Em Busca de Akakor: Como acontece uma pesquisa pelos rastros de uma cidade perdida

Aventuras Na História






Há quase 20 anos eu trabalho realizando documentários audiovisuais e invariavelmente todos começam pela pesquisa. Recentemente, escrevi um livro sobre uma história muito maluca que envolve tropas nazistas na Amazônia, cidades perdidas e uma grande farsa de proporções internacionais, e dessa vez não foi diferente.
O que de fato mudou é que eu não estava atrás da tal cidade esquecida, mas, sim, trabalhando em um documentário sobre a obra do cineasta Jorge Bodanzky.
Jorge estava prestes a completar 80 anos e toda sua obra estava sendo digitalizada pelo Instituto Moreira Salles. Eram mais de 30 mil fotografias, centenas de horas de vídeos gravados em diversos formatos — super 8, 16mm, Betacam —, além de todos os filmes realizados por ele em mais de 50 anos de carreira.
Meu trabalho de pesquisa consistia não só em me embrenhar em arquivos , mas também em fazer encontros semanais em sua casa para ouvir histórias e fazer gravações que seriam usadas num filme que iríamos fazer.
Um dia, em meio a uma dessas tardes de conversas, cafés e arquivos, encontrei um livro na estante do escritório de Bodanzky. Se chamava "The Chronicle of Akakor" ('A Crônica de Akakor'), e tinha uma capa dourada e imponente. Peguei o livro na estante e logo fui repreendido por Jorge, que pediu para que devolvesse o livro e não tocasse mais naquele assunto.
Depois daquele momento, eu tinha certeza que minha pesquisa ia tomar um rumo totalmente diferente do previsto. No final do dia, tomei o livro "emprestado" contra a vontade do Jorge e o devorei assim que cheguei em casa.
O mistério de Akakor
Era uma história totalmente maluca sobre uma cidade perdida na amazônia repleta de bizarrices, contadas por um líder indígena de uma civilização milenar em depoimento tomado pelo repórter alemão Karl Brugger.
Num primeiro momento, toda minha atenção se voltou sobre o mistério de Akakor e todas as informações contidas no livro e em buscas na internet. Só nos registros online já havia subsídio suficiente para meses de catalogação, mas o que fui descobrindo a partir daí é que não só Brugger, o autor do livro e ex-parceiro de Bodanzky, havia sido assassinado, como outras pessoas também haviam morrido tentando buscar Akakor.
Eu não sou fã de True Crime, não tenho vocação para investigações criminais nem me acho muito perspicaz para solução de problemas complexos, mas todas estas pistas me davam a certeza de que eu teria que seguir aquela trilha de mistério.
Com o passar das semanas fui lentamente convencendo Bodanzky a me ajudar a entender algumas partes daquele quebra-cabeças, até que fui surpreendido pelo maior tesouro que alguém que está fazendo uma pesquisa pode receber: Jorge me confiou todo o seu arquivo sobre Akakor, guardado ao longo de décadas e nunca revelado a ninguém.
Eram muitos recortes de jornais e revistas sobre expedições à cidade perdida, a morte de Brugger e a descoberta de pirâmides na Amazônia. Tudo ali, de mão beijada e só pra mim.
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A internet, os livros e filmes feitos sobre Akakor eram um arquivo vasto para se pesquisar, mas ao material que Jorge Bodanzky me confiou só eu tinha acesso, e eu precisava montar esse quebra-cabeças.
Foram anos falando com pessoas, em viagens e, acima de tudo, vasculhando os arquivos do Jorge, dando origem ao livro "O Enigma de Akakor", que está sendo lançado pela editora Faria e Silva/Alta Books.
O que eu aprendi nesses anos envolvido com essa história é que todo mundo que é fisgado por essa fábula acaba ficando obcecado por ela. Eu fiquei, e agora te convido a embarcar nessa jornada também e entrar comigo nessa pesquisa.
*Rapha Erichsen nasceu no Rio de Janeiro em 1978. É cineasta-documentarista, roteirista e autor de filmes premiados, como Superstonic Sound (2010), Ilegal: A vida não espera (2014) e O outro mundo de Sofia (2023).
Seu primeiro livro, Tudo errado, narra sua aventura ao percorrer um terço da superfície da Terra, da Inglaterra à Mongólia, em um carro velho. Rapha já foi dono de loja de discos, trabalhou na revista Superinteressante e é fundador do estúdio de criação Impossível.


