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'The Roses' — Tudo vem à tona
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'The Roses' — Tudo vem à tona

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ICARO Media Group
13/09/2025 11h00
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©Beverly Hills Courier
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Por Neely Swanson para o Beverly Hills Courier

“Amar é nunca ter de pedir perdão”. Erich Segal (“Love Story”) não poderia estar mais errado. Theo e Ivy Rose são a prova cabal do resultado. Carrancudos, sentados diante de uma conselheira matrimonial, tinham a tarefa de listar 10 coisas que gostavam um no outro. Muito pelo contrário: a lista de Theo é bem curta, com o formato da cabeça dela no topo. Ivy, por outro lado, tem uma longa lista do que odeia nele. Horrorizada, a terapeuta declara que eles são irrecuperáveis. Chocados, eles saem, rindo da incompetência da conselheira e, apesar dos horrores expressos naquela sala, você vê um casal complicado mas ainda comprometido. A questão é se eles realmente deveriam se comprometer. Assim começa “The Roses — Até que a Morte os Separe”, a mais sombria das comédias românticas sombrias.

O casal perfeito por excelência, Theo e Ivy se conheceram na cozinha de um restaurante em Londres. Ele, arquiteto, estava fugindo de uma reunião chata que comemorava a conclusão de um complexo de apartamentos que ele que acha entediante, e ela, sous chef, estava elaborando mais uma de suas criações pela qual não receberia crédito algum. O toque entre eles soltou faíscas; a união imediata, na câmara frigorífica do restaurante, foi extremamente quente e rápida. Em pouco tempo — bem, na verdade, levou alguns anos —, eles partiram para a Califórnia para começar uma nova vida. Ivy encontrou trabalho como estagiária em restaurantes do norte da Califórnia e Theo iniciou sua rápida ascensão em uma empresa de destaque, desenhando projetos de luxo para clientes com visão de futuro. Eles eram sua própria rede de admiração e apoio mútuos.

As crianças chegaram, um menino e uma menina, e Ivy ficou em casa, com seus talentos criativos relegados à cozinha, criando bolos e pratos com criatividade. O círculo social deles era bastante limitado aos colegas de trabalho dele, o extremamente competitivo Rory e sua esposa, muito mais talentosa, Sally. Ao longo do caminho, eles encontraram Barry e Amy, cujos interesses não poderiam estar mais distantes dos deles. Barry, advogado, adora armas e estandes de tiro, e Amy adora explorar os limites da aceitabilidade sexual com qualquer pessoa que esteja por perto.

Ivy, um tanto perdida em seu novo ambiente, com a produção criativa limitada agora que as crianças começaram a ir à escola, fica grata a Theo quando ele reforma uma cabana na praia para que ela possa ter seu próprio restaurante. Superficialmente, e nem tudo é sempre superficial ou submerso, eles ainda parecem ter aquela magia juntos. Sutilmente, talvez não tão sutilmente, há um desequilíbrio no relacionamento. Certamente não começou assim. Afinal, foi ideia dela que eles se mudassem para os Estados Unidos mas, com Theo em ascensão e Ivy lutando para se manter à tona, a sombra da atitude condescendente de Theo em relação à mulher começa a aparecer. Isso provavelmente não é de propósito; ele talvez não saiba mas Ivy começa a ferver, sob seu sorriso largo e olhos brilhantes. Ele é bem-sucedido e faz algo que ama; ela, nem tanto, servindo talvez duas ou três refeições na hora do almoço. Ainda assim, além do sorriso forçado dela e do sucesso que ele ostenta, que todos são levados a admirar, este ainda é um casal aparentemente solidário e amoroso. Tudo isso vai mudar. Bem-vindos ao clássico relacionamento de amor e ódio.

Uma tempestade metafórica, e uma tempestade real, inverteram suas posições. Ivy agora é renomada e bem-sucedida além do que poderia sonhar, e Theo foi relegado à sua antiga posição de guardião das crianças. A civilidade está se esvaindo e as palavras antes não ditas começam a ser ditas. E, no entanto, como eles mesmos apontam, são britânicos, e os britânicos inventaram os sentimentos reprimidos. Revelar mais diminuiria o prazer, cheio de Schadenfreude [palavra do alemão para designar o sentimento de alegria diante do dano ou infortúnio dos outros] e cinismo, que virá.

