Mulheres vikings podem ter empunhado armas quando grávidas, sugere estudo

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O primeiro estudo interdisciplinar focado na gravidez durante a era viking revelou um cenário muito mais complexo e violento do que se imaginava.
Realizada por Kate Olley, Brad Marshall e Emma Tollefsen, como parte do projeto Body-Politics, a pesquisa buscava preencher uma lacuna histórica. Afinal, a gravidez tem sido amplamente ignorada pela arqueologia — em especial em contextos marcados por batalhas, conquistas e masculinidade, como a era viking (aproximadamente 800 a 1050 d.C.).
A pesquisa recorreu a diversas fontes — textos, artefatos, contextos funerários — para entender como o corpo grávido era concebido nessa sociedade. As narrativas presentes nas sagas e nas leis nórdicas medievais foram parte fundamental. O portal Live Science explica que, embora esses textos tenham sido registrados depois da era viking, refletem a cultura e o pensamento herdados diretamente daquele período.
Descobertas
O estudo descobriu que a gravidez podia ser descrita como uma "barriga", algo "não iluminado" ou "incompleto", expressões essas que revelam uma visão de transição. Em certos casos, o feto parecia ser reconhecido como presença ativa, como na descrição de uma mulher grávida que "não anda sozinha".
Um exemplo marcante é o da saga de Guðrún Ósvífrsdóttir, que, grávida, encara o assassino de seu marido. Ele esfrega sua lança ensanguentada nas roupas e no ventre dela, dizendo: “Acho que sob o canto desse xale mora minha própria morte”. E está certo: o filho de Guðrún cresce e vinga o pai.
Outra história, da Saga de Erik, o Vermelho, mostra Freydís Eiríksdóttir grávida e encurralada por indígenas chamados skrælings. Sem conseguir fugir, ela pega uma espada, descobre o peito e bate a lâmina contra o próprio corpo, afugentando os agressores. Embora muitas vezes visto como um trecho menor da literatura, esse episódio encontra paralelo arqueológico em um achado raro: um pingente do século 10 descoberto no túmulo de uma mulher em Aska, Suécia.
A estatueta mostra uma figura de vestes femininas com os braços envolvendo uma barriga saliente — claramente grávida — e usando um capacete de combate. Trata-se da única representação conhecida da gravidez na arte viking, e uma que sugere força e protagonismo. Assim como nos textos, a grávida aparece armada, ativa, envolvida em narrativas de poder e violência.
Essas imagens e histórias questionam a ideia de que o corpo grávido era sempre passivo. Somadas a sepultamentos de mulheres com armas, elas reforçam que o papel feminino na era viking pode ter sido muito mais dinâmico do que o imaginário popular — e a historiografia tradicional — sugerem.
Enterros
A terceira vertente do estudo investigou os registros funerários. Em meio a milhares de túmulos vikings analisados, apenas 14 casos possíveis de enterros de mulheres grávidas com seus bebês foram identificados.
Em muitos túmulos, foram encontrados bebês enterrados junto a adultos que não eram suas mães, mas sim homens ou mulheres idosas. Poderiam ser sepulturas familiares, mas também podem indicar outros significados simbólicos. É possível até que os bebês tenham sido tratados como objetos funerários, enterrados com outros corpos como oferendas ou símbolos.


