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Telefone de vento: a invenção japonesa para se despedir de quem já partiu
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Telefone de vento: a invenção japonesa para se despedir de quem já partiu

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Aventuras Na História
08/06/2025 17h00
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16540030/original/open-uri20250608-18-fu5qt7?1749402255
©Divulgação/vídeo/Youtube/Reuters
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Desde que Itaru Sasaki criou o primeiro "telefone do vento" no Japão em 2010, a ideia de um telefone simbólico, desconectado, por meio do qual os enlutados pudessem expressar palavras não ditas a entes queridos falecidos, atravessou fronteiras, chegando a diversos lugares do mundo.

A instalação original, localizada em Ōtsuchi, uma vila de pescadores na província de Iwate, logo se tornou um santuário silencioso de luto e conexão com aqueles que se foram.

Sasaki, um designer de jardins, idealizou o telefone do vento após a morte de seu primo, que faleceu de câncer terminal naquele mesmo ano. Em busca de consolo, ele instalou uma antiga cabine telefônica em seu jardim, com um telefone preto desconectado dentro.

Segundo o portal All That's Interesting, sua intenção era simples e profundamente humana: continuar conversando com o primo, mesmo após a morte, deixando que suas palavras fossem levadas pelo vento.

Para Sasaki, a morte não encerrava a relação. Como ele mesmo explicou anos depois: "a vida é, no máximo, 100 anos. Mas a morte é algo que dura muito mais tempo, tanto para a pessoa que morreu quanto para os sobreviventes, que devem encontrar uma maneira de se sentirem conectados aos mortos. A morte não acaba com a vida. Todas as pessoas que sobraram depois ainda estão descobrindo o que fazer a respeito."

Telefone de vento em cabine / Crédito: Divulgação/vídeo/Youtube/Reuters

Tsunami devastador

Três meses depois, o Japão foi atingido por uma das maiores tragédias de sua história recente. Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9,1 atingiu o fundo do mar próximo à costa leste, provocando um tsunami devastador.

Ondas gigantes invadiram o litoral, destruindo cidades inteiras, como Miyako e Sendai, e causando a morte de mais de 19 mil pessoas. Milhares continuaram desaparecidas e milhões perderam suas casas. Em meio a esse luto coletivo, o telefone de Sasaki ganhou um novo propósito.

Ele abriu seu jardim ao público, convidando qualquer pessoa enlutada a usar o telefone do vento. Ali, podiam se despedir, dizer o que ficou por dizer, ou simplesmente conversar com quem partiu.

O gesto simples chamou a atenção dos sobrevivente enlutados, muitos dos quais sequer tiveram a chance de encontrar os corpos de seus entes queridos. Kazuyoshi Sasaki, por exemplo, usou o telefone para falar com sua esposa, Miwako, que desapareceu no tsunami. Ele narrou, com voz embargada, como voltou para casa e viu o céu estrelado, como se aquelas luzes fossem almas perdidas. Ele buscou por ela entre os escombros, necrotérios e abrigos, mas nunca a encontrou.

"Não é terapia. Não é o mesmo que você diz ao seu amigo durante sua segunda taça de vinho sobre desejar poder conversar com sua mãe morta sobre algo. Não é orar. Não está falando com um ente querido que também conhecia os mortos. Você pega o telefone e seu cérebro preparou sua boca para falar. Está conectado. Fazemos isso o tempo todo. Você não pensa no que quer dizer, apenas diz. Em voz alta", refletiu Sasaki.

Telefone é usado por pessoas enlutadas / Crédito: Divulgação/vídeo/Youtube/Reuters

Ao redor do mundo

Mais de 30 mil pessoas já visitaram a cabine original em Ōtsuchi. No entanto, o impacto não se limitou ao Japão. Inspiradas pela simplicidade e profundidade do gesto, comunidades ao redor do mundo começaram a instalar seus próprios "telefones do vento".

Um mapa mantido pelo projeto My Wind Phone indica que hoje existem mais de 300 cabines semelhantes espalhadas por diversos países, sendo 265 somente nos Estados Unidos. Isso ocorre porque, embora o luto se manifeste de formas variadas, o desejo de se comunicar com quem partiu é comum a todos, independente da cultura.

Durante a pandemia de COVID-19, esse sentimento tornou-se ainda mais presente e organizações e comunidades contataram Sasaki em busca de orientação para instalar telefones de vento em seus próprios países. E Sasaki reconhece a importância crescente desses espaços. "Há muitas pessoas que não puderam se despedir", diz.

"Há famílias que gostariam de ter dito algo no final, se soubessem que não voltariam a falar... Assim como um desastre, a pandemia veio de repente e quando uma morte é repentina, a dor que uma família experimenta também é muito maior", destaca o criador do telefone de vento, de acordo com a fonte.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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