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Muito além de Breaking Bad: Quem foi o verdadeiro Heisenberg?
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Muito além de Breaking Bad: Quem foi o verdadeiro Heisenberg?

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Aventuras Na História
24/05/2025 17h00
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©Divulgação; Getty Images
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Durante cinco temporadas, a série Breaking Bad narra a transformação radical de Walter White (Bryan Cranston), de um professor de química frustrado e doente terminal a um dos maiores traficantes de metanfetamina do Novo México, nos Estados Unidos.

À medida que mergulha no submundo do crime, Walter abandona não apenas sua moralidade, mas também sua antiga identidade. Essa guinada é marcada pela adoção do codinome Heisenberg, em referência ao físico alemão Werner Heisenberg, pioneiro da mecânica quântica e autor do célebre Princípio da Incerteza.

A escolha não é aleatória. Como cientista, Walter certamente conhecia o legado do físico. Assim como o Princípio da Incerteza afirma que não é possível conhecer com precisão a posição e a velocidade de uma partícula ao mesmo tempo, o personagem também se torna uma figura ambígua, difícil de localizar moralmente.

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Walter White (Bryan Cranston) em Breaking Bad / Crédito: Divulgação

O verdadeiro Heisenberg

Werner Karl Heisenberg foi um dos físicos mais influentes do século 20 e, ao mesmo tempo, uma das figuras mais controversas da ciência moderna. Nascido na Alemanha em 1901, ele desenvolveu sua carreira no contexto efervescente da física teórica do início do século, em meio a nomes como Niels Bohr, Max Planck, Albert Einstein e Ernest Rutherford

Em 1924, Heisenberg aceitou o convite de Bohr para trabalhar com ele no Instituto de Física Teórica em Copenhague. Essa parceria foi decisiva: Bohr se tornaria não apenas seu mentor, mas também uma espécie de figura paterna.

O jovem alemão era recebido com familiaridade na casa do físico dinamarquês e, juntos, eles estabeleceram uma das colaborações mais frutíferas da história da ciência. Foi nesse período que Heisenberg mergulhou no mundo quântico.

Em 1927, publicou seu “Princípio da Incerteza”, uma descoberta revolucionária segundo a qual não é possível conhecer simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula subatômica com total precisão. Essa ideia desafiava os fundamentos da física clássica e lançava o universo subatômico em um terreno governado por probabilidades, não certezas.

Bohr, por sua vez, complementaria essa teoria com o seu “princípio da complementaridade”, defendendo que ordem e caos, previsibilidade e incerteza, poderiam coexistir como aspectos diferentes da mesma realidade. O impacto dessas ideias foi profundo. Segundo a BBC, o físico americano John Wheeler chegou a considerar esse o conceito científico "mais revolucionário do século".

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Niels Bohr / Crédito: Getty Images

No entanto, nem todos estavam convencidos. Einstein, Schrödinger e até mesmo Planck expressaram reservas quanto à nova física quântica. Einstein chegou a ironizar: “Deus não joga dados”, ao que Bohr teria respondido: “Einstein, pare de dizer a Deus o que fazer”.

Regime nazista

A década de 1930 marcou uma guinada dramática. Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, o regime nazista passou a perseguir cientistas judeus e a deslegitimar a física moderna como “ciência judaica”. Heisenberg, por seu envolvimento com as ideias de Bohr e Einstein, foi atacado por setores nazistas, sendo chamado de “judeu branco”.

No entanto, ele não se exilou, nem rompeu abertamente com o regime. Patriota convicto, acreditava que poderia continuar servindo à Alemanha sem compactuar com os abusos do regime. Recusou-se a deixar o país mesmo diante de apelos internacionais e continuou lecionando e pesquisando em território nazista.

Em dezembro de 1938, a descoberta da fissão nuclear por Otto Hahn e sua posterior interpretação por Lise Meitner abriu caminho para a possibilidade real de construir uma bomba atômica. Bohr levou essa notícia aos Estados Unidos, e em janeiro de 1939, durante uma conferência em Washington, a era atômica foi oficialmente inaugurada.

Com a eclosão da Segunda Guerra, os nazistas viram na física teórica, antes desprezada, um instrumento estratégico. Em abril daquele ano, foi criado o “Uranverein” (Clube do Urânio), com o objetivo de desenvolver uma arma baseada na fissão. Heisenberg foi colocado como o principal teórico do projeto nuclear alemão, informou a BBC.

Em setembro de 1941, no auge do domínio militar da Alemanha nazista na Europa, Heisenberg realizou uma misteriosa visita a Bohr, em Copenhague, então sob ocupação alemã. O encontro, que poderia ter sido cordial entre velhos colegas, terminou de forma abrupta. O dinamarquês ficou visivelmente abalado e nunca mais voltou a confiar no antigo amigo. O que foi dito naquela conversa permanece envolto em especulação.

Heisenberg
Werner Heisenberg / Crédito: Getty Images

Conversa misteriosa

Durante anos, a versão mais conhecida era a apresentada em uma carta de Heisenberg ao autor Robert Jungk, posteriormente incorporada ao livro "Mais brilhante que mil sóis". Segundo ele, sua intenção era discutir com Bohr a possibilidade de ambos os lados da guerra evitarem a construção da bomba atômica, alegando dificuldades técnicas e econômicas.

Ele afirmava querer formar uma frente comum entre os físicos para dissuadir os governos de prosseguir com o desenvolvimento da arma. Para muitos, essa seria uma tentativa de salvar a humanidade de uma catástrofe.

Bohr, no entanto, contestou essa versão. Em cartas nunca enviadas e só reveladas em 2002 por sua família, ele relatou ter percebido a visita de Heisenberg como uma tentativa de envolvê-lo no projeto nuclear nazista. Segundon o físico dinamarquês, seu antigo aluno teria se mostrado confiante na vitória alemã e insinuado que a bomba era uma possibilidade real.

A partir daí, a imagem dele passou a oscilar entre a de herói sabotador do projeto nazista e a de vilão colaboracionista. O próprio Heisenberg alimentou a ambiguidade, nunca afirmando categoricamente que teria dificultado os avanços da Alemanha de forma deliberada — nem assumindo total alinhamento com o regime.

Ao final da guerra, o fato é que os alemães não conseguiram construir a bomba. Isso se deveu a limitações técnicas, à escassez de recursos e, possivelmente, à condução hesitante do projeto — da qual ele era uma das principais lideranças. Mas resta a dúvida: ele não construiu a bomba porque não quis, ou porque não soube como?

Heisenberg morreu em 1976. Ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1932, sua trajetória segue marcada por contribuições decisivas à ciência e por decisões éticas difíceis de avaliar.

Foi, ao mesmo tempo, um gênio teórico, um sobrevivente do regime nazista e uma figura ambígua no cenário da Segunda Guerra. Justamente por isso, seu nome se encaixa com perfeição na persona criada por Breaking Bad, onde a fronteira entre ciência, poder e moralidade é constantemente dissolvida.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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