Esta é a história de um casamento. É verdade que a maioria dos casamentos não é entre dois indivíduos extremamente bem-sucedidos disputando posições mas, mesmo o relacionamento mais mundano flui com apoio e admiração e reflui com ressentimento, carência e recriminação. Alguém é culpado ou não. O simples ato de respeito, a base de qualquer relacionamento, não é tão simples. Não, Erich Segal, o amor é muito mais saber como e quando pedir perdão e quando ceder, mesmo que seja apenas no momento. O amor não é só paixão, sexo e admiração; é também aprender a negociar as diferenças, os ressentimentos, os sucessos e os fracassos; e Ivy e Theo se tornaram cada vez menos complacentes um com o outro. No jogo deles, um perde e o outro ganha, sempre.

No centro desse jogo está a casa, um magnífico feito arquitetônico de fusão entre natureza e criação; não exatamente minimalista, mas também não exagerado, com uma vista que rivaliza com a de Big Sur [célebre casa construída na costa da Califórnia em 2023] em beleza e perigo. Uma ode ao modernismo, com o toque irônico de um assistente de IA chamado Hal (para quem nunca viu “2001: Uma Odisseia no Espaço”, pesquise). Esta casa espetacular, projetada por Theo, representativa do que ele perdeu e ganhou em sua carreira, torna-se o ponto central da guerra nuclear que eles infligem um ao outro.

Esta não é a primeira adaptação cinematográfica do romance “A Guerra dos Roses”, de Warren Adler [“A Guerra dos Roses”, de 1989, com Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny DeVitto, foi a primeira]. Mas o roteirista Tony McNamara fez sua própria versão, pegando essas fissuras no relacionamento e o rasgando ao mesmo tempo em que tenta reconstruí-lo. Há momentos de gargalhadas, de surpresas e de muita tensão. Jay Roach, o diretor conhecido por seu hábil toque cômico, pegou todos os ingredientes de McNamara e misturou tudo para que o resultado seja uma espuma amarga que coalha e diverte. Eles deram um retrato preciso de um casamento de longa data que sobrevive tanto da alegria compartilhada quanto da inimizade compartilhada. O que acontece quando ninguém está disposto a ceder nem um centímetro? Assista e descubra. Roach mantém tudo em movimento e até envolve na trama personagens totalmente secundários, como Benny e sua libidinosa esposa Amy. Rory, um arquiteto rival, é irritante mas necessário, cheio de Schadenfreude em relação a Theo, mas que se encolhe diante da malícia astuta e do talento superior de sua esposa Sally.

Roach foi abençoado com um elenco excepcional. Andy Samberg, como Barry, está fora de seu ambiente não importa para onde se vire, mas parece distante. Kate McKinnon, como Amy, está hilariamente inapropriada, algo que sempre foi seu forte. Jamie Demetriou interpreta Rory como um arquiteto de segunda categoria que vive para criticar e Zoë Chao é sua esposa arquiteta, muito mais inteligente e talentosa. Ambos vivem para humilhar, mas só ela tem poder de fogo suficiente em seu arsenal. Preste atenção na participação sensacional de Allison Janney. Dizer mais do que isso diminuiria criminalmente seu efeito.

“The Roses” é um filme muito bom mas o que o torna excepcional são os dois protagonistas: Benedict Cumberbatch como Theo e Olivia Coleman como Ivy. O Theo de Cumberbatch é uma incongruência ambulante, confiante e um tanto arrogante quando bem-sucedido, e um amontoado de inseguranças e vulnerabilidades envolto em uma caixa impenetrável de ressentimento quando não. Seus olhos brilham ou escurecem dependendo da situação e seu timing cômico é impecável, sempre entre o trágico e/ou o cruel. Coleman, aqui, tem livre arbítrio para expressar seu lado sombrio, mas sempre muito engraçado. Aqueles olhos arregalados, tão brilhantes quando Ivy e Theo ainda estavam descobrindo seus pontos fortes, eventualmente dão lugar a orbes ligeiramente semicerradas e mais escuras, emolduradas por um sorriso largo e tenso. A troca de farpas entre esses dois indivíduos um tanto reprimidos é uma lição de contenção que torna o resultado ainda mais hilário e devastador. Inicialmente visando ferir, a dupla finalmente está focada em matar.

Embora a maioria aponte “The Roses” como a morte de um casamento, eu afirmo que não é. Amor e ódio, vulnerabilidade e força estão presentes na maioria dos relacionamentos duradouros. Reluta-se em reconhecer os aspectos negativos, mas eles estão lá e geralmente em maior grau do que se admite. A força suprema das interpretações de Coleman e Cumberbatch é a capacidade de expressar vulnerabilidade e esperança, mesmo mirando na jugular. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Leia o artigo original aqui.

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