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Shazan-Xerife & Cia.: A história por trás da primeira sitcom brasileira
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Shazan-Xerife & Cia.: A história por trás da primeira sitcom brasileira

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Aventuras Na História
26/04/2025 17h00
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Shazan (Paulo José) e Xerife (Flávio Migliaccio) preencheram meus dias de menino aspirante a escritor. Mecânicos aventureiros, bagunceiros e divertidos, criativos e de bom coração, nasceram e cresceram em Nova Esperança, interior de São Paulo, e construíram uma bicicleta voadora.

Walther Negrão — que Jeanine Wandratsch Adami e eu entrevistamos — escreveu a telenovela 'O Primeiro Amor' (Rede Globo, 1972: o ator Sérgio Cardoso morreu a 20 capítulos do fim) e criou o primeiro spin of da teledramaturgia nacional, a série 'Shazan–Xerife & Cia.' (1972-1974), dando aos heróis de um veículo muito louco: a Camicleta, seu lar e oficina sobre rodas. Foram 23 episódios semanais e cinco seriados (com 22 a 43 capítulos). Eu não perdia um!

A censura na década de 1970

Tornou-se uma das atrações mais assistidas do país. Embora dedicada ao público infantil, não escapou da Censura Federal por mostrar crianças brincando na lama, considerado incentivo para influenciar à imitação. Mais do que uma série icônica, é um retrato fiel das desigualdades sociais enfrentadas no Brasil da década de 1970.

De um lado, a minoria abastada, rodeada de facilidades e oportunidades. De outro lado, a maioria de moradores das capitais e cidades de todos os portes em sua luta renhida e desigual pela sobrevivência. Gente do povo. Um povo simples, em sua maioria paupérrimo, mas ainda assim sonhador!

Processo de pesquisa

Escrever sobre minha série favorita foi uma consequência natural, mas me custou 10 anos de pesquisas para definir as 424 páginas de 'Camicleta – Manual dos Proprietários' (Curitiba: Estrada de Papel, 2025), editado com recursos próprios.

A Camicleta, criada pelo cenógrafo Stoessel Candido da Silva, pronta para entrar em cena no primeiro episódio de "Shazan-Xerife & Cia." (1972-1974) - Fotografia do Acervo de Marco Antonio Cândido.
Paulo José (Shazan) e Flávio Migliaccio (Xerife) em cena de "Perigo Sob a Lona" (1973), um dos cinco seriados da série de TV "Shazan-Xerife & Cia." - Fotografia do Acervo de Paulo José e Kika Lopes.
Paulo José e Flávio Migliaccio num intervalo de gravações do último seriado, "A Bicicleta Voadora" (1973), conversando sobre os tortuosos caminhos do roteiro - Fotografia de Paulo Roberto de Sousa.
Shazan a bordo da Camicleta e Xerife pilotando a Bicicleta Voadora se reencontram no céu - Arte de Clovis Paulo Stocker.
Oficina-lar sobre rodas, a Camicleta foi a companheira de aventuras dos mecânicos Shazan (Paulo José) e Xerife (Flávio Migliaccio), que fizeram mais de 400 aparições na TV entre 1972 e 2015 - Fotografia de Ítalo Sani.

Fiz um sem-fim de visitas a sebos, entrevistei atores, atrizes, diretor, roteirista e outros profissionais que possibilitaram 441 aparições de 'Shazan e Xerife na TV' no melhor estilo dos road movies do cinema mundial.

E fui além, reconstituindo a história da teledramaturgia brasileira, passando pelas grandes novelas e pelas séries com super-heróis, programas infantis e infantojuvenis através dos tempos. Reconstituí as tentativas de trazer de volta os personagens em novas produções, através dos tempos, e suas breves aparições em outra telenovela de Walther Negrão (Era Uma Vez..., 1998) e no especial Globo 50 anos (2015).

Outros espectadores escreveram suas memórias da produção, contaram histórias hilárias! Há ilustrações e uma divertida história em quadrinhos com o reencontro de Shazan, Xerife e a Camicleta, 15 anos depois de ela ter partido com o Reboque do Formigão, dono de um ferro-velho paulista.

Revelei bastidores da construção e da criação das armas secretas da Camicleta (que tinha dublê, dezenas de truques circenses e o palhaço Treme-Treme na boleia) nos cinco seriados.

Seus capítulos-sequência transformaram a produção numa outra telenovela (foram 189 de abril a dezembro de 1973, alguns reprisados de janeiro a março de 1974. Estão contidas nesta obra as memórias possíveis da telenovela (100% destruída em um incêndio em 1976) e da série (há quatro ou cinco episódios no acervo da emissora).

O livro "Camicleta – Manual dos Proprietários"

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Capa de 'Camicleta – Manual dos Proprietários' - Divulgação

Durante minhas pesquisas, localizei dois episódios e 14 capítulos preservados pelo doutor em teledramaturgia Mauro Alencar, que assina o prefácio do livro.

Alguns desses capítulos estavam em antigas fitas que batizei de VHS Kinder Ovo porque, em geral, traziam surpresas na forma de mais conteúdo do que aquele que estava anotado na etiqueta.

Todos os episódios localizados foram decupados e constam do livro, assim como as sinopses dos episódios e capítulos levados ao ar.

Este é um livro que conta tanto a minha quanto a sua própria história. Ilustrado com fotografias dos lançamentos e demais eventos realizados em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro a partir de 2022, quando do lançamento das duas edições anteriores.

Aborda as influências desta série sobre outras histórias de estrada da emissora, como Carga Pesada (1979-1981), dos filmes e da série de TV que Flávio Migliaccio produziu com seu novo Xerife, o Tio Maneco. E, ao final de tudo, um conto que escrevi com Shazan e Xerife vivendo sua terceira idade e recebendo a visita do seu pai, Walther Negrão. E sem chabu!


*Saulo Adami é pesquisador, editor e autor de 170 livros lançados em português, inglês, espanhol e alemão, além de ter escrito, dirigido e produzido peças teatrais, programas de rádio e documentários para vídeo e cinema.

Jornalista prático, por mais de 20 anos editou semanários e diários, colaborou com fanzines e revistas sobre cinema e televisão, incluindo Cinemin (RJ) e TV Séries (SP), e manteve um escritório de assessoria de comunicação social para sindicatos operários. Editou mais de 300 livros com os selos S&T e DOM. Há seis anos dirige o selo editorial Estrada de Papel, ao lado de sua esposa, a psicóloga Jeanine Wandratsch Adami.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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