Muralha de Gobi: De barreira defensiva a instrumento de governo na Ásia

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Durante décadas, a imensa Muralha de Gobi, escondida nas areias do deserto da Mongólia, permaneceu como um dos enigmas arqueológicos menos compreendidos do Leste Asiático. Agora, uma nova pesquisa internacional revela que essa estrutura de 321 quilômetros de extensão foi muito mais do que uma simples fortificação: ela era uma sofisticada ferramenta de administração territorial usada pelo Império Xixia entre os séculos 11 e 13.
O estudo, publicado na revista Land, foi conduzido por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade Nacional da Mongólia e Universidade de Yale. A equipe combinou imagens de satélite, levantamentos terrestres e escavações arqueológicas para estudar trechos da muralha na província de Ömnögovi, no sul da Mongólia.
As descobertas surpreendem: além da muralha em si, os pesquisadores identificaram uma rede associada de torres de vigia, trincheiras, postos militares e fortes — todos estrategicamente posicionados em rotas que levavam em conta recursos essenciais, como água e madeira. Construída com materiais locais, como taipa, pedra e madeira, a Muralha de Gobi foi erguida em um ambiente hostil, o que destaca ainda mais sua engenhosidade e importância.
Escavações em sítios-chave revelaram artefatos que datam desde o século 2 a.C. até o século 19, mas os dados por radiocarbono e moedas encontradas apontam que o uso mais intenso da muralha ocorreu no auge do Império Xixia. A dinastia, liderada pelos Tangut, controlava partes da China ocidental e o sul da Mongólia em um período marcado por transformações políticas e disputas por território.
Fundamental
Ao contrário da visão tradicional que vê muros antigos como barreiras defensivas estáticas, os pesquisadores propõem uma nova interpretação. "A Muralha de Gobi exemplifica um modo de governança que utilizava a arquitetura não apenas para proteger, mas para regular o fluxo de pessoas, controlar o acesso a recursos e impor autoridade nas bordas do império", afirmam os autores do estudo.
Segundo o 'Archaeology News', essa abordagem muda a forma como entendemos não só a Muralha de Gobi, mas outras estruturas similares em contextos históricos diversos. Longe de serem apenas muros de exclusão, essas construções podem ter funcionado como zonas de interação, flexíveis e adaptáveis às necessidades políticas e ambientais.
Com essas revelações, a Muralha de Gobi se junta a outras grandes obras da antiguidade, como a Muralha da China ou as estradas romanas, não apenas por sua magnitude, mas por seu papel fundamental na organização social e política de seu tempo.


