Morre Lô Borges, um dos grandes nomes da MPB, aos 73 anos
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O cantor e compositor mineiro Lô Borges, um dos grandes nomes da MPB e símbolo do movimento Clube da Esquina, morreu neste domingo (2), aos 73 anos, em Belo Horizonte, em decorrência de falência múltipla de órgãos. A informação foi confirmada pelo Hospital Unimed-BH, onde o artista estava internado desde 17 de outubro. “A Unimed-BH se solidariza com a família, amigos e fãs pela irreparável perda para a música brasileira”, dizia a nota divulgada pela instituição.
Um nome que transformou a MPB
Nascido Salomão Borges Filho, no bairro Santa Tereza, Lô cresceu cercado de música. Ainda criança, conheceu Milton Nascimento nas escadarias do edifício onde morava. Pouco depois, o também futuro parceiro Beto Guedes – encontros que marcariam para sempre sua trajetória artística.
Com Milton, formou o Clube da Esquina, movimento que redefiniu a música brasileira nos anos 1970 ao unir harmonias sofisticadas, poesia e regionalidade mineira. O álbum Clube da Esquina (1972), assinado pela dupla, é considerado um dos discos mais importantes da MPB. Ele possui canções imortais como O Trem Azul, Tudo Que Você Podia Ser e Paisagem da Janela.
Do anonimato à consagração
Aos 19 anos, Lô lançou também o emblemático Disco do Tênis, seu primeiro trabalho solo. Apesar do sucesso repentino, o artista preferiu se afastar dos holofotes por um tempo, vivendo um período de recolhimento e composição na Bahia. “Eu estava vivendo a minha vida, tocando violão… não parei de compor. Quando voltei, já tinha muito mais maturidade”, relembrou em entrevista.
O retorno veio em 1978, com o álbum Via Láctea, considerado por ele um dos melhores de sua carreira. Nos anos seguintes, seguiram-se obras marcantes e parcerias que atravessaram gerações – de Sonho Real (1984) à colaboração com Samuel Rosa, do Skank, em Dois Rios.
Mesmo após décadas de carreira, Lô Borges manteve-se em constante produção. Desde 2019, vinha lançando um álbum inédito por ano, sendo o último deles Céu de Giz, em parceria com Zeca Baleiro, lançado em agosto de 2025. Antes de ser internado, estava em turnê com Beto Guedes, com o espetáculo Esquina & Canções, que celebrava sua amizade e a herança do Clube da Esquina.
Parcerias e homenagens
A morte de Lô comoveu fãs e artistas de várias gerações. Milton Nascimento, seu amigo e parceiro de vida, escreveu: “Lô Borges foi — e sempre será — uma das pessoas mais importantes da minha vida e da minha obra. Foram décadas de uma amizade e cumplicidade lindas. O Brasil perde um dos artistas mais geniais, inventivos e únicos.”
Samuel Rosa, visivelmente abalado, lembrou a profunda parceria que mantinha com o compositor: “Lô Borges foi, afora o Skank, o maior parceiro que tive na música. Um ídolo que virou amigo e me deu o privilégio de dividir o palco com ele. Seu legado é definitivo.”
Outros artistas também prestaram tributos. Djavan publicou uma foto do músico com a legenda “Descanse em paz, Lô Borges!”, e o apresentador Serginho Groisman destacou sua genialidade e contribuição à música brasileira. No programa Encontro, o ator Amaury Lorenzo ressaltou o poder transformador da arte de Lô: “Quando um artista parte, fica a arte poderosa. Conforto para a família e para essa obra tão forte dele.”
Um legado eterno
O impacto de Lô Borges na música ultrapassa gerações. Suas melodias, parcerias e letras poéticas ajudaram a moldar a sonoridade da MPB e a colocar o Clube da Esquina entre os capítulos mais ricos da cultura brasileira. Mais de meio século após seu lançamento, o álbum Clube da Esquina segue sendo celebrado como o maior disco da história da música nacional e um dos mais importantes do mundo.

