O Cordyceps, fungo de 'The Last of Us', existe na vida real?

Recreio






Tanto no jogo da Naughty Dog quanto na série da HBO, em 'The Last of Us' os protagonistas Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) vivem em um futuro distópico causado por uma pandemia fúngica que surgiu há vinte anos nesse universo após a mutação de um fungo chamado Cordyceps.
A história fez tanto sucesso que tem uma terceira temporada já confirmada e uma segunda prestes a estrear na HBO e Max, visto que os novos episódios estão previstos para este domingo, 13.
A premissa do título é que a garota é a única humana que sobreviveu ao ser infectada e embarca em uma missão para poder ser usada para a criação de uma cura ou antidoto que acabaria com a infecção.
Acontece que o fungo controla o sistema nervoso dos hospedeiros e continua crescendo dentro do corpo do infectado. Além disso, aqueles que abrigam o organismo dentro de si se tornam veículos de transmissão e passam a agir de forma violenta enquanto buscam novos hospedeiros para o fungo, o qual é transmitido por meio de mordidas.
Ainda que a história seja ficcional, o criador da narrativa, Neil Druckmann, se inspirou na realidade para a criação da pandemia que quase acabou com a vida humana na Terra, já que o fungo do gênero Cordyceps realmente existe e conta com mais de 400 espécies.
Ophiocordyceps unilateralis?
A versão que serviu de base para o organismo da série é o Ophiocordyceps unilateralis, também conhecido como ‘fungo zumbi’, o qual chegou ao conhecimento de Druckmann por meio de um documentário de 2008, o 'Planet Earth' — a questão é que diferente do jogo e da série, na natureza o fungo se apossa do corpo de insetos.
Descoberto em 1859 pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace, o Ophiocordyceps unilateralis é encontrado predominantemente em florestas tropicais, como na Amazônia, já que ambientes quentes e úmidos facilitam a proliferação desse fungo.
Mais que isso, o hospedeiro ideal também vive em locais como esses. Quem é? A formiga-carpinteira (Camponotus cruentatus), encontrada na América, Europa e África, que, além de estar no lugar perfeito, ainda se alimenta de fungos.
Como o Ophiocordyceps unilateralis age?
A infecção pelo fungo dura de 2 a 5 dias nas formigas. Quando se apossa do corpo, continua crescendo dentro do organismo do inseto, o deixando com uma aparência esbranquiçada, com aspecto semelhante ao mofo, e se espalhando para fora da cabeça do animal.
Acontece que, nesse período, os esporos microscópicos do Ophiocordyceps unilateralis se espalham por dentro e por fora, além de causar paralisia nos membros do hospedeiro pela ação de neurotoxinas secretadas pelo fungo. Como resultado, a formiga fica desnorteada e sai em do formigueiro em busca de locais mais iluminados e mesmo quando morrem, acabam sendo úteis, já que servem como alimento para o fungo, como explica a biotecnologista Tainah Colombo Gomes ao Portal do Butantan.
O processo foi descrito pelo técnico sênior do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação (LDI) Rafael Conrado ao Portal do Butantan:
“Este fungo faz com que a formiga tenha um comportamento muito específico: ao sair do formigueiro, ela se agarra a uma planta próxima e, já fixada, cresce em sua cabeça o corpo frutífero, que é o órgão reprodutor do fungo. É por onde o Cordyceps libera seus esporos, que podem infectar outras formigas ali mesmo, serem depositados no solo, ou serem levados pelo vento ou insetos para outros locais”.
Ainda que não sejam racionais, o instinto de sobrevivência das formigas faz com que elas se protejam, já que, no formigueiro, quando um animal infectado é percebido pelas operárias, este é removido para preservar a colônia.


