos estranhos e díspares, juntos, têm uma espécie de poesia curiosa", diz o historiador de arte britânico Tim Marlow. "Mas ele é um arquivista e um colecionador, alguém que entende de 'produto' e é fascinado por ele, e estas são montagens disso. E também são naturezas-mortas."
O fascínio de Andy Warhol por imagens e produtos produzidos em massa remete à década de 1950, quando começou a ganhar a vida como artista gráfico comercial — onde passou a enxergar com outros olhos a publicidade, as embalagens e os objetos extraídos da superfície da vida cotidiana.
Acho que, com Warhol, de modo geral, a piada é sobre nós", diz Marlow. "A piada é sobre a nossa cultura, mas somos cúmplices disso. Não estamos sendo motivo de riso — nós nos juntamos ao riso."
Mas, acima de tudo, o historiador aponta que as Cápsulas do Tempo de Andy Warhol são essencialmente sobre a morte. "Ele disse: 'Tudo o que eu faço tem a ver com a morte', e acho que os retratos 'celebratórios' (de Marilyn, Elvis etc.) lidam com a morte, assim como as Cápsulas do Tempo."
Atualmente, os conteúdos das Cápsulas do Tempo estão guardadas no North Shorte Historical Museum, representando uma simplicidade e banalidade da vida. Uma visão quase poética do cotidiano retratado por Warhol.
Cápsulas do tempo de Warhol
Durante os últimos 13 anos de suas vida, Andy Warhol separou 610 cápsulas do tempo após guardar mais de 300.000 de seus pertences do dia a dia em caixas de papelão lacradas. Uma das últimas delas, a TC 528, foi aberta em meados de 2014.


