A 'regra oculta' de abandonar os cadáveres durante a escalada ao Monte Everest

Aventuras Na História






O Monte Everest é o pico mais alto do mundo, com 8.849 metros de altura. E apesar do grande desafio para escalá-lo, todos os anos dezenas de pessoas tentam desbravá-lo — e muitas perdem sua vida durante o desafio.
Embora não seja um número oficial, o banco de dados do Himalaia estima que mais de 330 pessoas já pereceram ao tentar escalar o Everest. Até os dias de hoje, devem existir por volta de 200 corpos congelados que jamais foram retirados de lá — muito por conta da dificuldade do resgate.
O mais famoso deles é o de Tsewang Paljor, conhecido como Botas Verdes (Green Boots) — que desapareceu misteriosamente em 2014 e hoje, inclusive, se tornou um ponto de referência para os alpinistas.
Quem sobreviveu ao Everest, como é o caso de Bonita Norris, enfrentou a morte de perto. No caso da britânica, que escalou o pico em 2010, ela foi resgatada congelada, semiconsciente e à beira da morte.
Em suas entrevistas posteriores, além de descrever os momentos de desespero que viveu no ponto mais alto do planeta, Bonita também revelou a 'regra oculta' de deixar os cadáveres para trás. Entenda!
A regra de 'abandonar' os mortos
Em fevereiro deste ano, Bonita Norris foi entrevistada pelo portal UNILAD, relembrando de sua experiência há 15 anos. A britânica aponta que nunca demonstrou interesse em escalar até menos de dois anos antes de voar para o Nepal.
"Eu tinha 20 anos e, uma noite, fui a uma palestra sobre escalada e ouvi dois montanhistas basicamente descrevendo como chegaram ao topo do Everest… Quando chegaram ao topo, olharam para baixo e puderam ver a curvatura da Terra abaixo deles, e eu estava rendido, como se soubesse naquele momento que iria escalar aquela montanha.
Virei minha vida de cabeça para baixo. Comecei a escalar e, dois anos depois, estava no cume do Everest."
Antes de encarar o topo mais alto do mundo, ela se aventurou no norte de Gales, onde subiu no Monte Snowdon — que tem apenas 1.085 metros. Depois do Everest, Bonita ainda escalou diversas montanhas e falou sobre a regra não escrita, ou código tácito, como ela o chamou, que os montanhistas têm entre si.
"Durante o montanhismo, você ocasionalmente, tragicamente, encontra pessoas que perderam suas vidas na montanha, e é algo que eu já vi de perto em diversas ocasiões, em diversas montanhas diferentes".
"Porque, simplesmente, quando você faz o que eu faço, que é ir até a zona da morte, é incrivelmente difícil resgatar alguém que está lá em cima, porque você só está colocando a vida de mais pessoas em risco."
Quando se ultrapassa os 7 mil metros de altura, os alpinistas entram em uma área conhecida como "zona da morte" — que recebe esse nome por ter tão pouco oxigênio que seu corpo tem dificuldade para acompanhar e as células podem se deteriorar rapidamente, levando a um risco maior de ataque cardíaco, derrame ou doença.
Em relatos ao blogueiro do Everest Mark Horrell, o médico Jeremy Windsor, que escalou o Everest em 2007, disse que os alpinistas da zona da morte precisam sobreviver com apenas um quarto do oxigênio necessário ao nível do mar.
E como montanhistas, temos uma espécie de código tácito de que não queremos arriscar a vida de ninguém. Então eu já vi isso", acrescentou Norris.
"Quando você acorda todas as manhãs na montanha, tudo é tão intenso — cada dia é, é vida e morte. Quando você vê o lado triste do montanhismo, isso realmente te torna consciente do que está fazendo. Isso te dá aquela presença de espírito."
"Isso faz você, tipo, recalibrar suas expectativas sobre o que você quer alcançar. O mais importante não é o topo, é voltar para casa em segurança, para a minha família. Então, de certa forma, é um ótimo lembrete do que é importante quando estamos lá. Ao mesmo tempo, não é algo que eu realmente gosto de lembrar, porque é triste", finalizou.


