Descoberta de cartas revela assassinato de padre por amante no ano de 1337

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Um criminologista da Universidade de Cambridge desvendou novos detalhes de um assassinato brutal ocorrido há quase 700 anos em Londres, como parte do projeto "Mapas de Assassinatos Medievais", que analisa mortes violentas na Inglaterra do século 14. A vítima, o padre John Forde, teve a garganta cortada em plena luz do dia, diante da Catedral de São Paulo, em uma rua movimentada da capital inglesa.
A investigação, conduzida por Manuel Eisner, sugere que o homicídio foi resultado de uma vingança arquitetada por uma nobre, Ela Fitzpayne — mulher com quem o padre teria mantido uma relação criminosa e, possivelmente, sexual.
Segundo informações do portal Galileu, a hipótese surgiu após uma análise criteriosa de cartas trocadas na época, algumas assinadas por figuras eclesiásticas importantes, como o arcebispo de Canterbury. Os documentos acusam Ela de adultério e envolvimento em esquemas de extorsão com o próprio marido, Robert, e o padre Forde.
Na época, Forde era reitor de uma igreja em Dorset, na propriedade dos Fitzpayne. A proximidade com o casal culminou em ações criminosas conjuntas, incluindo o ataque a um mosteiro, que resultou em saques e vandalismo.
As evidências sugerem que, após o rompimento dos laços entre Forde e o casal, o padre denunciou Ela à Igreja, provavelmente para se reaproximar da instituição religiosa. Como punição, a mulher foi multada, proibida de usar ouro, pérolas e outras pedras preciosas e forçada a cumprir penitências públicas, incluindo uma caminhada descalça anual pela Catedral de Salisbury durante sete anos. A nobre recusou-se a cumprir as penas, abandonou o marido, indo viver em Rotherhithe. Por fim, acabou por ser excomungada.

Segundo Eisner, essa humilhação pública pode ter alimentado a fúria e o desejo de vingança de Ela, que culminou no assassinato do padre em 1337.
O assassinato
O ataque foi executado por três homens: Hugh Lovell, irmão da nobre, e dois antigos empregados, Hugh Colne e John Strong. Um deles abriu a garganta de Forde com uma adaga de 30 centímetros, enquanto os outros o esfaqueavam na barriga. O local e o horário do crime — em frente à catedral e no início da noite, com muitas testemunhas — indicam que o objetivo era enviar uma mensagem pública.
"O estilo de execução pública do assassinato de Forde, diante de multidões em plena luz do dia, é semelhante aos assassinatos políticos que vemos agora em países como Rússia ou México. Foi concebido para ser um lembrete de quem está no controle", diz Eisner. "Onde o Estado de Direito é fraco, vemos assassinatos cometidos pelos mais altos escalões da sociedade, que tomarão o poder em suas próprias mãos, seja hoje ou sete séculos atrás".
Apesar da identificação dos assassinos, apenas Colne foi preso, e isso cinco anos depois, em 1342. Eisner vê o caso como reflexo de tensões entre Igreja e nobreza, considerando que a autoridade religiosa tentava subjugar os poderosos por meio de julgamentos morais.


