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Eva além do pecado: Livro resgata complexidade da primeira mulher da Bíblia
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Eva além do pecado: Livro resgata complexidade da primeira mulher da Bíblia

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Aventuras Na História
21/06/2025 15h00
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©Divulgação; Getty Images
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Durante séculos, Eva foi apontada como a origem do pecado. A mulher que, ao desobedecer a Deus, teria arrastado toda a humanidade para fora do paraíso. Mas e se, em vez de vilã, ela for vista como a primeira a buscar conhecimento e exercer liberdade de escolha?

É essa pergunta que move o livro "Crônicas de Eva e o Princípio de Tudo", da teóloga e escritora Maria Lúcia de Miranda Vidal. Com base em uma leitura bíblica cuidadosa e na própria experiência como pastora, a autora reexamina o papel da personagem bíblica, propondo uma imagem menos condenatória e mais humana da personagem.

“Ela foi reduzida a um único episódio: o da desobediência. Mas antes disso, foi criada à imagem de Deus, com inteligência, propósito e beleza”, diz Vidal em entrevista ao Aventuras na História.

Uma escolha

Para a autora, o gesto de comer o fruto proibido pode ser entendido como um exercício de livre-arbítrio, ainda que sob influência externa. Ela lembra que, no relato bíblico, Eva afirma ter sido enganada pela serpente — e o verbo hebraico usado (nasha) indica um tipo de ilusão ardilosa, não um ato deliberado de rebelião.

O próprio apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 2:14, reconhece que Eva foi enganada, enquanto Adão teria agido com plena consciência. “Ela não foi rebelde por natureza, foi iludida. Agiu por livre-arbítrio, sim, mas sob forte influência externa. Ela é responsabilizada, mas também compreendida”, aponta. 

Vidal também destaca a importância de mostrar Eva como mulher e mãe. Ao retratar sua rotina no Éden, sua relação com Adão e com os filhos, a autora busca romper com a caricatura da mulher culpada e apresentar alguém real, com emoções, afetos e contradições.

A maternidade, nesse sentido, ocupa papel central. Eva é chamada de “mãe de todos os viventes” e, mesmo após a expulsão do paraíso, continua acreditando e gerando vida.

Sim, Eva errou, e isso está claro no texto bíblico. Mas a punição que recebe não elimina sua dignidade. Ela sofre as consequências de sua escolha, mas continua presente, ativa, parte do plano. Deus não a abandona.”

Contra os estereótipos

Esse retrato contrasta fortemente com a imagem cristalizada na tradição cristã, onde Eva se tornou o símbolo da fraqueza feminina e da inclinação ao pecado. A patrística e, mais tarde, teólogos medievais como Tertuliano e Agostinho reforçaram essa leitura, associando a mulher à tentação, à carne e à queda. 

Durante séculos, esse imaginário foi usado para justificar a submissão feminina, a exclusão das mulheres de funções religiosas e o controle sobre seus corpos. Vidal reconhece esse peso cultural e propõe sua obra como um antídoto.  

A intenção não é inocentar Eva, mas colocá-la dentro de um contexto mais amplo e mais justo. A leitura da Bíblia feita com atenção revela isso. O texto está lá — basta deixar de lado os filtros culturais e prestar atenção no que realmente foi dito”.

Até o momento, a recepção tem sido mais de curiosidade do que de crítica. Mas a autora está preparada para resistências. “Se elas vierem, estou tranquila. Tudo o que escrevi está fundamentado nas Escrituras.”

Para Vidal, repensar Eva é também repensar a mulher na fé cristã. “Ela foi mais do que o erro que cometeu. Foi também pensadora, companheira, protagonista. E isso não pode ser ignorado.”

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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