Crueldade! Jovem de aldeia é decapitado e crianças indígenas param de ir à escola
Contigo!

Crianças da etnia Avá-Guarani, residentes em comunidades do oeste do Paraná, têm evitado frequentar a escola devido a ameaças e violência recorrentes na região, marcada por conflitos históricos. A situação se agravou após o assassinato de Everton Lopes Rodrigues, de 21 anos, em julho, cujo corpo foi encontrado decapitado com uma carta direcionada às comunidades indígenas, contendo ameaças explícitas às crianças. Segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), o bilhete dizia: "[...] nós vamos matar mais de vocês, iremos invadir as aldeias já existentes, atacaremos os ônibus com as vossas crianças dentro, queimaremos vivos. Não é uma ameaça vazia, mas, sim, recheada com ódio."
O documento intimidava as comunidades a interromper processos de retomada de terras previstas em acordo da Itaipu, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que trata da compra de terras para indígenas. Segundo o MP-PR, o pânico se espalhou, e algumas famílias só permitiram que os filhos retornassem à escola após intervenção do órgão. "No último assassinato foi deixado um bilhete onde o alvo são as crianças que estudam nas escolas públicas das cidades. Na carta, eles disseram para nós recuarmos, se isso não acontecesse iriam queimar ônibus escolar com nossas crianças dentro. Sabemos que eles realmente podem fazer isso, porque existem dois ônibus escolares apenas com estudantes indígenas", relatou Vilma Rios, liderança Avá-Guarani.
Além do receio nos trajetos, as crianças enfrentam hostilidade dentro das instituições de ensino. A advogada Ana Caroline Silva Magnoni, da Comissão Guarani Yvurupa, destacou que "recebemos relatos de crianças que não conseguem dormir e têm medo de ir à escola. Além das ameaças no transporte, muitas também enfrentam racismo e hostilidade dentro das próprias instituições de ensino. Isso causa evasão escolar, afeta a saúde mental e pode até gerar cortes no Bolsa Família, já que a frequência é exigida." Atualmente, escolas indígenas existentes não comportam todas as crianças, obrigando-as a frequentar instituições urbanas, o que aumenta os riscos durante os deslocamentos.
Em resposta, o MP-PR e o Ministério Público Federal (MPF) emitiram uma recomendação administrativa exigindo reforço de policiamento nos trajetos escolares, monitoramento de crimes de racismo, plano de segurança para embarque e desembarque e comunicação constante com lideranças indígenas. A Itaipu informou que irá ampliar convênios com escolas indígenas da região, incluindo formação de professores e aquisição de materiais didáticos. Para Vilma Rios, no entanto, "a única forma de garantir a proteção das nossas crianças é a demarcação do território e a construção de escolas dentro da aldeia", ressaltando que a questão fundiária, impactada pelo agronegócio e pela construção de Itaipu, permanece sem solução definitiva.
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