O império do banho: Como as termas moldaram a vida social na Roma Antiga

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Hoje silenciosas, as ruínas das grandiosas Termas de Caracalla, em Roma, ainda ecoam o passado. Os gritos das gaivotas que sobrevoam o local parecem trazer de volta as vozes de 1.800 anos atrás, quando o complexo fervilhava com o som de corpos na água, vozes animadas e o tilintar de moedas. Em sua época de glória, as termas não eram apenas espaços para higiene: eram centros de convivência, ostentação, saúde e cultura.
Morando em Roma, é fácil perceber o legado termal espalhado pela cidade. No século 4, havia cerca de 952 termas públicas, muitas delas verdadeiros palácios de mármore com piscinas frias e quentes, bibliotecas, restaurantes, ginásios e salões de massagem.
O imperador Diocleciano ergueu um dos maiores desses complexos, capaz de receber 3.000 pessoas por dia. Lá, o caldário aquecido por dutos subterrâneos, o tepidário morno e o frigidário gelado garantiam um circuito termal completo.
As termas eram democráticas: com entrada gratuita durante festivais e taxas acessíveis nos outros dias, elas acolhiam pobres e ricos, com horários e espaços separados por gênero. Os aristocratas, no entanto, ostentavam sua condição: relatos contam que chegavam com até 50 servos, roupas de gala e joias.
Segundo o 'Archaeology News', além de cuidados com o corpo, os banhos envolviam experiências sensoriais marcantes — óleos perfumados, massagens e conversas — e até atendimentos médicos e odontológicos. Para as mulheres, o médico Sorano de Éfeso recomendava o uso das termas como preparação para o parto.
Por trás da aparência luxuosa, o trabalho sujo recaía sobre os ombros dos escravizados: limpavam ralos, carregavam água, esvaziavam vasos sanitários e cuidavam das cinzas. Entravam por portas separadas, e mesmo assim eram fundamentais para manter os banhos funcionando.
Conexões
A cultura termal romana se espalhou por todo o Império: da Inglaterra (em Bath) à Alemanha (Baden-Baden), da Espanha (Toledo) ao Norte da África. Em acampamentos militares, termas ofereciam alívio aos soldados. A engenharia termal incluía salas de suor (sudatoria), precursoras das saunas, e sistemas de aquecimento sofisticados que ainda hoje surpreendem os arqueólogos.
Inspirados pelos gregos, os romanos elevaram os banhos públicos à condição de marca civilizatória — legado que perdurou até o Império Otomano com os hammams turcos, muitos dos quais seguem ativos, especialmente em Istambul.
As termas romanas eram, acima de tudo, espaços de conexão. Entre vapor e conversas, nudez e política, elas revelavam uma sociedade que via no banho um ritual coletivo e civilizatório. Hoje, as ruínas testemunham um mundo onde o corpo, o poder e o prazer se encontravam em harmonia.


