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Ginevra de' Benci: A musa renascentista imortalizada por Leonardo da Vinci
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Ginevra de' Benci: A musa renascentista imortalizada por Leonardo da Vinci

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Aventuras Na História
10/05/2025 16h00
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Hoje considerado um dos maiores nomes da história da arte, Leonardo da Vinci foi um cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico nascido na atual Itália, e notavelmente uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento.

Obviamente que, tamanha sua notoriedade no mundo da arte, museus e colecionadores têm como grande sonho a posse de alguma obra — qualquer uma — que possa lhe dar o direito de dizer "eu tenho um da Vinci". Ainda assim, não são muitos lugares que podem dizer isso — e, em todas as Américas, somente a Galeria Nacional de Arte, em Washington, nos Estados Unidos, pode se vangloriar por uma pintura de da Vinci em exposição permanente.

Ginevra de' Benci em exposição da Galeria Nacional de Arte, em Washington, nos EUA / Crédito: Getty Images

Essa pintura em questão é o retrato de Ginevra de' Benci. Ele foi criado com tintas a óleo sobre um painel plano de madeira entre 1474 e 1478, quando da Vinci tinha apenas cerca de 20 anos, antes de se tornar amplamente reconhecido como pintor da 'Mona Lisa'.

E assim como várias outras criações de da Vinci, 'Ginevra de' Benci' está envolta em mistério. Segundo relata a curadora de pinturas italianas e espanholas da Galeria Nacional, Eve Straussman-Pflanzer, os visitantes reagem com grande admiração e fascínio à obra, sempre fazendo perguntas e querendo entender, por exemplo, o que diz uma mensagem em latim no verso e o motivo de ela ter dois lados — o painel de madeira é pintado frente e verso.

Criação da pintura

Conforme repercute a Smithsonian Magazine, 'Ginevra de' Benci' não foi meramente um objeto de estudo e trabalho de pintura de da Vinci. Ela também foi uma beldade celebrada por muitas pessoas durante o Renascimento italiano, tornando-se uma poetisa famosa e sempre lembrada por sua beleza e intelecto.

Uma das teorias mais conhecidas sobre a criação da pintura sugere que ela foi encomendada por sua família — que era rica e influente na região — para marcar seu noivado com o comerciante Luigi Niccolini.

Isso é sugerido pelo posicionamento da moça no retrato: na Florença do século 15, ricos recém-casados eram tipicamente representados com o noivo à esquerda, e voltado para a direita, enquanto a mulher à direita, voltada para a esquerda. No caso de Ginevra, ela foi representada voltada para a direita, o que sugere que ela provavelmente ainda não era casada, mas sim prometida em casamento — ela se casou em 1474, aos 16 anos.

Outra teoria sugere que a obra foi, na verdade, encomendada pelo estadista italianoBernardo Bembo. Ele era um conhecido da família de Ginevra, que também foi serviu como interesse amoroso platônico da poetisa — e ele, cavalheirescamente, atendia às suas necessidades emocionais em trocas de cartas, mas mantendo uma distância física respeitável dela, por ser casada.

O que sugere o patrocínio de Bembo na obra é a presença oculta de seu lema. Na década de 1990, um estudo com reflectograma infravermelho revelou o verso "Virtude e Honra" em latim, sendo este o credo pessoal da família de Bembo, em um pergaminho no verso do painel. Porém, estas palavras posteriormente foram encobertas, e substituído pelo lema latino que referencia a própria Ginevra: "A beleza adorna a virtude".

'Ginevra de' Benci', de Leonardo da Vinci / Crédito: Domínio Público

Vale acrescentar ainda que a semelhança entre os dois lemas, bem como sua proximidade na tela, reforçam a ideia da intimidade emocional entre Ginevra e Bembo. Porém, a existência destas duas teorias é o que ainda preserva dúvidas sobre a data da criação.

Conforme argumenta a historiadora da arte Mary D. Garrard em um artigo publicado em 2006 na revista Artibus et Historiae, se a obra foi pintada para marcar o noivado ou casamento de Ginevra, ele provavelmente foi criado em 1474, quando ela se casou com Niccolini. Porém, se a obra é uma encomenda de Bembo, provavelmente é do final da década de 1470, quando serviu como embaixador de Veneza em Florença, e teve Ginevra "como objeto de seu amor cavalheiresco".

Posteriormente, outras análises da obra a compararam estilisticamente a outros trabalhos de da Vinci da década de 1470, e hoje se considera que 'Ginevra de' Benci' foi pintada entre 1473 e 1475, e em mais de uma etapa. Originalmente, ela teria a inscrição "Virtude e Honra", mas o que Garrard sugere é que Bembo, após ver o retrato, decidiu por substituir o verso pelo lema de Ginevra "para consolidar sua união fictícia".

