Macacos-prego sequestram filhotes de outra espécie para driblar tédio, diz estudo

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Uma equipe de biólogos registrou um comportamento inusitado entre primatas na Ilha Jicarón, no Panamá: diversos macacos-prego machos foram vistos carregando filhotes de bugios nas costas.
A cena foi registrada pela primeira vez em 2022 por câmeras com sensor de movimento instaladas na floresta, mas logo os especialistas perceberam que não se tratava de um caso isolado, mas sim de um padrão — um verdadeiro ritual de sequestro de filhotes, descrito em detalhes em artigo publicado na revista científica Current Biology.
A análise das imagens revelou que os macacos-prego atraíam os filhotes de bugios, que tinham menos de quatro semanas de vida, e os levavam consigo. Apesar de não os ferirem, os sequestradores não conseguiam alimentá-los, o que levava muitos dos pequenos bugios à morte por desnutrição. Ao longo de 15 meses de monitoramento, 11 filhotes de bugios foram sequestrados por macacos-prego.
Segundo o portal Galileu, os biólogos observaram que nem todos os sequestradores tentavam cuidar dos filhotes: alguns apenas os carregavam por um tempo e os deixavam cair, de modo que eram recolhidos por outros. Na visão dos especialistas, o comportamento parecia ter um objetivo social, já que os machos que carregavam os bugios recebiam mais atenção das fêmeas.
Tédio
De acordo com os pesquisadores, o comportamento não está ligado à competição por alimento, pois as duas espécies possuem dietas distintas. Eles acreditam que o sequestro pode estar ligado ao tédio. Sem predadores naturais e com abundância de comida, os macacos-prego da ilha vivem em um ambiente tranquilo, o que pode ter levado ao desenvolvimento desse tipo de tradição social.
"Os macacos-prego parecem carregar filhotes de bugios apenas por carregar", afirma o estudo. A ecologista Meg Crofoot, uma das autoras, comentou à Revista Smithsonian: "O que estou vendo aqui? É tão estranho. Isso nunca foi observado em nenhum outro lugar, nem nesta ilha, nem em nenhuma outra população de macacos-prego."
Para ela, o caso lança luz sobre como comportamentos sociais complexos — e nem sempre positivos — não são exclusividade humana. "Acho que isso é algo muito interessante e importante para nós entendermos, mesmo que também tenha um lado sombrio" conclui Crofoot.


