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'Mosca na sopa': como música de Raul Seixas passou pela censura dos militares?
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'Mosca na sopa': como música de Raul Seixas passou pela censura dos militares?

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Aventuras Na História
29/06/2025 15h00
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Neste sábado, 28, um dos maiores ícones musicais que o Brasil já teve completaria 80 anos: Raul Seixas. Nascido em Salvador, na Bahia, ele é considerado um dos pioneiros do rock brasileiro, ficando também conhecido como "Maluco Beleza", mesmo em um dos períodos mais turbulentos de nossa história, a ditadura militar.

E próximo a essa data tão simbólica, também estreou nesta quinta-feira, 26, a nova série 'Raul Seixas: Eu Sou', original do Globoplay. Dividida em oito episódios, ela conta com Ravel Andrade no papel do eterno "Maluco Beleza", e mergulha na vida pessoal e carreira do artista, desde a infância em Salvador, na Bahia, na década de 1950, até os últimos shows, antes de sua morte em 21 de agosto de 1989 devido a uma parada cardíaca por pancreatite.

Criada por Paulo Morelli e produzida pela O2 Filmes, a série também apresenta as influências culturais, políticas e espirituais que moldaram Raul Seixas, seu fascínio pela literatura e pela astronomia, o impacto de Elvis Presley em sua vida, o auge de sua carreira na década de 1970, explorando o homem por trás do mito que revolucionou a música nacional.

Entre suas músicas mais famosas, estão 'Metamorfose Ambulante', 'Tente Outra Vez', 'Gita', 'Maluco beleza', 'Ouro de Tolo' e, claro, a icônica 'Mosca na sopa'. Esta última — parte do primeiro álbum solo de Raul Seixas, 'Krig-ha, bandolo!', de 1973 —, segundo algumas leituras, teria a sopa como representação da própria ditadura, enquanto a mosca seria o autor — um incômodo permanente sobre o sistema.

Vale mencionar que 'Krig-ha, bandolo!' já trouxe alguns sucessos da carreira de Raul, como 'Metamorfose Ambulante', 'Al Capone' e 'Ouro de Tolo'. Já 'Mosca na sopa', além da crítica sutil à ditadura, também chama atenção ao trazer referências à umbanda em seu arranjo.

Dessa forma, espera-se que ela seria censurada pela Divisão de Censura de Diversões Públicas em seu lançamento. Mas, em vez disso, ela é um exemplo claro de como a censura poderia ser burlada, desde que os artistas fossem articulados o suficiente.

Estupidez e mau gosto

No documento com o registro da censura liberando 'Mosca na sopa', assinado pelos técnicos censores Joel Ferraz e Jacira França, os responsáveis por decidir ressaltaram que a faixa poderia ser liberada, mesmo com sua mensagem "inexistente" e a "estupidez e o mau gosto" que possuía.

Na interpretação dos autores do documento sobre a letra, eles escreveram apenas que ela é sobre "as inconveniências de uma mosca", e classificam que a "mensagem" é "inexistente".

Além disso, eles preenchem que em "personagens" temos "o autor e a mosca", e em "boa qualidade", responderam que "não". Na conclusão, avaliaram: "Em que pese a estupidez e o mau gosto, somos pela liberação, já que não atinamos a comprometimentos outros".

Raul Seixas durante entrevista / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube/Katlheen Skeet

Problemas com o álbum

Embora 'Mosca na sopa' tenha passado pela censura, o álbum ainda gerou alguns problemas para Raul e seu parceiro de composições, Paulo Coelho. No ano seguinte ao lançamento, eles foram levados ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para explicar o título 'Krig-ha, bandolo!', que poderia ser uma mensagem revolucionária cifrada.

A dupla então explicou que a expressão era apenas o grito de guerra de Tarzan, o famoso personagem criado na selva, nos quadrinhos. No entanto, como a tradução para o grito nos quadrinhos era "cuidado, lá vem o inimigo!", a censura se questionou se o "inimigo" a que o título do álbum se referia não poderia ser o governo.

Segundo O Globo, os parceiros foram levados ao Dops no dia 27 de maio de 1974, e Raul Seixas foi liberado apenas 30 minutos após o depoimento. Paulo Coelho, no entanto, passou três horas em uma cela do local.

Paulo Coelho em 2016 / Crédito: Getty Images

Após isso, a namorada de Paulo Coelho na época, a estudante de arquitetura Adalgisa Eliana Rios de Magalhães — autora dos desenhos que ilustravam um quadrinho escrito por Coelho, encartado do disco — também foi presa, e o casal foi fichado na madrugada de 28 de agosto daquele ano.

O motivo para a prisão está no fato de que o quadrinho continha uma citação à Sociedade Alternativa, tirada de inspiração da obra do ocultista britânico Aleister Crowley. E eles foram detidos justamente para responder sobre a "criação da Sociedade Alternativa, marcadamente influenciada pela contracultura".

O casal foi então solto ainda no dia 28, mas logo depois foram sequestrados por um comando do DOI-Codi, e levados ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. O escritor foi mandado para a "geladeira", onde foi torturado a baixas temperaturas, e eles só foram liberados meses depois, em 31 de agosto.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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