'Congonhas: Tragédia Anunciada': Os momentos de angústia revelados pela caixa-preta
Aventuras Na História
Nesta quarta-feira, 23, estreou na Netflix o documentário 'Congonhas: Tragédia Anunciada', que relembra o acidente envolvendo o voo TAM 3054, em 17 de junho de 2007, que vitimou 199 pessoas; sendo considerado o maior acidente aéreo brasileiro e da América Latina.
Na ocasião, o Airbus A320-233, que deixou o Aeroporto Internacional de Porto Alegre, deveria pousar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Mas uma falha durante o processo fez com que a aeronave não freasse corretamente, ultrapassasse a pista e só parasse após colidir contra um prédio da própria companhia aérea e um posto de gasolina na Avenida Washington Luís — o que provocou uma explosão.
[O acidente de Congonhas] é uma cicatriz permanente para todos os familiares — e cada um lida de sua forma", diz o diretor do documentário, Angelo Defanti, em entrevista exclusiva à equipe do Aventuras.
Dentro da aeronave estavam 187 pessoas (181 passageiros e seis tripulantes) que morreram todas no acidente. Além delas, outras doze pessoas em solo também foram vítimas fatais da tragédia.
Detalhes dos momentos finais do avião foram revelados através da transcrição feita da caixa-preta da aeronave. Entenda!
Momentos finais
Conforme recorda o documentário da Netflix, um fato que chama a atenção no acidente do voo TAM 3054 é o fato da companhia aérea ter colocado dois pilotos na cabine do avião — e não um piloto e um co-piloto, como de costume — devido à falta de profissionais contratados pela companhia. Assim, foram escalados para o voo os comandantes Kleyber Lima e Henrique Stephanini, que atuaram como piloto e co-piloto, respectivamente.
Os registros feitos pela caixa-preta da aeronave regataram os últimos 12 minutos dentro da aeronave, começando quando a comissária de voo abre a porta e pergunta: "Passageiro me pergunta onde vai pousar".
Eu acabei de informar", diz Kleyber. "Desculpe, eu não ouvi ela dizendo", responde a comissária. "Mas ela ouviu, Congonhas".
O questionamento se deu pelo fato da chuva que caiu em São Paulo naquele dia, o que fez, inclusive, com que pousos em Congonhas fossem suspensos e a pista fosse fechada temporariamente.
Caso as condições permanecessem as mesmas, a rota poderia ser alterada para o pouso acontecer no Aeroporto de Guarulhos — mas isso não se confirmou.
A transcrição da caixa-preta também registrou a conversa dos pilotos sobre a falta de um reverso da aeronave — aparelho que reverte o fluxo de ar na turbina e ajuda a aeronave a freirar. "Lembre-se, nós temos apenas um reverso", alerta Lima. "Sim, só o da esquerda", consente Stephanini.
Por volta das 18h46, ou seja, cerca de 7 minutos antes do acidente, os pilotos se conversam: "Preparar para o pouso", diz Kleyber; "preparar para o pouso", o outro confirma.
Tripulação, preparar para o pouso", avisa o co-piloto no sistema de som do avião
Logo em seguida, eles mostram preocupação sobre as condições da pista de Congonhas — que havia passado recentemente por uma reforma, mas que não foi totalmente concluída: faltaram os groovings, nome dado às ranhuras feitas na pista para escoamento da água.
"Pergunte a ela [torre] se tá chovendo em São Paulo", pede o piloto. "O controle poderia informar ao 3054 da TAM se chove em Congonhas", questiona Henrique Stephanini à torre de comando.
"Pista molhada e escorregadia", confirma a torre. Logo em seguida, Kleyber repete a confirmação, demonstrando alerta sobre as condições do solo: "Molhada e escorregadia".
Minutos depois, a aeronave recebe autorização para pousar. "TAM 3054, 35 à esquerda liberada para pousar. A pista está molhada e escorregadia e o vento é 330 a 8 nós", informa a torre de comando.
Outro fator crucial resgatado em 'Congonhas: Tragédia Anunciada' é que, devido à falta de ranhuras na pista, o acumulo de água fazia com que as poças de água criassem um reflexo das luzes da cidade — o que poderia atrapalhar o piloto a ter referência sobre o local de pouso. Mesmo assim, o voo segue seu curso natural para pouso.
A caixa-preta registra o som do toque da aeronave na pista, que foi feito de maneira correta, mas ao invés dos pilotos baixarem os dois manetes da aeronave, para acionarem o reverso, apenas um deles foi colocado na posição necessária — enquanto o outro continuou acelerando (na posição de climb). "Reverso número 1 apenas", aponta Stephanini.
O diálogo dos pilotos também aponta que os spoilers da aeronave — os freios aerodinâmicos em cima das asas do avião — não funcionaram. "Spoiler nada", alerta o co-piloto.
Desacelera, desacelera", grita Stephanini. "Não consigo, não consigo. Ai meu Deus", diz o piloto. "VAI! VAI! VIRA! VIRA!", insiste Henrique.
Nos segundos seguintes, a caixa-preta registra o som da colisão e uma voz na cabine fala: "Ah, não". Por fim, acontece uma pausa no barulho, mas logo depois surge o grito de uma voz feminina. As gravações acabam às 18:48.
