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Antínoo: O amante gay do imperador romano Adriano que virou divindade
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Antínoo: O amante gay do imperador romano Adriano que virou divindade

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Aventuras Na História
22/06/2025 17h00
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Poucas figuras do mundo antigo despertam tanto fascínio quanto Antínoo. Ele provavelmente teria passado despercebido pela história se não tivesse cruzado o caminho do imperador romano Adriano. A relação entre os dois, envolta em erotismo, política, luto e divinização, deixou marcas profundas na cultura visual, religiosa e homoerótica do Ocidente.

Ele teria nascido por volta de 110 d.C., em Claudiópolis, uma cidade da província da Bitínia, no que hoje é a Turquia. Pouco se sabe sobre sua infância, mas há indícios de que pertencia à elite local. Durante uma visita de Adriano à região em 123 d.C., após um terremoto, o jovem teria participado de alguma cerimônia pública e chamado a atenção do imperador.

Embora casado com Víbia Sabina, Adriano era conhecido por se envolver com rapazes — algo comum na elite romana. Antínoo foi enviado ao Paedagogium, onde jovens eram treinados para servir à corte, mas logo já vivia com Adriano em sua villa. Ele era ainda muito jovem, possivelmente com 13 anos ou menos, enquanto o imperador tinha quase 50.

Royston Lambert, no livro "Amado e Deus: História de Adriano e Antínoo", afirma que Antínoo foi “a única pessoa que parece ter tocado Adriano de forma profunda”.

O imperador, segundo ele, não demonstrava interesse sexual por mulheres e manteve relações com vários rapazes ao longo da vida, mas nenhuma tão duradoura ou marcante quanto esta. A relação se desenvolveu durante os anos, e Antínoo acompanhou Adriano em viagens por quase todo o império: Itália, Grécia, Ásia Menor, Síria e Judeia. 

A forma como ele levou o rapaz em suas viagens, o manteve por perto em momentos de exaltação espiritual ou moral e, após sua morte, cercou-se de suas imagens, revela uma obsessiva necessidade místico-religiosa da sua presença”, escreve Lambert.

Em 130 d.C., ambos estavam no Egito. Em setembro ou outubro, um grupo seleto — composto por oficiais, intelectuais e possivelmente o jovem aristocrata Lúcio Ceiônio Cômodo, visto como potencial rival — embarcou em uma jornada pelo Nilo. Em Hermópolis Magna, centro do culto a Thoth, celebraram o Festival de Osíris. Pouco depois, Antínoo morreu afogado no rio. Tinha menos de 20 anos.

Causa da morte

Adriano anunciou publicamente sua morte, mas rumores se espalharam. O que de fato aconteceu permanece um mistério, e diferentes teorias surgiram ao longo dos séculos. Alguns sugeriram que ele teria sido vítima de uma conspiração interna da corte, talvez motivada por ciúmes ou por uma tentativa de afastá-lo da influência do imperador.

Essa hipótese, no entanto, carece de evidências sólidas e é considerada pouco plausível por Lambert, já que o jovem não exercia nenhum poder político que justificasse tal crime.

Outros levantaram a possibilidade de que Adriano o teria matado, seja num impulso violento — como argumenta a biógrafa Elizabeth Speller, ao lembrar os acessos de fúria do imperador —, seja num ritual para recuperar sua saúde. Ainda assim, essa ideia entra em conflito com o profundo luto demonstrado, que parece incompatível com a atitude de um assassino.

Outra hipótese, considerada mais provável por alguns estudiosos e referida nos escritos perdidos do próprio imperador, é que o afogamento tenha sido acidental — talvez causado por embriaguez, descuido ou cansaço.

A versão mais difundida, mencionada pelo historiador Dio Cássio, é a de que Antínoo teria se sacrificado voluntariamente para tentar curar Adriano de uma enfermidade. A crença de que a morte de um jovem poderia restaurar a saúde de outro era comum no Império Romano. Se esse foi o caso, o imperador pode ter optado por ocultar a motivação do sacrifício para não se mostrar vulnerável.

Divinização

Devastado, Adriano reagiu com uma demonstração pública de luto incomum para um imperador. Mandou fundar a cidade de Antinópolis no local da morte e iniciou um culto oficial ao jovem, elevando-o à condição de divindade — algo que não fizera nem por sua própria irmã.

Como a morte coincidiu com o Festival de Osíris, Antínoo foi associado ao deus egípcio e passou a ser venerado como Antínoo-Osíris, divindade de renascimento, cura e juventude eterna.

Segundo Lambert, o culto não foi apenas expressão de luto pessoal. Adriano, em um momento de esgotamento das crenças tradicionais e crescimento de novos movimentos espirituais (como o cristianismo), pode ter visto em Antínoo uma figura capaz de unir beleza, sacrifício e cura.

Antínoo
Estátua de Antínoo como Dionísio-Osíris / Crédito: Wikimedia Commons via Domínio Público

Legado

Mais imagens de Antínoo sobreviveram à Antiguidade do que de qualquer outra figura, com exceção de Augusto e do próprio Adriano. No livro "Antínoo: O Rosto da Antiguidade", a classicista Caroline Vout destaca que o estudo dessas representações é relevante por unir dois elementos raros: o mistério biográfico e uma presença física esmagadora.

Cerca de cem estátuas chegaram até os dias de hoje, apesar da destruição sistemática promovida por apologistas cristãos, que viam seu culto como uma afronta. Para Lambert, as esculturas representam “um dos monumentos mais elevados e idealizados ao amor pederástico do mundo antigo” e são “a última grande criação da arte clássica”.

Sua figura tornou-se um arquétipo da beleza masculina idealizada, com influência duradoura na arte ocidental. Apesar desse impacto visual e simbólico, quase nada se sabe sobre quem Antínoo realmente foi. Vout observa que os poucos textos existentes são breves, escritos muito tempo depois de sua morte e distorcidos por lendas.

Thorsten Opper, do Museu Britânico, reforça: “Quase nada se conhece sobre a vida de Antínoo, e o fato de que as fontes se tornam mais detalhadas quanto mais distantes do tempo dos acontecimentos não é animador”. Lambert resume essa dificuldade: a imagem dele é sempre mediada por distância, preconceito ou fantasias transmitidas de forma distorcida.

Adriano morreu em 138 d.C., oito anos após Antínoo. O culto ao jovem resistiu até o fim do século IV, quando os cultos pagãos foram proibidos por Teodósio I. Mesmo assim, sua imagem atravessou os séculos.

No século 19, voltou a ser símbolo da homossexualidade masculina e foi celebrado por autores como Oscar Wilde, Fernando Pessoa e Marguerite Yourcenar. Hoje, Antínoo é lembrado tanto por sua beleza imortalizada quanto por sua história trágica. Como observou o National Museums Liverpool, ele e Adriano continuam sendo “o casal homossexual mais famoso da história romana”.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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