Golfinhos de Noronha revelam sistema de guarda para proteger o grupo

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O que antes era visto apenas como espetáculo acrobático dos golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha agora é entendido como uma complexa forma de vigilância. Segundo o Projeto Golfinho Rotador, que há 35 anos monitora os animais no arquipélago, os saltos no ar são parte de um sofisticado "comportamento de guarda" exercido por machos adultos para proteger o grupo — especialmente fêmeas e filhotes — contra ameaças como embarcações e tubarões.
A pesquisa revelou que esses indivíduos atuam como sentinelas temporárias, com funções rotativas baseadas em experiência, vigor físico e nas necessidades momentâneas da comunidade.
A conclusão vem de um extenso conjunto de observações feitas por mergulhos, embarques em botes com casco transparente e coleta de material genético. Em mais de 8.600 registros de atividades aéreas em apenas 19 dias, mais de 97% foram realizadas por adultos, majoritariamente machos. Esses comportamentos, segundo o oceanógrafo José Martins, coordenador do projeto, formam um sistema de comunicação não verbal entre os golfinhos, funcionando como alertas de ameaça e orientações de rota para o grupo.
Consequências
Contudo, o aumento descontrolado do turismo ameaça esse delicado sistema. "Quanto mais tempo os barcos perseguem os golfinhos, menos eles conseguem estar atentos aos tubarões, descansar e cuidar dos filhotes", alerta Martins. A consequência é o aumento do estresse, menor taxa de reprodução e risco elevado de ataques.
Segundo o 'G1', a pesquisa tem sido fundamental na criação de políticas públicas como a proibição de mergulhos com golfinhos e a delimitação de áreas de exclusão, na tentativa de garantir que Noronha permaneça um santuário marinho para essa espécie tão simbólica.
Além da contribuição para a ciência, o trabalho do projeto tem impacto direto na educação ambiental e no turismo sustentável. As descobertas vêm sendo usadas em campanhas de conscientização para que visitantes compreendam que a simples aproximação excessiva pode comprometer o bem-estar dos golfinhos. "Queremos garantir que futuras gerações ainda possam ver esses animais livres e saudáveis em Noronha, mas isso só será possível se houver respeito pelos limites que a natureza impõe", conclui Martins.


