Antigo pergaminho budista mongol revela sânscrito oculto tibetano
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Um pergaminho budista que permaneceu oculto por décadas em um santuário Gungervaa, na Mongólia, foi virtualmente desdobrado por pesquisadores em Berlim, utilizando avançada tecnologia de tomografia por raios-X.
Essa descoberta, realizada por uma equipe do Museu Etnológico dos Museus Nacionais de Berlim, oferece novas perspectivas sobre as práticas budistas mongóis e demonstra como tecnologias sofisticadas podem ser empregadas para explorar artefatos culturais sensíveis sem causar danos.
O santuário Gungervaa, que integra a tradição religiosa nômade da Mongólia, abrigava estátuas, flores de tecido, relíquias e três pergaminhos dharani envoltos em seda. Esses pergaminhos, escritos com textos sagrados, eram transmitidos de geração em geração e frequentemente continham mantras destinados a proteger e abençoar seus portadores. Contudo, durante o período revolucionário da Mongólia (1921-1930), muitos desses santuários foram destruídos, tornando este exemplo especialmente raro.
Investigação dos pergaminhos
A restauradora do museu Birgit Kantzenbach iniciou a análise do santuário desordenado e levou os pergaminhos ao físico Tobias Arlt, do Helmholtz-Zentrum Berlin (HZB), para investigação. Em vez de desenrolar fisicamente os pergaminhos — o que poderia danificá-los — a equipe recorreu à tomografia 3D no centro de sincrotrão BESSY II, administrado pelo Instituto Federal de Pesquisa de Materiais e Testes (BAM).
As imagens 3D de alta resolução revelaram cerca de 50 voltas por pergaminho, com tiras maiores que 80 centímetros, meticulosamente enroladas. Um dos pergaminhos foi digitalmente desenrolado utilizando um método desenvolvido no Instituto Konrad Zuse com o software Amira. Embora o processo tenha sido demorado, a eficiência foi aumentada com a ajuda de inteligência artificial.
Marcas de tinta apareceram na tira virtualmente desenrolada, revelando o conhecido mantra budista "Om mani padme hum". O aspecto notável é que o mantra estava escrito em sânscrito utilizando caracteres tibetanos — uma combinação incomum. "Isso é interessante porque a tinta chinesa tradicionalmente consiste em uma mistura de fuligem e cola animal, mas, neste caso, aparentemente foi usada tinta contendo partículas metálicas", afirmou Kantzenbach em comunicado.
A pesquisa, publicada no Journal of Cultural Heritage, destaca o poder da tecnologia não destrutiva na conservação cultural. "Continuamos otimizando esse complexo processo de desenrolamento virtual", disse Arlt, acrescentando que métodos semelhantes são utilizados na pesquisa de baterias. Apesar de trabalhosa, essa abordagem oferece uma rara oportunidade de estudar textos sagrados sem comprometer sua integridade física ou espiritual.
Atualmente, o santuário Gungervaa e seu conteúdo estão em exibição pública no Humboldt Forum em Berlim, na exposição "Restauração em Diálogo", aberta até 1º de junho de 2026. Funcionários do museu planejam levar o santuário para exibição na Mongólia posteriormente.
