Cacique Raoni revela ter sido enganado por militares em caça à Che Guevara

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Em 'Memórias do Cacique', livro recém-lançado pela Companhia das Letras, o líder indígena Raoni Mẽtyktire, um dos nomes mais emblemáticos da luta pelos povos originários no Brasil e no mundo, revela um episódio até hoje desconhecido da ditadura militar: sua participação, em 1967, em uma missão da Força Aérea Brasileira na serra do Cachimbo, no Pará, cujo verdadeiro objetivo era localizar o guerrilheiro comunista Ernesto Che Guevara.
Convidado sob o pretexto de ajudar em eventuais contatos com outros indígenas, Raoni descobriu anos depois que fora usado como isca e guia na busca pelo revolucionário. "Disseram que era para encontrar parentes. Mas depois soube que esses militares ruins de mato estavam atrás de Che Guevara", relata, com ironia e indignação.
O livro, narrado em primeira pessoa e traduzido por seus netos e pelo antropólogo Fernando Niemeyer, entrelaça relatos históricos, cosmológicos e espirituais. A obra não apenas reconstrói a jornada de Raoni — da infância, quando jogava bola na aldeia, à liderança internacional — como também documenta saberes tradicionais dos mẽtyktire: mitos de origem, cantos sagrados, rituais, técnicas de caça, culinária e os caminhos por onde peregrinaram.
Memórias
Segundo a 'Folha de São Paulo', entre memórias espirituais e embates políticos, Raoni relembra o convívio com nomes como Lula, Sting e o papa João Paulo 2º, as lutas contra Belo Monte e em defesa do Parque do Xingu, além de episódios tensos, como quando quase matou um presidente da Funai.
A obra, que chega às livrarias nesta semana, será lançada oficialmente após a recuperação de uma enfermidade do cacique. Ela traça um mapa do mundo a partir da visão indígena, rompendo com a cronologia ocidental e oferecendo um raro mergulho em uma história contada, enfim, por quem a viveu.
O livro também denuncia as consequências da invasão dos territórios indígenas, como a mineração, o desmatamento e a construção de barragens, e faz um chamado urgente à proteção da natureza. Em sua forma de ver o tempo e os acontecimentos, Raoni transforma memórias em ensinamento, e história em legado, reafirmando seu papel como guardião da floresta e da cultura mẽbêngôkre.


