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Santo Guerreiro: Eduardo Spohr mergulha na história de São Jorge para além do mito
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Santo Guerreiro: Eduardo Spohr mergulha na história de São Jorge para além do mito

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Aventuras Na História
08/06/2025 15h00
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Após encerrar a tetralogia angélica que o consagrou entre os leitores de fantasia nacional, Eduardo Spohr decidiu se lançar em um novo desafio: escrever uma ficção histórica.

Em entrevista à redação de Aventuras na História, Spohr diz que sua motivação para criar a série Santo Guerreiro — que chega agora ao seu terceiro volume: Império do Leste —  partiu do desejo de escapar de um gênero que, apesar de fascinante, já lhe era familiar demais. 

“A fantasia tem umas coisas que você pode resolver facilmente. Um personagem precisa viajar? Ele se teletransporta. Pode voar. É um lugar-comum para mim. Quis sair disso”, explica.

Ao buscar um novo cenário, Spohr encontrou no Império Romano o terreno ideal para sua empreitada. Apaixonado por história desde sempre, o autor já havia estudado o período de forma autodidata e optou por ambientar a narrativa nos últimos séculos do Império, mais especificamente durante a grande perseguição aos cristãos de 303 d.C. Foi nesse contexto que surgiu a figura central do romance: São Jorge.

“A escolha por São Jorge veio naturalmente. Eu queria trabalhar com um personagem real ou quase real, e descobri que ele era um dos mártires desse período. É uma figura envolta em misticismo, mas mais palpável do que, por exemplo, o Rei Arthur”, comenta Spohr.

Gravura de São Jorge - Getty Images

O autor se inspirou, entre outras referências, na trilogia Crônicas de Arthur, de Bernard Cornwell — obra que, segundo ele, soube resgatar um mito e inseri-lo num cenário histórico verossímil.

Enfoque na realidade

Apesar do forte componente religioso envolvido na figura do santo, Spohr acredita que sua formação cética contribuiu para dar ao livro uma abordagem mais neutra e comprometida com o contexto da época. 

Para ser uma ficção histórica, o escritor tem que ser um cético. Não se trata de evangelizar, e sim de mostrar as várias visões que coexistiam naquele tempo. Tem personagens a favor e contra o cristianismo. Esse é o retrato honesto que eu queria passar.”

Um dos objetivos centrais do autor é desmontar a imagem do São Jorge medieval — o cavaleiro de armadura brilhante enfrentando um dragão —, tão popularizada nas igrejas, arte sacra e cultura pop. 

“Essa representação foi construída principalmente durante as Cruzadas e depois reforçada pelas trovas medievais. O Jorge histórico era um capitão romano, guarda-costas do imperador, vivendo em um mundo muito diferente do imaginário cavaleiresco europeu. Quis trazer esse Jorge para o centro da narrativa”, explica.

Figura ecumênica

Spohr também reflete sobre o sincretismo religioso que cerca São Jorge, especialmente no Brasil, onde sua figura é associada ao orixá Ogum das religiões de matriz africana. Para ele, esse fenômeno não afeta diretamente a ficção histórica que construiu, já que o foco está na vida do Jorge ainda vivo, dentro de seu próprio contexto cultural e político. 

Mas também reconhece a força simbólica que essa multiplicidade representa: “No Brasil, ele é um santo fora da curva. Um guerreiro, combativo. Para uma criança, é como um action figure em meio às imagens pacíficas de outros santos.”

Brasão da cidade de Nizhyn, com a imagem de São Jorge

E essa força imagética, para o autor, é menos sobre violência e mais sobre a metáfora de enfrentar o mal ativamente — algo que ainda ressoa na fé popular. 

“A imagem dele com o dragão é sobre isso. Combater o mal. E esse simbolismo se fortaleceu nas Cruzadas, quando ele foi adotado como padroeiro por Ricardo Coração de Leão. A história que conhecemos hoje foi consolidada no século 13, com a Lenda Dourada, escrita por um bispo de Gênova.”

Pesquisa Histórica

A pesquisa de Spohr para construir a narrativa foi extensa. Ele investigou fontes como O Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, que já no século 18 apontava que Jorge provavelmente nasceu em Lida (atual Israel), e não na Capadócia, como sugere a tradição. 

Também incorporou elementos da lenda grega escrita entre os séculos 4 e 6, equilibrando o real com o mítico. Um exemplo curioso dessa reconstrução aparece em uma cena do livro em que a mãe de Jorge cultua uma imagem da deusa Ísis — sincretizada, na prática, com Nossa Senhora e o Menino Jesus.

Além de resgatar a figura histórica de São Jorge, Spohr quer também reforçar o quanto a herança do Império Romano continua presente no nosso cotidiano. “Falamos uma língua latina, temos um sistema jurídico e urbano inspirado nos romanos. Somos, de certa forma, romanos. Essa conexão profunda com a Antiguidade também foi algo que quis destacar ao longo do livro.”

Com Império do Leste, Eduardo Spohr reafirma sua habilidade de transitar entre mundos — sejam eles fantásticos ou históricos — sem perder de vista o rigor da pesquisa e a paixão pela narrativa.

Ao trazer à tona um São Jorge mais humano, inserido em seu tempo, ele nos convida a olhar para além do dragão e reconhecer a complexidade por trás da lenda.


++ Assita a seguir a entrevista na íntegra de Eduardo Sporh ao Aventuras na História!

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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