Christopher Nolan recebe críticas por filmagem em cidade no Saara Ocidental
Aventuras Na História

Os organizadores do Festival Internacional de Cinema do Saara Ocidental (FiSahara) manifestaram preocupações sobre a escolha de Christopher Nolan para filmar parte de sua adaptação de 'A Odisseia' na cidade de Dakhla, situada em um território que se encontra sob ocupação marroquina há 50 anos. Eles alertam que tal decisão pode contribuir para a normalização de décadas de repressão na região.
A nova versão do épico de Homero, que conta com um elenco estelar incluindo Matt Damon, Charlize Theron, Zendaya, Lupita Nyong'o e Anne Hathaway, está prevista para ser lançada em 17 de julho de 2026. De acordo com a produtora Universal Pictures, o filme será "um épico de ação mítico filmado ao redor do mundo", utilizando uma tecnologia inovadora de filme IMAX.
No entanto, a decisão de filmar na costa do Saara Ocidental gerou reações contundentes de ativistas saharauis e daqueles que foram forçados a viver sob ocupação ou a se exilar após a anexação do território por Marrocos, ocorrida após a saída da antiga potência colonial, Espanha, em 1976.
A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Saara Ocidental como um "território não autônomo". Em um relatório recente, o secretário-geral da ONU destacou que o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) não recebeu permissão para acessar a área desde 2015. Ele também observou que o ACNUDH continua recebendo alegações de violações dos direitos humanos, incluindo intimidação, vigilância e discriminação contra indivíduos saharauis, especialmente aqueles que defendem o direito à autodeterminação.
No último relatório sobre o país, a Anistia Internacional afirmou que as "autoridades continuam a restringir a dissidência e os direitos à liberdade de associação e à reunião pacífica no Saara Ocidental". A organização Repórteres Sem Fronteiras descreveu a região como um "deserto para jornalistas", onde "tortura, prisões, abusos físicos, perseguições e intimidações são parte da rotina enfrentada pelos jornalistas saharauis".
Recentemente, o Reino Unido sinalizou seu apoio a uma proposta para que o Saara Ocidental permanecesse sob soberania marroquina, mas com um grau de autonomia. Em resposta, os organizadores do FiSahara afirmam que a presença recente da equipe e elenco renomados de Nolan em Dakhla pode ajudar a deslegitimar a ocupação marroquina e normalizar a repressão.
Implicações
Os diretores do festival salientaram que Dakhla é "um local bonito com dunas cinematográficas", mas é "primeiramente... uma cidade ocupada e militarizada cuja população indígena saharaui é submetida a uma brutal repressão" por parte das forças de ocupação marroquinas. María Carrión, diretora executiva do festival, afirmou: "Ao filmar parte de 'A Odisseia' em um território ocupado... Nolan e sua equipe, talvez inconscientemente, estão contribuindo para a repressão do povo saharaui e para os esforços do regime marroquino em normalizar sua ocupação no Saara Ocidental".
Carrión enfatizou que se Nolan e sua equipe compreendessem as implicações completas da filmagem em um território onde os povos indígenas não podem contar suas próprias histórias sob ocupação, ficariam horrorizados. O FiSahara fez um apelo ao cineasta e sua equipe para "se posicionarem em solidariedade ao povo saharaui", que há 50 anos vive sob ocupação militar e enfrenta prisões e torturas por sua luta pacífica pela autodeterminação.
A diretora também observou que Marrocos busca controlar como sua ocupação é percebida internacionalmente, utilizando o turismo e a cultura para projetar uma visão distorcida da vida no Saara Ocidental. Segundo Carrión: "Marrocos só permite a entrada no Saara Ocidental ocupado àqueles que se encaixam em sua estratégia de vender sua ocupação ao mundo exterior". Ela criticou turistas que visitam resorts construídos por marroquinos ou empresas dispostas a participar da exploração dos recursos naturais locais.
Por outro lado, segundo o 'The Guardian', ela destacou que entidades como Anistia Internacional e centenas de jornalistas e observadores barrados ou deportados do território relatariam uma história muito diferente.
Até o momento, representantes de Nolannão comentaram sobre as críticas recebidas. O FiSahara foi fundado em 2004 e ocorre nos campos de refugiados saharauis no deserto argelino. Conhecido como "o Cannes do deserto", o festival visa usar o cinema para entreter, informar e empoderar os refugiados do Saara Ocidental.
