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África do Sul reabre caso de ícones da luta contra o apartheid
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África do Sul reabre caso de ícones da luta contra o apartheid

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Aventuras Na História
02/06/2025 17h00
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©Getty Images
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Um dos crimes mais emblemáticos do regime do apartheid voltou ao centro do debate na África do Sul. Um novo inquérito foi aberto para investigar o assassinato brutal de Fort Calata, Matthew Goniwe, Sicelo Mhlauli e Sparrow Mkontoos chamados 'Quatro de Cradock' — mortos em 27 de junho de 1985 por agentes de segurança do Estado.

Os quatro homens, todos ativistas contra o regime racista sul-africano, foram interceptados em um bloqueio de estrada entre Cradock (hoje chamada Nxuba) e Gqeberha (antiga Port Elizabeth). Foram espancados, estrangulados com fios telefônicos, esfaqueados e executados a tiros.

Desde então, várias tentativas de elucidar o crime foram feitas — inquéritos em 1987 e 1993, e a investigação da Comissão da Verdade e Reconciliação, em 1999, que negou anistia a seis agentes envolvidos. Nenhum deles, no entanto, foi levado a julgamento, e todos já morreram.

Agora, o inquérito recém-aberto no tribunal superior de Gqeberha reacende as esperanças das famílias. O ex-general Joffel van der Westhuizen, que comandava as forças militares da então Província Oriental durante o apartheid, é uma das figuras centrais nas novas investigações.

Documentos históricos indicam que ele teria solicitado ao conselho de segurança do regime permissão para "remover permanentemente da sociedade, com urgência" os quatro ativistas, classificados como "agitadores".

Van der Westhuizennega qualquer envolvimento direto. Seu advogado argumentou que o ex-general "não autorizou nem ordenou os assassinatos" e enfrenta problemas de saúde. A defesa ainda apontou dificuldades para arcar com os custos legais, pedindo que testemunhas só possam apresentar acusações caso ele tenha acesso à representação adequada.

Segundo o 'The Guardian', o juiz Thami Beshe decidiu que, por ora, testemunhos poderão ser apresentados com base apenas em informações de domínio público, incluindo o que já foi revelado nos inquéritos anteriores.

Durante a sessão de abertura, Howard Varney, advogado das famílias das vítimas, fez um apelo emocionado: "Esses eram quatro jovens que tinham muito a oferecer à África do Sul. A dor lancinante de sua ausência persiste nas famílias até hoje".

Entre os presentes no tribunal estava Lukhanyo Calata, filho de Fort Calata e jornalista, que descreveu o momento como "emocionante e histórico". "Esperamos tantos anos para finalmente chegar a este ponto, em que um tribunal na África do Sul democrática possa ouvir o caso Cradock Four", declarou.

Ele também criticou narrativas revisionistas promovidas por setores conservadores, que alegam falsamente um "genocídio branco" durante a era democrática, tese amplificada inclusive pelo ex-presidente americano Donald Trump. "O que esperamos agora é corrigir o registro histórico", afirmou.

Reparação

As famílias dos 'Quatro de Cradock' fazem parte de um grupo de 25 famílias que entraram com uma ação judicial contra o governo sul-africano por sua falha em processar os responsáveis por crimes cometidos durante o apartheid. Em resposta, o presidente Cyril Ramaphosa abriu um inquérito nacional para investigar se houve interferência por parte dos governos democráticos anteriores nas investigações desses crimes. No entanto, o escopo limitado do inquérito tem sido duramente criticado pelos familiares.

Nesta terça-feira, 3, o inquérito continuará com visitas oficiais à casa de Goniwe, em Nxuba, e ao local onde os quatro ativistas foram sequestrados. A jornada é longa, mas o que está em jogo vai além da responsabilização individual: trata-se de um acerto de contas com a história e da possibilidade de, enfim, oferecer justiça a quem lutou por liberdade e igualdade em um dos períodos mais sombrios da África do Sul.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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