Monte Tambora: o vulcão que entrou em erupção e causou o "ano sem verão"

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Um fato ao qual os brasileiros certamente têm que agradecer, apesar de todos os problemas que podem existir por aqui, é que vivemos isolados de regiões de grande tectonismo, de forma que praticamente não devemos nos preocupar com vulcões em erupção, terremotos ou tsunamis. Porém, no início do século 19, grande parte do mundo sentiu as consequências de uma erupção brutal.
Em abril de 1815, foi registrado na ilha de Sumbawa, na Indonésia, uma das explosões vulcânicas mais poderosas já vistas na história da humanidade: a erupção do Monte Tampora. Esse estratovulcão passou séculos adormecido, até que explodiu repentinamente, desencadeando consigo uma série de catástrofes globais que vitimou centenas de milhares de pessoas, além do que ficou conhecido como "o ano sem verão".
Conforme repercute o All That's Interesting, a erupção foi tão violenta, que o Monte Tampora perdeu mais de 1.200 metros de sua altura, desabando em uma enorme caldeira com 6 quilômetros de largura. Na época, os vilarejos próximos de Sumbawa e na vizinha Lombok foram rapidamente devastados, soterrados por cinzas ou varridos por tsunamis, e estima-se que cerca de 10 mil pessoas que moravam na ilha morreram.
Porém, a erupção foi tão assustadora, que seus impactos não foram apenas locais: cerca de 60 quilômetros cúbicos de gases, poeira e rochas foram lançadas na atmosfera, e durante o verão de 1816, todo o Hemisfério Norte enfrentou as consequências disso. Entenda mais sobre a história!

Erupção devastadora
O primeiro indício de que o Monte Tambora não estava mais tão calmo quanto todos estavam acostumados foi logo ao pôr-do-sol do dia 5 de abril de 1815. Naquele momento, ocorreu uma explosão repentina, e uma enorme coluna de cinzas se elevou por 29 quilômetros acima, e a lava começou a jorrar do pico da montanha — o que não cessou por mais de duas horas.
E aquela foi uma explosão que, de fato, a humanidade nunca viu parecida. Relatos da época revelam que o estrondo foi tão alto, que o som da explosão foi escutado a centenas de quilômetros de distância, pela Europa.
Vale mencionar que, nesse momento, a Europa se aproximava no fim das Guerras Napoleônicas, de forma que era bastante compreensível que muitos europeus entrassem em caos, pensando ter sofrido um ataque de seus inimigos. Mas os indonésios, já mais acostumados aos violentos tremores de terra, talvez suspeitassem do que viria.
No dia seguinte à explosão inicial, cinzas começaram a cair por Java Oriental, e sons de detonação frequentes, embora mais fracos, seguiram sendo ouvidos nos quatro dias que se seguiram. Nesse período, nuvens de cinzas e detritos seguiram subindo sem parar, em uma quantidade tão exorbitante que, em pouco tempo, conseguiu diminuir a temperatura mundial em cerca de 1,2 ºC.

No dia 10 de abril, finalmente pareceu que tudo estava se acalmando. As explosões haviam cessado, raios de sol começaram a surgir entre as nuvens... Mas por volta das 19h, as erupções ficaram ainda mais intensas, devastando e incinerando vilas e florestas inteiras, bem como as vilas de Saugur e Tambora. Nesse episódio, estima-se que 10 mil pessoas morreram na erupção imediata.
Esse, de fato, foi o ponto alto dessa erupção vulcânica. Mas as consequências ainda não tinham acabado, não apenas nas ilhas indonésias.
O ano sem verão
Nos meses que se seguiram à erupção, a atmosfera recebeu uma enorme quantidade de partículas de cinza, o que bloqueou parcialmente a radiação solar e absorveu calor em boa parte do planeta. Com isso, a humanidade viveu um de seus períodos de clima mais extremos em milhares de anos — ao ponto de o verão de 1816 ter sido um terrível inverno vulcânico, frio e sombrio.
Na Europa, em especial, as consequências foram brutais. Enquanto as Guerras Napoleônicas ainda eram sentidas, o frio e a neve causaram enormes perdas nas colheitas, o que provocou um período de grande escassez de alimentos. A Irlanda, em especial, sofreu com uma grande fome, e um surto de tifo tornou tudo ainda mais difícil; estima-se que cerca de 40 mil pessoas morreram por isso — sendo assim vítimas indiretas do Monte Tambora.

E as consequências se espalharam até o "novo mundo": nos Estados Unidos, a neve e o solo congelado persistiram no verão, o que dificultou o cultivo e levou a uma disparada nos preços. Nessa fase, vários agricultores de New England e de outras áreas da Costa Leste partiram para o oeste em busca de climas mais quentes e melhores terras.
Nessas condições que os Estados Unidos viveram sua primeira grande depressão econômica, o chamado "Pânico de 1819", no qual as colheitas europeias já tinham se estabilizado, e as exportações de grãos americanas já não eram mais confiáveis.
Vale destacar ainda que não foi só o mundo ocidental que sofreu: na Baía de Bengala, no leste do subcontinente indiano, as mudanças ambientais alteraram toda a ecologia local, provocando uma mutação da cólera de Bengala, que se espalhou rapidamente e matou dezenas de milhões de pessoas em uma pandemia que durou até 1823.
Já na província de Yunnan, na China, foi registrada uma dura fome de três anos provocada pelas inundações e frio na estação de cultivo, que levou muitos agricultores a recorrerem a um cultivo alternativo, para ainda conseguir algum dinheiro: papoulas. Mais resistentes, essas flores foram responsáveis por colocar Yunnan no mapa como um dos maiores produtores de ópio do mundo.
Inspirações
Em meio ao caos, foi também que a humanidade viu uma oportunidade de progresso, de forma que algumas criações bastante importantes surgiram nessa época. Segundo o Centro de Educação Científica da Corporação Universitária para Pesquisa Atmosférica (UCAR), foi possivelmente com o aumento do custo da aveia, o que também encarecia as viagens a cavalo, que o engenheiro alemão Karl Drais desenvolveu a bicicleta.
Além disso, aquele verão frio e sombrio também coincidiu com as férias da escritora britânica Mary Shelley, seu marido Percy Bysshe Shelley e o poeta Lord Byron no Lago Genebra — o maior lago da Europa Ocidental, situado na França e na Suíça —, que, forçados a ficar presos em casa, lançaram um desafio de escrita um ao outro, buscando inspiração nas circunstâncias. Foi assim que nasceu o poema "Darkness", de Byron, e uma das obras mais importantes da história da literatura, "Frankenstein", de Mary Shelley.

Na China, o escritor Li Yuyang também se sentiu inspirado com os tempos difíceis, e nessa época reviveu a poesia das sete dores. Esse é um estilo antigo chinês de poesia, que usava os sentidos para descrever injustiças e tragédias.
E pintores como J. M. W. Turner e Caspar David Friedrich também eternizaram os céus dessa época em suas obras, com as cores atípicas e trágicas, em amarelo e nublado, mas ainda com uma beleza singular e assombrosa.


