A crucificação de Cristo, de acordo com Isaac Newton

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A figura de Jesus Cristo é uma das mais influentes e debatidas de toda a história da humanidade. Para além da religião, ela moldou civilizações, dividiu eras e inspirou incontáveis gerações em todo o mundo.
No entanto, apesar de toda a sua relevância, muitos aspectos concretos de sua vida permanecem envoltos em mistério. A data exata de sua crucificação, por exemplo, é amplamente discutida por historiadores e teólogos.
Uma das mais aceitas por especialistas modernos é 7 de abril do ano 30 d.C. Ainda assim, essa hipótese está longe de ser uma certeza absoluta.
A tentativa de estabelecer uma cronologia da vida de Cristo mobilizou estudiosos por séculos, gerando debates acalorados e inúmeras teorias baseadas em cruzamentos de textos bíblicos, registros históricos e cálculos astronômicos.
Nascimento e crucificação
De acordo com o portal Ancient Origins, a busca por uma data confiável para o nascimento de Jesus parte de passagens nos Evangelhos que mencionam o reinado de Herodes e o "décimo quinto ano" do imperador Tibério.
A partir desses dados, somados à informação de que Jesus teria cerca de 30 anos quando iniciou sua pregação, a maioria dos estudiosos concorda que ele provavelmente nasceu entre 6 e 4 a.C.
Já a crucificação é determinada por métodos mais complexos. No livro "A Palavra neste mundo", de Paul William Meyer e John T. Carroll, por exemplo, são citadas fontes não cristãs, como os historiadores antigos Josefo e Tácito.
Uma estratégia adotada por estudiosos é usar eventos posteriores, como o julgamento de Paulo pelo procônsul Gálio em Corinto, por volta de 51-52 d.C., e calcular retroativamente. Com isso, considera-se 36 d.C. como o limite máximo possível para a crucificação.

A contribuição de Newton
A contribuição mais curiosa — e talvez surpreendente — à discussão veio de Isaac Newton. Conhecido como o pai da gravitação, Newton também se dedicou à alquimia, astrologia e profecias bíblicas. Em escritos revelados muito tempo após sua morte, ele chegou, inclusive a afirmar que o mundo acabaria em 2060.
Além disso, cerca de vinte anos antes de propor sua famosa previsão sobre o fim do mundo, o cientista voltou sua atenção à Bíblia com o objetivo de calcular, por meio da astronomia, quando o crescente da lua nova teria ocorrido em sincronia com os calendários judaico e juliano. Em suas análises, percebeu que as antigas celebrações da Páscoa judaica costumavam coincidir com luas cheias que ocorriam antes de uma sexta-feira.
Possíveis datas
Com base nesse critério, ele cruzou dados astronômicos com narrativas bíblicas e chegou a duas datas consideradas mais prováveis para a crucificação de Jesus: 3 de abril de 33 d.C. e 23 de abril de 34 d.C., conforme destacado pelo pesquisador John Pratt.
Newton preferiu a data de 23 de abril de 34 d.C., por acreditar que ela harmonizava com o episódio da "maturação do milho" relatado em Lucas 6:1. No entanto, essa hipótese foi posteriormente descartada por outros estudiosos que utilizaram os mesmos métodos.
Apesar do consenso quanto à visibilidade lunar nas datas propostas, há desacordo em relação ao ano exato. O ano de 34 d.C., embora defendido por Newton, é geralmente rejeitado por não se alinhar com a cronologia da conversão do apóstolo Paulo.

Atualmente, as duas datas mais aceitas pelos estudiosos são 7 de abril de 30 d.C. e 3 de abril de 33 d.C. Na obra "A Data da Crucificação", os autores Humphrys e Waddington apontam que, sem novas evidências, é impossível determinar de forma conclusiva qual das duas está correta — embora a data de 3 de abril de 33 d.C. seja considerada a mais provável.
Interpretação simbólica
Essa preferência pela data de 33 d.C. também se apoia em uma interpretação simbólica dos Atos dos Apóstolos (2:14–21), na qual o apóstolo Pedro afirma que "a lua se transformou em sangue" durante a crucificação — o que Newton interpretou como uma referência a um eclipse lunar ocorrido precisamente em 3 de abril daquele ano.
Pesquisas astronômicas modernas reforçam essa possibilidade ao comparar a data da última Páscoa celebrada por Jesus (conforme os evangelhos sinóticos) com a data da Páscoa judaica relatada no Evangelho de João.
Essa análise indica que a Última Ceia teria ocorrido na quarta-feira, 1º de abril de 33 d.C., seguida pela crucificação na sexta-feira, 3 de abril, e pela ressurreição dois dias depois.
Longe das tradições
No artigo "Newton’s Date for the Crucifixion", publicado em 1991 no Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, John Pratt esclarece que Newton não fundamentou sua escolha de data em tradições sobre o nascimento de Cristo ou sobre a duração de sua vida.
Para Newton, aliás, "não há tradição que valha a pena considerar" nesse aspecto. Desde então, diversos estudiosos têm continuado a examinar a questão utilizando os métodos desenvolvidos pelo inglês.
Com base em considerações astronômicas e na suposição de que Jesus teria nascido por volta de 6 a.C. — uma data compatível com a morte de Herodes em 4 a.C. —, muitos passaram a considerar 7 de abril de 30 d.C. como uma das hipóteses mais sólidas. Ainda assim, argumentos recentes reacenderam o interesse pela data de 33 d.C., fazendo com que o debate permaneça em aberto.


