A história de Adriana Caselotti, dubladora original da Branca de Neve

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Em 21 de dezembro de 1937, durante a festa de lançamento de A Branca de Neve e os Sete Anões, uma platéia de incontáveis celebridades de Hollywood se maravilhou ao ouvir uma doce voz, muito afinada, que entonava junto à alegres passarinhos fictícios. Era o encanto da dubladora Adriana Caselotti.
Os holofotes iluminaram apenas os atores presentes no evento, como Cary Grant, Marlene Dietrich, Judy Garland e Carole Lombard. Mal sabia o mundo que a autora da voz da protagonista do filme fora esquecida.
Caselotti não estrelou em nenhum musical e sua identidade permaneceu guardada a sete chaves. O dono do cadeado? seria o próprio Walt Disney, que, segundo a lenda hollywoodiana, teria proibido a artista ao estrelato para não quebrar o encanto da Branca de Neve dos telões.

Nascida em Bridgeport, Connecticut, em 6 de maio de 1916, a moça já apresentava sinais de que tinha dom para fazer sucesso com a voz desde pequena. A começar pelo seu berço musical: Caselotti era filha de uma família ligada à ópera.
Seu pai era o italiano Guido Caselotti, professor de música em Nova York; a mãe, por sua vez, Maria Orefice, cantou no Royal Opera. Igualmente, a irmã, Louise Caselotti, era cantora de ópera e professora de canto de Maria Callas, informou o Washington Post.

Caselotti foi educada em um convento italiano, San Getulio, perto de Roma, enquanto sua mãe se apresentava na Ópera. Durante a adolescência, retornou aos Estados Unidos para aprender canto com o pai.
Quando completou 18 anos, o pai da moça recebeu um telefonema de um diretor de elenco da Disney, perguntando se algum de seus alunos de música poderia ter uma voz adequada para o papel feminino de um dos mais novos filmes. No final, ela acabou fazendo o teste.
Mais de 150 meninas também participaram de audições para o papel, mas o estúdio optou pela voz de Adriana Caselotti, informa o New York Times.
Negócio complicado
Ainda muito jovem, Caselotti aceitou termos do contrato que não pareceram ser nada favoráveis. Ela ganhou um total de $970 para cantar e ler as falas da princesa. Além disso, também informa o New York Times, ela não sabia que se tratava de um longa-metragem.
''Eles me disseram que seria um pouco mais longo do que os curtas deles, que duravam de 10 a 12 minutos'', afirmou ela em 1993, durante entrevista resgatada pelo veículo internacional. ''Então eu pensei que seria de 20 minutos ou algo assim. Eu não percebi o que tinha acontecido até ir à estreia. Eu vi todas essas estrelas de cinema -- Marlene Dietrich, Carole Lombard, Gary Cooper -- todo mundo estava lá. Eu descobri que essa coisa tinha uma hora e 23 minutos.''

Com o sucesso de "Branca de Neve e os Sete Anões", a jovem recebeu um convite de se apresentar no programa de rádio do comediante Jack Benny. Porém, ela teve que negá-lo, por conta de suas correntes contratuais, informou ela. O programa revelaria a verdadeira mulher por trás da princesa, quebrando a ilusão tão defendida por Walt Disney.
Naquele mesmo ano, Caselotti e o ator que dublava seu Príncipe Encantado processaram a Disney e a RCA por valores de $200 mil e $100 mil dólares, respectivamente, informou o How Stuff Works. Após esse episódio, ela manteve suas relações com o império de desenhos animados em uma aparente paz.
Em 1939, participou de O Mágico de Oz. Em 1943, a empresa finalmente creditou a voz da moça e a dos outros dubladores em A Branca de Neve e os Sete Anões. Caselotti eventualmente fez ainda pequenas aparições em óperas e também no filme A Felicidade Não se Compra (1946).

A dubladora participou do relançamento de A Branca de Neve e os Sete Anões no 50º aniversário do desenho, em 1987. Não se negou a estar presente em inúmeros outros eventos publicitários e especiais de televisão comemorando o famoso filme.
Durante entrevistas, ela se demonstrou orgulhosa de sua contribuição ao legado da Disney, sempre discreta a respeito dos atritos que sofreu com o império. Um ano depois de ganhar um Disney Legend Award, ela disse a um repórter em 1995: "Eu sei que minha voz nunca morrerá".
Embora as suas canções ainda permaneçam na memória de várias gerações de crianças que assistem à Branca de Neve, Adriana Caselotti faleceu em 19 de janeiro de 1997, em Los Angeles.


