Operação Paperclip: O programa secreto que levou cientistas nazistas aos EUA
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Em 20 de julho de 1969, os Estados Unidos comemoraram um feito histórico: pela primeira vez, uma missão tripulada pousava na Lua. Embora apenas três astronautas estivessem a bordo da espaçonave Apollo 11, milhares de pessoas trabalharam para que aquela conquista fosse possível. Entre esses colaboradores estavam cientistas alemães que, anos antes, haviam servido ao Partido Nazista.
Esses cientistas chegaram aos Estados Unidos por meio de um programa secreto chamado Operação Paperclip, conduzido nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.
Mentes científicas
A origem da Operação Paperclip remonta ao final da guerra na Europa, em 1945. Com a Alemanha nazista prestes a ser derrotada, os Aliados começaram a se mover estrategicamente para garantir acesso às melhores mentes científicas alemãs.
O temor, segundo o National Geographic, era de que essas figuras fossem recrutadas pela França ou mesmo pela União Soviética, em um contexto de crescente tensão que logo se transformaria na Guerra Fria.
Os Estados Unidos, vale destacar, estavam particularmente impressionados com os avanços tecnológicos alemães, como os foguetes V-2 e os mísseis de cruzeiro V-1, que demonstraram um poder de destruição até então inédito.
Segundo o historiador Brian Crim, autor de Nossos Alemães: Projeto Paperclip e o Estado de Segurança Nacional, o objetivo era simples: negar esses cientistas à União Soviética e, de quebra, aproveitar seus conhecimentos para impulsionar os programas militar, aeronáutico e espacial dos EUA.

Seleção
Oficialmente, a Operação Paperclip durou até 1947, mas outros projetos semelhantes continuaram até 1962. No total, cerca de 1.500 cientistas da Alemanha e da Áustria foram levados para os Estados Unidos, sendo que muitos deles tornaram-se cidadãos americanos e ajudaram a moldar áreas estratégicas da ciência e da tecnologia.
A seleção desses cientistas foi feita a partir de uma lista organizada por Werner Osenberg, engenheiro alemão que havia catalogado milhares de especialistas durante a guerra. No caos do colapso nazista, os documentos da lista foram rasgados e jogados em um vaso sanitário na Universidade de Bonn, mas acabaram recuperados e usados pelas autoridades americanas para escolher seus alvos de recrutamento.
Nome da operação
O nome "Paperclip" (clipe de papel) surgiu de um procedimento interno: os oficiais responsáveis pela triagem marcavam com um clipe de papel os dossiês dos candidatos que os interessavam.
"A razão para isso foi indicar aos investigadores que os cientistas deveriam receber apenas a revisão mais superficial de seu registro. A maioria dos cientistas era membro do partido nazista ou pertencia a organizações nazistas proibidas, incluindo Schutzstaffel, também conhecida como SS. O clipe de papel basicamente anunciava: 'Não olhe muito de perto — esse cara é um dos nossos'", explicou Crim.
Apesar de o governo americano nunca ter detalhado publicamente os critérios de triagem usados na Operação Paperclip, investigações jornalísticas e acadêmicas posteriores revelaram que o processo de verificação dos candidatos foi deliberadamente brando.
Casos evidentes
O caso mais emblemático foi o de Wernher von Braun, ex-membro da SS e criador do foguete V-2. Após sua chegada aos Estados Unidos, Von Braun trabalhou inicialmente com o Exército, desenvolvendo foguetes e mísseis, até se transferir para a NASA, em 1960. Como engenheiro-chefe, ele foi peça-chave na criação do foguete Saturn V, que levou os astronautas à Lua. Von Braun se tornou um defensor público da exploração espacial, ajudando a popularizar o programa Apollo.

Outros nomes relevantes incluem Kurt Debus, ex-membro da SS e primeiro diretor do Centro Espacial Kennedy, e Hubertus Strughold, pioneiro na medicina espacial, mas que, após sua morte, foi ligado a experimentos médicos conduzidos em prisioneiros de campos de concentração.
Porém, de acordo com a fonte, nem todos os casos terminaram em reconhecimento público. Georg Rickhey, por exemplo, foi acusado de crimes de guerra por seu envolvimento com trabalho escravo em uma fábrica subterrânea de armas. Ele acabou extraditado para a Alemanha Ocidental em 1947, mas posteriormente foi absolvido.
Já Arthur Rudolph, que gerenciava a produção de foguetes na Alemanha e depois trabalhou no Saturn V, perdeu a cidadania americana na década de 1980 para evitar um julgamento por crimes de guerra.
Com o passar dos anos, a história oficial de muitos desses cientistas foi cuidadosamente polida, mas nas décadas de 1970 e 80, jornalistas e historiadores começaram a revelar os bastidores sombrios da Operação Paperclip.
Uma grande ronia
É importante destacar que uma grande ironia marcou a Operação Paperclip: enquanto o programa oferecia cidadania americana e carreiras de prestígio a indivíduos que haviam colaborado com um dos regimes mais brutais da história, os sobreviventes do Holocausto continuavam enfrentando sérias dificuldades e barreiras para conseguir entrar nos Estados Unidos.
"Paperclip recompensou centenas de nazistas devotos com a cobiçada cidadania americana, excelentes empregos e aclamação pública, ao mesmo tempo em que os sobreviventes do Holocausto foram mantidos fora do país", enfatizou Brian Crim.
Além disso, ainda hoje, especialistas debatem o impacto real desses cientistas no avanço tecnológico americano. Na visão do historiador, embora Von Braun e sua equipe tenham economizado alguns anos de pesquisa para os EUA, o papel deles no sucesso a longo prazo do programa espacial pode ter sido menos essencial do que se costuma imaginar.
