A múmia de 5.600 anos que revelou a receita de embalsamamento egípcia mais antiga

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Muito do que os estudiosos pensavam saber sobre o início das práticas de embalsamamento no Egito Antigo foi colocado em xeque por uma surpreendente descoberta. Uma múmia com cerca de 5.600 anos, mantida no Museu Egípcio de Turim, na Itália, está ajudando a reescrever a história dessa tradição milenar.
Apelidada de "Fred", essa múmia incrivelmente bem preservada foi tema de um estudo publicado no Journal of Archaeological Science, em 2018, que aponta que as técnicas de embalsamamento eram usadas no Egito mais de 1.500 anos antes do que se acreditava até então.
Fred foi descoberto há mais de um século, em 1901, e desde então permanece sem qualquer tratamento de preservação moderno. Isso o transformou em um candidato perfeito para investigações científicas voltadas a entender como exatamente seu corpo resistiu ao tempo.
Análise de tecidos
Durante décadas, a explicação predominante era de que Fred havia sido naturalmente mumificado devido ao calor seco e extremo do deserto egípcio. Ele era visto como uma exceção, uma rara coincidência de fatores ambientais que garantiram sua conservação.
No entanto, os pesquisadores resolveram olhar mais de perto. Liderados por Jana Jones, egiptóloga da Universidade Macquarie, na Austrália, a equipe decidiu analisar tanto os tecidos de linho que envolviam o corpo quanto os resíduos de uma cesta tecida que foi enterrada junto com a múmia.

A escolha de Fred não foi por acaso: de acordo com o portal All That's Interesting, anos antes, Jones havia encontrado sinais de embalsamamento em fragmentos de roupas funerárias de outros indivíduos da mesma época, mas a ausência de corpos preservados fazia com que muitos especialistas permanecessem céticos. A análise de Fred, portanto, representava a chance de obter provas definitivas.
Identificando ingredientes
Utilizando uma combinação de técnicas químicas modernas, a equipe conseguiu identificar os ingredientes presentes na substância usada para embalsamar a múmia.
O resultado foi surpreendente: a mistura incluía óleo vegetal como base, combinado com goma vegetal ou açúcares, resina de coníferas aquecida e extratos de plantas aromáticas.
Essa composição é muito semelhante à encontrada em bálsamos utilizados para embalsamar faraós e nobres egípcios mais de dois milênios depois, incluindo figuras históricas como o rei Tutancâmon.

A descoberta, vale destacar, muda completamente a cronologia aceita até então sobre o desenvolvimento das práticas funerárias no Egito Antigo. Ela indica que os egípcios já estavam experimentando fórmulas complexas de preservação corporal muito antes da ascensão dos faraós e do auge das técnicas de mumificação que marcaram o Novo Império.
Características contrastantes
Apesar disso, Fred não apresenta todos os elementos característicos das mumificações posteriores. Ele foi enterrado em posição fetal, com todos os órgãos ainda intactos dentro do corpo, o que contrasta bastante com os métodos mais tardios, que incluíam o posicionamento horizontal e a remoção de órgãos internos.
Mesmo assim, o uso intencional de uma pomada química sofisticada comprova que os antigos egípcios já estavam desenvolvendo um conhecimento avançado sobre a preservação dos mortos, sendo as raízes do embalsamamento egípcio muito mais antigas do que se imaginava. "Está confirmando nossa pesquisa anterior, sem dúvida", afirmou Jana Jones à revista National Geographic.
Essa descoberta representa um salto significativo na compreensão das práticas funerárias do Egito Antigo. Ela não apenas altera a linha do tempo arqueológica, como também oferece uma nova perspectiva sobre as crenças religiosas e os rituais que envolviam a morte e a preservação do corpo naquela civilização.


