'Orçamento de carbono' da Terra pode esgotar em apenas três anos

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Um novo relatório publicado na revista Earth System Science Data indica que a atual taxa de emissões recordes de gases de efeito estufa podem levar ao esgotamento do "orçamento de carbono" da Terra em apenas três anos, o que condenaria o planeta a ultrapassar o limite simbólico de 1,5 ºC de aquecimento em comparação à era pré-industrial.
Segundo o Live Science, hoje, toma-se o aquecimento global de 2 ºC como um limite importante, tendo em vista que, algo além disso, aumentaria muito a probabilidade de um colapso climático devastador e irreversível. Entre as consequências, que podem ser sentidas em diferentes partes do mundo, estão ondas de calor extremas, secas e o derretimento das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental.
Vale mencionar que, em 2015, no Acordo de Paris, quase 200 países se comprometeram a limitar o aumento da temperatura global a um valor ideal abaixo de 1,5 ºC. Porém, uma nova avaliação mostrou que essa meta está rapidamente se tornando inatingível, e agora só restam 130 bilhões de toneladas de dióxido de carbono antes de a meta ser ultrapassada — enquanto, atualmente, a humanidade está liberando mais de 42 bilhões de toneladas a cada ano.
"A janela para permanecer dentro de 1,5 ºC está se fechando rapidamente", afirma Joeri Rojelj, professor de ciência e política climática no Imperial College London e coautor do estudo, em comunicado. "O aquecimento global já está afetando a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. Cada pequeno aumento no aquecimento é importante, levando a extremos climáticos mais frequentes e intensos".
Impactos
Segundo o Live Science, já não são novidade os alertas do aumento da temperatura global e as consequências terríveis da ultrapassagem do limite de 1,5 ºC. Em 2020, por exemplo, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas estimou que o orçamento climático restante daquele momento era de cerca de 500 bilhões de toneladas.
Porém, com as emissões desses materiais atingindo níveis recordes nos últimos anos, e com a previsão do próximo relatório oficial previsto apenas para 2029, os cientistas buscam preencher essa lacuna.
Dessa forma, o novo documento faz sua avaliação analisando 10 indicadores de mudanças climáticas, que incluem as emissões líquidas de gases de efeito estufa, o desequilíbrio energético da Terra, as mudanças na temperatura da superfície, a elevação do nível do mar, as temperaturas extremas globais e o orçamento restante.
E essa análise resulta em uma leitura alarmante: o aquecimento vem ocorrendo a uma taxa de cerca de 0,27 ºC a cada década, e a temperatura média global já está 1,24 ºC acima das médias pré-industriais.
Com isso, vem se observando na Terra um acúmulo de calor extra em uma taxa maior que o dobro da observada nas décadas de 1970 e 1980, enquanto o planeta está retendo calor 25% mais rápido hoje que na década anterior. Vale destacar que cerca de 90% desse excesso de calor está retido nos oceanos, o que destrói os ecossistemas marinhos e impacta diretamente no derretimento de geleiras e aumento do nível do mar.
"Desde 1900, o nível médio global do mar subiu cerca de 228 mm. Esse número aparentemente pequeno está tendo um impacto desproporcional nas áreas costeiras baixas, tornando as marés de tempestade mais danosas e causando mais erosão costeira, representando uma ameaça aos seres humanos e aos ecossistemas costeiros", afirma no comunicado a coautora Aimée Slangen, climatologista do NIOZ Royal Netherlands Institute for Sea Research. "O preocupante é que sabemos que a elevação do nível do mar em resposta às mudanças climáticas é relativamente lenta, o que significa que já prevemos novos aumentos nos próximos anos e décadas".
Vale mencionar ainda que um outro estudo recente sugeriu que a produtividade de culturas essenciais, como milho e trigo, pode cair até 40% antes do fim do século nos Estados Unidos, China e Rússia, como consequência desse aquecimento. Outro estudo ainda sugere que um aumento global sem precedentes na severidade da seca já está ocorrendo, com 30% da área terrestre do planeta lidando com secas moderadas e extremas desde 2022.
Por fim, o novo relatório também enfatizou que as emissões globais de gases de efeito estufa devem atingir o pico ainda nesta década, antes de começarem a diminuir. Porém, para que essa diminuição realmente aconteça, é necessária a adoção rápida de métodos de energia limpa, como eólica e solar, o que reduziria drasticamente as emissões de carbono.


