Operação Barbarossa: A queda do mito que ainda molda a história da Segunda Guerra

Aventuras Na História






Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista colocava em prática seu plano de invadir a União Soviética. A Operação Barbarossa, como ficou conhecida, foi a maior e mais custosa operação militar da história.
O alto custo se justificava, afinal, Hitler pretendia anexar a União Soviética ao seu "espaço vital" (Lebensraum), obtendo acesso a seus recursos naturais e agrícolas. Além disso, o ditador via o comunismo e o judaísmo como inimigos a serem eliminados; portanto, o governo soviético era considerado uma ameaça.
Mas apesar da motivação, o Terceiro Reich fracassou, o que contribuiu posteriormente para a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e para a libertação da Europa.
Apesar da importância da Operação Barbarossa, o conflito ainda é visto com muitos equívocos. E um destes mitos é derrubado pelo pesquisador Christer Bergström em Operation Barbarossa 1941: Hitler against Stalin, publicado em 2016.
Superioridade alemã
O ataque alemão começou em 22 de junho de 1941. E, desde sempre, a propaganda nazista alimentou a imagem de que os alemães tiveram que lutar contra "inúmeros poloneses do Leste", mas isso é apenas propaganda racista.
A grande verdade, conforme aponta Bergström, é que a guerra na Frente Oriental em 1941 foi caracterizada pela inferioridade soviética em números absolutos. No primeiro dia do conflito, por exemplo, os quatro distritos militares soviéticos ocidentais, entre o Mar Báltico e o Mar Negro, contavam com 2,3 milhões de homens, contra quase 4,5 milhões de soldados do Eixo.

A Wehrmacht havia reunido 3,35 milhões de soldados. Para isso, o exército romeno contribuiu com 600.000 homens, e no norte, a Finlândia já havia mobilizado seu exército e podia reunir 530.000 homens.
Quando o Exército Vermelho contra-atacou em Moscou em dezembro de 1941, a inferioridade numérica soviética era ainda maior. Conforme apontam registros da época, os efetivos soviéticos em 1º de dezembro de 1941 era de 576.500 soldados e 574 tanques contra o Grupo de Exércitos Centro alemão — que na época contava com entre 1,9 e 1,2 milhão de soldados, com 1.800 tanques e canhões de assalto.
Mas conforme a guerra foi prosseguindo, os alemães foram gradualmente perdendo sua superioridade numérica; e a suposta razão para isso nos leva a um dos grandes mitos sobre a Operação Barbarossa.
Mito: Nazistas x frio do Ártico
Ao longo dos anos, diversas fontes alemãs moldaram a historiografia ocidental sobre a Operação Barbarossa. Elas enfatizavam que as temperaturas congelantes e mortíferas são a principal razão para a derrota alemã. Mas isso não é corroborado por dados meteorológicos.
Segundo detalha Christer Bergström em seu livo, a ofensiva soviética coincidiu com uma queda incomum de temperatura, para menos de 35 graus Celsius negativos nos dias 5 e 6 de dezembro.
No entanto, durante esses dias de temperaturas incrivelmente baixas, os alemães conseguiram repelir os ataques soviéticos. No dia 6 de dezembro, por exemplo, quando a temperatura bateu o recorde de -38ºC, o 9º Exército alemão contra-atacou em Kalinin com forte apoio do Panzergruppe 3 e repeliu o 31º Exército soviético através do Rio Volga. No processo, a 250ª Divisão de Fuzileiros Soviética foi completamente derrotada e teve que ser retirada do combate.
Já entre os dias 5 e 7 de dezembro, relatos do Alto Comando Alemão dão conta de que os ataques soviéticos foram repelidos de uma forma geral. "Fracassamos nos primeiros dias", admitiu Zhukov, o mais aclamado comandante militar soviético da Segunda Guerra Mundial.
Já em oito de dezembro, uma crista de baixa pressão, que trouxe degelo e fortes quedas de neve, cobriu a região de Moscou. De acordo com os registros no Diário do Alto Comando Alemão, esse clima continuaria a dominar a área por vários dias.
Mas em 8 de dezembro, uma crista de baixa pressão, que trouxe degelo e fortes quedas de neve, cobriu a região de Moscou. Os registros no Diário do Alto Comando Alemão mostram que esse clima continuaria a dominar a área por vários dias.
Mudança repentina no clima. Temperaturas durante o dia de até +4 graus [Celsius], estradas com pouca visibilidade", apontam os registros no Diário do Alto Comando Alemão sobre o 8/12. Curiosamente, foi nesse dia que as tropas soviéticas conseguiram os primeiros avanços reais.
Na mesma data, o General Marechal de Campo Fedor von Bock, comandante do Grupo de Exércitos Centro alemão, relatou desesperadamente que suas tropas não estavam em condições de resistir ao ataque soviético concentrado.
Em 9 de dezembro, quando as temperaturas variavam entre -5 e 0ºC, von Bock enviou um pedido urgente ao Alto Comando do Exército: "O Grupo de Exércitos precisa de mais homens!".

Em seu diário, o Generaloberst Franz Halder, do Alto Comando do Exército, escreveu em tom de preocupação: "Conversa telefônica com o General Marechal de Campo von Bock: [General] Guderian relata que a condição de suas tropas é tão crítica que ele não sabe como se defender do inimigo."
Embaixo de chuva e degelo, em 12 de dezembro, a 2ª Divisão Panzer alemã foi expulsa de Solnechogorsk — tendo sido empurrada para trás 40 km desde o início da contraofensiva soviética.
No mesmo dia, von Bock, cada vez mais desesperado, telefonou para o Alto Comando do Exército Alemão para dar detalhes da situação de que o centro do grupo do Exército Alemão havia "atingido um estágio extremamente crítico".
O 2º Exército havia sido penetrado na Frente Sudoeste e recuado através de Livny, na direção de Orel. Já 45ª Divisão de Infantaria foi cercada e parcialmente destruída. "Situação gravíssima no 2º Exército", anotou Halder em seu diário.
Assim, o ponto de virada de Moscou não seu deu pelas baixas temperaturas, mas por sua motivação, visto que as tropas alemães, ao verem que seus inimigos não estavam à beira do colapso, como imaginavam, se viram psicologicamente despreparados para um ataque tão violento dos soldados do Exército Vermelho. Logo, as manobras de recuo se transformaram em uma fuga.
Os soldados da Wehrmacht foram tomados por uma psicose coletiva, motivando ainda mais o espírito combativo do lado soviético. Em muitas regiões, descreve Bergström, as tropas do Exército Vermelho, embriagadas de sucesso e ávidas por vingança, perseguiram formações dispersas da Wehrmacht em fuga pelas estradas geladas. Foi um colapso moral do lado alemão, nada menos.


