O passageiro 'azarado' que foi transferido de última hora para o Titanic

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Mais de um século depois da tragédia, novas camadas da história do Titanic continuam emergindo. Desta vez, o foco é Ernest Portage Tomlin, um jovem britânico de 21 anos que morreu no naufrágio e teve sua trajetória redescoberta graças a um leilão inédito de objetos pessoais.
A casa Henry Aldridge & Son, especializada em relíquias do navio, vai leiloar documentos e itens que estavam com ele na época do desastre — um acervo mantido pela família por 113 anos e jamais revelado ao público.
Entre os destaques divulgados, está o canhoto de ingresso para o restaurante da terceira classe, encontrado junto ao corpo de Tomlin. Marcado por manchas de água, o bilhete sobreviveu ao naufrágio e é um dos objetos mais raros do lote, com lance inicial estimado em 40 mil libras (cerca de 312 mil reais).
O cartão de saúde de imigração também chama atenção: o documento mostra que ele viajaria originalmente no navio Adriatic, mas teve o destino alterado de última hora para o Titanic, como comprova a troca manuscrita de nomes no impresso.
O motivo da mudança foi uma greve nacional de mineradores que paralisou o Reino Unido no início de 1912. A escassez de carvão levou a White Star Line a cancelar partidas de outras embarcações para abastecer exclusivamente o Titanic, que faria sua estreia em 10 de abril. Assim, passageiros do Adriatic, como Tomlin, foram realocados para o transatlântico.
Trajetória
Segundo o Daily Mail, Ernest nasceu em Notting Hill, Londres. Ele era o segundo de sete filhos de Edwin e Harriet Tomlin. Em 1907, mudou-se para Des Moines, no estado de Iowa, nos Estados Unidos, onde ingressou no curso de teologia da Drake University.
Após alguns anos, decidiu voltar temporariamente à Inglaterra, mas no início de 1912 resolveu retornar aos EUA para concluir os estudos. Viajaria sozinho, com planos e expectativas de futuro — tudo interrompido no Atlântico Norte.
O corpo foi recuperado pelo navio Mackay Bennett, uma das embarcações contratadas para buscar vítimas do naufrágio. Seu nome já constava há décadas entre as cerca de 1.500 vítimas fatais da tragédia, mas os detalhes agora revelados lançam nova luz sobre sua história.
Cartas trocadas entre a White Star Line e a mãe de Ernest, Harriet, também estão entre os itens que irão a leilão. Uma delas confirma a morte do jovem e relata que o corpo foi identificado graças ao cartão de imigração.
Outra, enviada pelo Exército da Salvação em Halifax, no Canadá, informa que o enterro foi feito no mar. Há ainda uma correspondência do departamento de passageiros da companhia, datada de 23 de maio de 1912, informando que os pertences de Ernest estavam sob custódia do legista de Halifax e seriam encaminhados à família.

O arquivo inclui também uma anotação manuscrita do irmão de Ernest, William, listando os objetos que foram finalmente entregues à família. Guardado por mais de um século em uma caixa trancada, o conjunto nunca havia sido mostrado nem mesmo a especialistas ou colecionadores do Titanic. O leilão está marcado para o dia 26 de abril e promete atrair lances altos.


