Após nove décadas, romance desconhecido de escritor alemão é publicado

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Recentemente, foi publicado na Alemanha um romance até então desconhecido de Sebastian Haffner, um dos jornalistas mais influentes do pós-guerra da Europa. 'A Partida' foi escrito há mais de nove décadas, mas só foi publicado agora, após os filhos do autor descobrirem o manuscrito em sua mesa — e já está entre os livros mais vendidos do país.
Haffner, que ficou conhecido principalmente por capturar o espírito inebriante, porém frágil, dos últimos dias da República de Weimar — antes da ascensão de Adolf Hitler ao poder —, fugiu da Berlim nazista com sua noiva judia em 1938, e logo em 1940 ficou conhecido com a obra 'Alemanha: Jekyll e Hyde'. Segundo o The Guardian, o próprio Winston Churchill indicou essa leitura ao seu gabinete, para compreender melhor a ameaça nazista.
No Reino Unido, Haffner mudou seu nome para Raimund Pretzel, com a intenção de proteger sua família que ainda vivia na Alemanha, e passou a trabalhar como jornalista em Londres para o Observer. Nessa época, ficou reconhecido como um dos principais analistas do nazismo e do que levou Hitler ao poder, até que, em 1954, retornou para Berlim para o Observer, e eventualmente tornou-se colunista de destaque na revista Stern.
Seu filho, Oliver Pretzel, hoje com 86 anos, disse que durante anos a família teve dúvidas se lançaria 'A Partida', desde a morte do pai em Berlim, aos 91 anos, em 1999. A princípio, eles ficaram preocupados por esta obra ser uma história de amor, que poderia parecer muito superficial e ofuscar a reputação de Haffner como um comentarista relevante.
Minha irmã não achou o romance muito bom", disse Pretzel ao Süddeutsche Zeitung. "Inicialmente, eu compartilhava um pouco dessa opinião. Mas quando o reli e comecei a traduzi-lo para o inglês, de repente percebi como ele é engenhosamente construído".
Sucesso
Embora os irmãos Pretzel tivessem receio em lançar a obra, o lançamento se mostrou um sucesso de crítica. Com 181 páginas, a obra foi chamada de "uma dádiva literária" por críticos, além de ser mencionada por ter "um texto incrivelmente rápido, leve e vibrante" e por ser "um belo livro de brilho juvenil e de grande impacto emocional".
O livro é ambientado no último dia de uma estadia de duas semanas em Paris, e acompanha o protagonista, Raimund, um aprendiz de advogado, e seu interesse amoroso, Teddy, uma mulher que havia deixado Berlim em uma época em que "a crise ainda não havia sido inventada", antes de ele precisar retornar a Berlim tomada por uma crescente sensação de medo e incerteza política.
Esse romance, por sua vez, reflete a mesma consciência histórica que espantou e fascinou o mundo em outra obra póstuma de Haffner, 'História de um Alemão', escrito em 1939 e publicado pela primeira vez em 2000, que foi especialmente elogiado por seu escrutínio perspicaz e creditado por extinguir as várias afirmações de contemporâneos de Haffner de desconhecimento dos crimes nazistas.
Segundo o The Guardian, acredita-se que a personagem Teddy tenha sido inspirada em Gertrude Joseph, uma judia de Viena por quem Haffner se apaixonou, e que acabou na Suécia. Vale mencionar que os dois mantiveram contato até o fim de seus dias, e vinte cartas dele para ela foram encontradas em sua posse após sua morte.
"[A Partida] completa o quadro histórico que Haffner nos apresentou em seus... escritos históricos, pois descreve a causa raiz da dor em que se apoiam seus livros posteriores, de tudo o que se perdeu de uma boa Alemanha — cosmopolitismo, tolerância e humanidade. O próprio Haffner enfatizou repetidamente que a história se desenrola em micro-histórias particulares que, juntas, compõem uma história mundial maior. Em 'A Partida', ele expôs essa ideia central", escreveu o crítico literário Volker Weidermann em um epílogo do romance.


