Peter Rufai, o príncipe que recusou ser rei para jogar futebol

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Embora hoje o mundo tenha bem menos monarquias em vigor do que séculos atrás, em certos lugares ainda existem linhagens reais que, tradicionalmente, seguem os costumes de uma liderança centrada em uma família, com títulos de reis e rainhas passando geralmente de pais para filhos.
E, no dia 24 de agosto de 1963, nasceu em Lagos, na Nigéria, o filho do então rei de Idimu — uma região com tradições tribais do país —, Peter Rufai. Segundo o Mixvale, ele cresceu sob o peso da realeza, mas ainda jovem encontrou uma grande paixão no futebol, demonstrando talento para o esporte que, inclusive, marcou sua vida.
Embora seja da realeza, Rufai deu grande prioridade aos gramados, e começou a jogar como goleiro em clubes locais. Porém, sua habilidade chamou grande atenção de times europeus na década de 1980, com reflexos rápidos e uma presença imponente, e ele chegou a passar por equipes da Bélgica, da Holanda e até da Espanha, no Deportivo La Coruña, onde viveu o auge de sua carreira.
Foi no clube espanhol que Rufai se consolidou como um dos melhores goleiros de seu tempo, ajudando o time a competir na La Liga. Além disso, sua trajetória foi importante para abrir as portas da Europa a outros jogadores africanos, e ele chegou a competir pela seleção da Nigéria nas Copas do Mundo de 1994 e 1998.

Decisão chave
Embora já tivesse se consagrado pelo futebol mundial, Rufai ainda era filho do rei de Idimu. E em 1998, após a morte de seu pai, ele enfrentou um dilema que definiria completamente seu caminho: convocado para assumir o trono, ele precisou escolher entre a realeza e o futebol.
Segundo ele mesmo relatou posteriormente, a decisão não foi nada fácil; mas os que conhecem sua história sabem que ele optou por permanecer no esporte, e com isso abriu mão de uma vida de privilégios.
Em 2016, ele explicou em entrevista que regras tribais o impediriam de jogar futebol profissionalmente, que ele desejava continuar aspirando jovens no esporte e que preferia uma vida simples, junto de amigos e da comunidade, e por isso abdicou da possibilidade de ser rei.
Essa decisão foi vista por muitos como um verdadeiro ato de coragem, especialmente em um contexto em que as tradições tribais ainda tinham um peso cultural significativo. Porém, se não se tornou rei de Idimu, certamente ele se consolidou como um ídolo nacional do futebol.
Legado no futebol
Justamente as Copas do Mundo de 1994 e 1998, que Rufai participou como goleiro, a Nigéria viveu uma era de ouro em seu futebol. Em 1994, a seleção surpreendeu ao chegar às oitavas de final, disputando em jogos contra grandes potências como a Itália. E nessa competição, "O Príncipe", como era conhecido, foi uma peça-chave, garantindo vitórias com suas defesas.
Já em 1998, a Nigéria mostrou sua força mais uma vez, e Rufai se consagrou como um dos 10 jogadores com mais jogos pela seleção nacional, disputando mais de 60 partidas.

Porém, ele também se dedicou além dos gramados: Rufai dedicou parte de sua vida a projetos sociais voltados ao futebol e, após se aposentar, em 2000, fundou uma academia de futebol na Nigéria, em busca de descobrir e treinar novos jovens talentos. Inclusive, graças à iniciativa, ele conseguiu lançar dezenas de atletas para a carreira profissional. Mais especificamente, sua escola de goleiros tornou-se referência no país, ensinando técnicas modernas e promovendo a disciplina.
Além disso, o ex-goleiro também apoiou diversas campanhas para promover o futebol feminino na Nigéria, defendendo a igualdade de oportunidades no esporte. Graças à sua visão progressista, ele ainda hoje é visto como um modelo no esporte, sendo não só um atleta, mas também um exemplar líder comunitário.
Últimos dias
Além do respeito no futebol, Rufai também manteve seus laços com Idimu, onde ainda era respeitado, mesmo tendo renunciado ao trono. Regularmente ele visitava a região, apoiando diversas iniciativas comunitárias e promovendo a educação através do esporte também por lá. Após pendurar as chuteiras — literalmente —, realmente seguiu com um estilo de vida simples, longe dos holofotes, ao contrário de como foi sua carreira.
Por fim, em seus últimos anos, Peter Rufai enfrentou uma série de problemas de saúde, que diminuíram ainda mais suas atividades públicas. A família nunca divulgou os detalhes de sua doença, mas sabe-se que ele precisou de tratamento contínuo.
Foi só recentemente, no dia 3 de julho de 2025, que Rufai faleceu, aos 61 anos, em um hospital em Lagos, cercado por sua família e, certamente, deixando um legado que transcende o futebol.



