Sapo famoso por veneno psicodélico entra em risco de extinção
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Recentemente, um estudo apresentado na conferência Psychedelic Science, realizada em Denver, EUA, trouxe à tona uma preocupação significativa: a potencial extinção do sapo do deserto de Sonora — também conhecido como sapo do Rio Colorado —, chamado cientificamente de Incilius alvarius. O fenômeno é atribuído ao crescente interesse público nas propriedades alucinógenas de seu veneno, amplamente divulgadas nas redes sociais.
Embora a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifique essa espécie como "menos preocupante", pesquisadores alertam que essa categorização pode não refletir a realidade atual. Segundo os dados coletados, há indícios de que as populações selvagens desse anfíbio tenham sofrido uma queda acentuada nas últimas décadas, possivelmente em decorrência da crescente demanda pelo composto psicodélico 5-MeO-DMT, presente nas secreções do sapo.
O 5-MeO-DMT foi identificado pela primeira vez nas secreções do sapo em 1967, mas só ganhou notoriedade pública em 2014, quando diversos meios de comunicação relataram sua utilização para produzir experiências psicoativas intensas. Essa popularização gerou uma série de mal-entendidos sobre o uso tradicional e medicinal do sapo por comunidades indígenas locais, algo que não tem respaldo científico, conforme explica Anny Ortiz, autora principal do estudo e terapeuta clínica.
Anny Ortiz destaca que a busca desenfreada pelo 5-MeO-DMT e a exploração dos sapos representam uma combinação de fatores que ameaçam a sobrevivência da espécie. Em entrevista ao The New York Times, ela afirmou que "o abuso generalizado contra os sapos está criando um triplo golpe para a espécie".
A crescente popularidade do 5-MeO-DMT como suposto tratamento para questões como depressão e ansiedade tem sido impulsionada por indivíduos sem credenciais adequadas, levando até mesmo ao surgimento de grupos autodenominados "igrejas de sapos" em várias regiões dos EUA.
No contexto legal americano, o 5-MeO-DMT é classificado como uma substância controlada de Classe I, o que implica seu alto potencial de abuso e proibição para uso recreativo ou médico. No entanto, algumas organizações religiosas conseguiram isenções legais para seu uso em rituais espirituais.
Impacto na espécie
Para avaliar o impacto real da exploração sobre a espécie, Ortiz uniu forças com Georgina Santos-Barrera, professora da Universidade Nacional Autônoma do México. Entre 2020 e 2024, elas realizaram expedições noturnas e identificaram cerca de 400 sapos adultos e 2 mil juvenis nos estados de Sonora e Chihuahua. O estudo revelou não apenas o desaparecimento de três populações inteiras, mas também a redução no tamanho dos sapos encontrados.
Santos-Barrera expressou sua preocupação com as consequências ecológicas deste declínio populacional. Isso porque a diminuição dos sapos poderá resultar em sérios problemas ambientais, pois eles desempenham um papel crucial no controle das populações de insetos que afetam as plantações.
Assim que a pesquisa for publicada oficialmente, as autoras planejam solicitar uma revisão no status de conservação do I. alvarius junto à IUCN. Espera-se que isso leve os governos dos EUA e México a reconhecerem a espécie como ameaçada e implementarem medidas protetivas adequadas, repercute a CNN Brasil.
Por fim, Ortiz enfatiza a necessidade urgente de desestimular o uso do sapo do deserto como fonte de 5-MeO-DMT. Ela sugere que alternativas sintéticas poderiam ser viáveis. Contudo, muitos especialistas acreditam que as secreções naturais dos sapos são insubstituíveis devido à sua complexidade química única. Ortiz refuta essa ideia ao afirmar que não há benefícios adicionais comprovados nas secreções além das cardiotoxinas presentes nelas.


