Documentos revelam origem de Luiz Gama e relação com Luiza Mahin
Aventuras Na História

Recentes descobertas feitas por pesquisadoras no Arquivo Público do Estado da Bahia lançaram nova luz sobre a infância de Luiz Gama, um importante abolicionista brasileiro. A pesquisa revelou documentos como testamentos, escrituras e registros de batismo que confirmam informações previamente conhecidas apenas através de relatos pessoais de Gama.
Luiz Gama, que nasceu em Salvador e se destacou como advogado e poeta na luta contra a escravidão, teve sua história familiar reconstituída com base em novos achados. Os documentos atestam que ele era filho de um homem de família branca respeitável e da mulher escravizada Luiza Mahin, figura emblemática do feminismo negro no Brasil.
A partir das cartas escritas pelo próprio Gama, a narrativa sobre sua infância sempre foi limitada. Contudo, as pesquisas conduzidas pela doutora em letras Lisa Earl Castillo e pela historiadora Wlamyra Albuquerque resultaram na identificação de um registro de batismo e outros documentos que corroboram as informações contidas nas cartas autobiográficas do abolicionista.
Os achados incluem uma escritura em nome de Antônio Agostinho Carlos Pinto da Gama, o pai de Luiz, além de um testamento que menciona Luiza Mahin como sua mãe. Esses registros não só oferecem detalhes sobre a vida familiar de Gama, mas também corroboram a existência histórica de sua mãe, que tem sido frequentemente mencionada em estudos sobre a resistência negra.
Luiz Gama nasceu em 21 de junho de 1831, ao contrário do que se pensava até então, que seu nascimento teria ocorrido em 1830. Quando tinha apenas nove anos, ele foi vendido como escravo por seu próprio pai. A liberdade chegou para Gama na adolescência, quando ele conseguiu se alfabetizar e se tornou um defensor dos direitos dos negros escravizados, conquistando notoriedade ao longo dos anos.
A importância histórica de Gama cresceu ao longo do século 20, sendo reconhecido como um símbolo da resistência contra a escravidão no Brasil, país que aboliu essa prática somente em 1888. As novas descobertas fazem parte de uma pesquisa que busca preencher lacunas significativas na biografia do abolicionista.
A escritora Wlamyra Albuquerque ressalta: "A pesquisa cobre esse silêncio que havia em torno da infância de Luiz Gama na Bahia, inclusive mostrando qual era o mundo em que ele se forjou". Os documentos encontrados trazem à tona aspectos até então desconhecidos da vida do abolicionista, enriquecendo o entendimento sobre suas origens.
Um dos principais achados é o testamento redigido por Maria Rosa de Jesus, que designou Antônio Agostinho como herdeiro universal. Este documento também menciona Luiza Mahin como mãe de Luiz Gama, descrita como "livre de toda a escravidão" em referência ao status do filho. Além disso, a identificação de Luiza como escravizada contradiz a versão apresentada por Gama em suas cartas.
O registro de batismo encontrado mostra Luiz Gama como "pardo forro" aos três meses e meio de idade, evidenciando a complexidade de sua identidade familiar. Embora Antônio Agostinho não seja mencionado como pai no registro, sua presença como padrinho indica uma relação mais intrincada do que se supunha anteriormente.
Os esforços das pesquisadoras revelaram ainda detalhes sobre a família paterna de Gama e sua origem em Santo Amaro. Os documentos apontam para um histórico financeiro complicado para Antônio Agostinho, reforçando a narrativa do abolicionista sobre seu pai ser um homem endividado e desiludido.
Luiza Mahin
Além disso, o legado e a memória de Luiza Mahin foram reavaliados à luz dessas novas informações. Embora seu papel na Revolta dos Malês tenha sido questionado por historiadores anteriores, as recentes pesquisas destacam sua relevância histórica e simbólica no movimento abolicionista brasileiro, conforme repercute a Folha de S. Paulo.
Por fim, os novos dados coletados pelas autoras enfatizam a necessidade contínua de pesquisas históricas que busquem compreender e reconstruir narrativas muitas vezes silenciadas pela história oficial. O trabalho feito por Castillo e Albuquerque marca um passo significativo na construção desse diálogo entre memória e documentação histórica sobre as experiências dos negros no Brasil.

