O verdadeiro tubarão assassino que inspirou o clássico Tubarão, de Steven Spielberg

Aventuras Na História






Em 1975, chegou aos cinemas dos Estados Unidos um filme que mudaria para sempre o cinema, e o medo de praias. Dirigido por Steven Spielberg — mesma lenda responsável por 'Jurassic Park' e 'A Lista de Schindler' —, 'Tubarão' foi um pioneiro no subgênero de filmes de terror com grandes animais predadores como assassinos implacáveis.
"Um terrível ataque a banhistas é o sinal de que a praia da pequena cidade de Amity, na Nova Inglaterra, virou refeitório de um gigantesco tubarão-branco. O chefe de polícia Martin Brody quer fechar as praias, mas o prefeito Larry Vaughn não permite, com medo de que o faturamento com a receita dos turistas deixe a cidade sem recursos. O cientista Matt Hooper e o pescador Quint se oferecem para ajudar Brody a capturar e matar a fera, mas a missão vai ser mais complicada do que eles imaginavam", descreve a sinopse do longa.
Na época de seu lançamento, o filme foi um enorme sucesso comercial, tendo inclusive sido indicado em quatro categorias do Oscar, vencendo em três delas — melhor som, melhor edição e melhor trilha sonora, perdendo em melhor filme para 'Um Estranho no Ninho'. Mas, mais que tudo, semeou um novo trauma naqueles que assistiram, muitos dos quais passaram a ter grande medo de nadar em águas abertas.
O que nem todos sabem é que o filme foi baseado no romance homônimo de 1974, escrito pelo autor americano Peter Benchley. E o livro, por sua vez, possui várias referências e paralelos com uma série de ataques de tubarão que perturbaram os moradores da costa de Nova Jersey, nos Estados Unidos, em 1916.
Ataques de 1916
No verão de 1916, conforme repercute o Daily Mail, cinco nadadores foram atacados em um período de apenas duas semanas na costa de Nova Jersey, na costa leste dos Estados Unidos, banhada pelo Atlântico. Deles, quatro morreram e o quinto ficou gravemente ferido — mas o mero registro dos ataques provocou grande histeria nacional.
Essa história possui uma série de paralelos com o filme 'Tubarão'. Por exemplo, da mesma forma como o longa apresenta, recompensas foram oferecidas a caçadores de tubarões que conseguissem capturar aquele predador de homens que sondava a região.
Nessa caçada, dinamite foi lançada na água, e redes de aço protetoras foram colocadas no mar em algumas praias, para tentar manter os tubarões afastados. Porém, mesmo com o cenário preocupante, ainda houve prefeitos e autoridades que se recusaram a fechar as praias, temendo que isso prejudicasse a reputação e o turismo das cidades.
O primeiro ataque aconteceu no dia 1º de julho de 1916, em Beach Haven, Long Island, na costa sul de Nova Jersey. Nessa ocasião, o tubarão — que ficou conhecido como "Jersey Man Eater" — atacou o jovem Charles Vansant, de 23 anos, que passava férias na região com sua família, e foi dar um mergulho rápido enquanto seu cachorro brincava na praia.
Porém, logo após entrar na água, o rapaz começou a gritar. Espectadores pensaram que ele estava apenas chamando seu cachorro, mas posteriormente isso se mostrou uma tragédia: o tubarão havia devorado sua coxa esquerda e, mesmo após ser resgatado da água por um salva-vidas, ele sangrou até a morte.

Em vez de fechar as praias, o incidente acabou sendo escondido pela indústria do turismo, que temia que a divulgação da notícia afastaria os visitantes naquele verão. E isso culminou em, dias depois, 6 de julho, o capitão sino suíço Charles Bruder, de 27 anos, sendo atacado.
Nesse dia, Bruder estava nadando a cerca de 130 metros da costa da cidade de Spring Lake, quando um tubarão mordeu seu abdômen e arrancou suas pernas. O sangue que saiu do homem deixou a água parcialmente vermelha e, quando seu corpo mutilado foi recuperado e levado à praia, a cena brutal até mesmo causou desmaios em espectadores.
Depois, em 12 de julho, três ataques foram registrados em Matawan Creek, perto da cidade de Keyport. Dessa vez, o capitão Thomas Cottrell chegou a avistar um tubarão com cerca de 2,4 metros de comprimento, e acionou um alarme. Porém, guardas florestais da cidade acabaram dispensando o alarme e, às 14h daquele dia, o predador atacou um grupo de meninos que brincava no riacho local.
Em um episódio digno de filme de terror, a barbatana dorsal do tubarão foi vista ao longe, e os meninos tentaram nadar por suas vidas. Mas isso não bastou: Lester Stillwell, de apenas 11 anos, foi puxado para debaixo d'água; e o empresário local, Watson Fisher, de 24 anos, pulou na água para tentar salvar o garoto, e também foi morto.
O único que sobreviveu ao tubarão foi Joseph Dunn, de 14 anos, que foi atacado somente 30 minutos após os ataques a Stillwell e Fisher. O predador mordeu sua perna esquerda, arrancando-lhe toda a carne, mas felizmente o garoto foi salvo a tempo por seu irmão e um amigo, após um violento "cabo de guerra".
À imprensa, Dunn disse na época que sentiu sua perna descendo pela garganta do tubarão. "Acredito que ele teria me engolido", relatou. Felizmente, ele foi levado ao hospital às pressas, e pôde se recuperar de seus ferimentos.
Caçada
Com a notícia de cinco ataques de tubarão em menos de duas semanas, os casos já vinham recebendo ampla cobertura da imprensa dos Estados Unidos, e a população era tomada por uma fascinação mórbida pelos ocorridos.
Felizmente, pouco depois, no dia 14 de julho, o taxidermista Michael Schleisser conseguiu capturar e matar um grande tubarão-branco de 2,4 metros de comprimento e 142 quilos, enquanto pescava na Baía de Raritan, perto de Matawan Creek. Após isso, os ataques cessaram completamente — e o predador foi montado na vitrine de uma loja em Manhattan, na Broadway.

Vale mencionar que o autor do livro que inspirou o filme de Spielberg, Peter Benchley, nunca reconheceu de fato a atribuição dos ataques de tubarão de 1916 como inspiração para sua obra; já Spielberg nunca o negou.
Inclusive, há uma série de paralelos e menções entre o filme e a realidade, como uma fala em que um personagem implora ao prefeito pelo fechamento das praias, com medo que a história poderia se repetir. "Vai acontecer de novo. Já aconteceu antes! A praia de Jersey! 1916! Cinco pessoas mastigaram as ondas!", diz o chefe Brody no filme, interpretado por Roy Scheider.
Além disso, no livro, o tubarão também mata quatro pessoas, como aconteceu em 1916, e o prefeito também desconsidera os ataques inicialmente por medo de que isso desencorajasse o turismo na região.
De qualquer forma, é inegável que os ataques de tubarão de Nova Jersey de 1916 foram um grande marco para a percepção moderna e equivocada de tubarões como monstros malignos e devoradores brutais de homens. E o filme de Spielberg também possui grande impacto para a disseminação desse temor sob as águas.