Porém, alternativamente, também há suposições de que o retrato foi criado em duas etapas: a frente seria uma celebração do casamento de Ginevra, enquanto o verso seria a devoção de Bembo. "Já tendo sido entregue, a pintura teria sido recuperada e atualizada depois que as circunstâncias de sua vida mudaram, uma prática comum no Renascimento", descreve catálogo de exposição da Galeria Nacional.

Expressão séria

Enquanto a obra mais famosa de Leonardo da Vinci, a 'Mona Lisa' — produzida entre 1503 e 1519 —, ficou eternizada com seu sorriso caloroso e terno, o retrato de Ginevra não esboça nenhum sorriso. Pelo contrário, ela parece absorta e em profunda reflexão, sem interesse em aproximação, sugerindo assim uma personalidade mais sombria e pensativa.

Porém, durante o Renascimento, "não era considerado apropriado que mulheres, ou homens, da classe social alta da qual ela veio fossem retratados sorrindo", explica Straussman-Pflanzer. "Isso era visto como algo realmente grosseiro", e por isso, na verdade, a 'Mona Lisa' foi uma exceção.

Retrato de Leonardo da Vinci e a 'Mona Lisa' / Crédito: Getty Images / Domínio Público

Embora preservasse esse detalhe estilístico da época, o retrato de Ginevra foi inovador em outros aspectos. Isso porque esse foi um dos primeiros retratos femininos do Renascimento com três quartos de comprimento — ou seja, mostrando a cabeça e os ombros da modelo, sem suas mãos e seu tórax —, além de também ser retratada em um ambiente externo, e não confinada entre as paredes de sua casa.

Vale pontuar que alguns estudiosos acreditam que o retrato foi cortado em algum momento, possivelmente após sofrer danos, mas não há qualquer confirmação disso.

Ginevra de' Benci

Filha de Giovanni Benci, um banqueiro rico, Ginevra era considerada uma jovem notavelmente atraente para os padrões de sua época. Caso a obra de da Vinci esteja adequada, ostentava cachos bronzeados e suaves, uma pele impecável, um pescoço elegante e porte nobre. Porém, ela também recebeu muitos elogios ao longo de sua vida para além da beleza física.

Isso porque ela foi criada sob uma forte educação humanista sofisticada, em acordo com o próprio Renascimento, que passou a oferecer novas oportunidades para que mulheres se expressassem e participassem da sociedade.

E por isso, além de Bembo, ela ainda tinha outros admiradores eruditos que a consideravam fascinante, como o governador de Florença, Lorenzo de' Medici, o escritor e diplomata Alessandro Braccesi e o poeta e crítico Cristoforo Landino, com quem também trocava cartas.

Vale destacar que, na Itália do século 15, não era um gesto de infidelidade uma mulher casada trocar cartas afetuosas com homens conhecidos. Na verdade, isso não era incomum, devido à tradição do amor cortês como forma de satisfazer os desejos emocionais de pessoas envolvidas em casamentos arranjados, muitas vezes coordenados em prol de ganho financeiro ou vantagem sociopolítica.

E registros históricos também apontam que ela era uma poetisa extremamente talentosa; mas, infelizmente, não há nenhuma de suas poesias conhecida hoje, que tenha sobrevivido ao tempo. O único registro que ela escreveu conhecido é o verso "peço seu perdão e sou um tigre da montanha".

Dessa forma, conforme afirma Garrard, há "poucas evidências sobreviventes da identidade de Ginevra além daquela inventada para ela por Bembo e seus amigos". Os registros também apontam que ela nunca teve filhos, possivelmente por escolha própria, e também desfrutou de um "relacionamento duradouro" com um convento beneditino antes de seu casamento — convento este para onde ela pode ter se retirado, após vários anos de casamento.

Por fim, Ginevra morreu por volta do ano 1520 — ou seja, um ano depois de Leonardo da Vinci —, com pouco mais de 60 anos, e foi sepultada no convento Le Murate, onde pode ter passado seus últimos anos. Porém, mesmo com todo o mistério em torno de si, fato é que da Vinci a manteve viva, de alguma forma, para sempre através de sua arte.


Ginevra de' Benci

Ginevra de' Benci foi uma famosa poetisa do Renascimento Italiano, conhecida amplamente não só por sua arte e intelecto, como também por sua beleza. Ela foi eternizada em um retrato pelas mãos de Leonardo da Vinci, que é peça de exposição permanente na Galeria Nacional de Arte dos Estados Unidos, em Washington.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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