Estudo inédito revela rosto de São Tomás de Aquino e a causa de sua morte

Um santo cujos ensinamentos “fundamentam a fé cristã” teve seu rosto revelado pela primeira vez em 750 anos. Graças ao mesmo estudo, agora também temos uma nova explicação sobre a causa de sua morte traumática.

Tomás de Aquino — que moldou a doutrina católica por séculos — defendeu a fé baseada na razão e na ciência, oferecendo cinco "provas" lógicas da existência de Deus. Ele também influenciou a filosofia secular ao associar a moralidade à natureza humana e contribuiu para as ideias modernas sobre liberdade humana e os limites da autoridade governamental.

Aquino orientou reis, nobres e vários papas, sendo considerado "o pensador mais influente do período medieval" pelo Dicionário de Filosofia de Cambridge.

Agora, pela primeira vez em 750 anos, é possível ver o rosto de Aquino, o santo padroeiro da educação, após cientistas utilizarem seu crânio para reconstruir suas feições.

O Processo

Cícero Moraes, designer brasileiro responsável pela reconstrução, explicou ao Daily Mail que o processo começou a partir de dados fotográficos e estruturais do crânio. Como o ele não tinha dentes nem mandíbula, essas partes foram projetadas com base em tomografias de crânios de indivíduos vivos.

Após completar o crânio, diversas técnicas foram aplicadas para aproximar o rosto de Aquino. Isso incluiu o uso de dados de doadores vivos para traçar a espessura do tecido mole e o ajuste virtual do rosto e crânio para refletir as dimensões de Aquino.

Moraes afirmou ao Mail que, ao final, foi criado um busto básico e uma versão colorida, inspirada na iconografia do santo. Ele descreveu o rosto como sendo "humilde".

Causa da Morte

A reconstrução foi feita após outro estudo indicar que uma "lesão cerebral traumática" pode ter sido a causa da morte de Aquino. Ele havia sido convidado para o Segundo Concílio de Lyon em 1274, onde o Papa Gregório X tentava resolver o "Grande Cisma" entre as Igrejas Católica e Ortodoxa Oriental.

Embora Aquino estivesse saudável ao partir, ele faleceu antes de chegar, e a causa de sua morte foi inicialmente atribuída a doença, assassinato ou um golpe na cabeça.

Agora, acredita-se que a causa provável tenha sido um hematoma subdural crônico, uma condição onde o sangue se acumula entre o cérebro e o crânio. Testemunhas relataram que Aquinobateu a cabeça em uma árvore caída enquanto viajava para o concílio, vindo de Nápoles. Mesmo tendo se recuperado da queda, sua saúde piorou e ele morreu algumas semanas depois.

Os médicos responsáveis pelo estudo explicam que a maioria dos hematomas subdurais crônicos ocorre após um trauma craniano leve a moderado. A análise das últimas semanas de vida de Aquino apresenta fortes evidências de que o hematoma foi a causa de sua morte, com um período de lucidez seguido de um gradual declínio conforme o hematoma se expandia.

Embora outros relatos mencionem doenças, envenenamento ou infecções, os especialistas afirmam que esses não coincidem com as testemunhas contemporâneas. O estudo foi publicado na revista World Neurosurgery por Gabriel LeBeau, Abdul-Rahman Alkiswani, Paul Camarata e Daniel Mauro.

Dois crânios foram atribuídos a Aquino: um guardado em Toulouse, França, e outro em Priverno, Itália. O estudo de LeBeau e seus colegas concluiu que o crânio de Toulouse era mais confiável para a reconstrução, devido à maior quantidade de dados históricos e estruturais disponíveis.

José Luis Lira, presidente da Academia Brasileira de Hagiologia, destacou ao Daily Mail importância de Tomás de Aquino. Ele afirmou que a Escolástica, que reconciliou o cristianismo com a filosofia racional, tem na Summa Theologica de Aquino sua obra central, e que esse texto é fundamental até para o campo jurídico.