Mistério da mancha de água fria no Oceano Atlântico agora tem explicação

Pesquisadores finalmente decifraram um dos maiores enigmas do clima moderno: a origem de uma vasta área de águas anormalmente frias no Oceano Atlântico, localizada ao sul da Groenlândia.

Apesar do aumento constante das temperaturas globais, essa região tem se resfriado nos últimos 100 anos, intrigando cientistas ao redor do mundo. Agora, um novo estudo aponta que o fenômeno está ligado à desaceleração da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), um importante sistema de correntes oceânicas.

A pesquisa, publicada no periódico Communications Earth and Environment, analisou dados de temperatura e salinidade ao longo do último século, utilizando 94 modelos oceânicos distintos.

Os cientistas descobriram que apenas os modelos que consideravam um enfraquecimento das correntes atlânticas conseguiam reproduzir a mancha fria observada na realidade.

É uma correlação muito robusta", afirmou Kai-Yuan Li, coautor do estudo e cientista climático da Universidade da Califórnia, em Riverside.

A AMOC atua como um motor do clima global, redistribuindo calor e regulando as temperaturas em diversas regiões do planeta, especialmente na Europa. Segundo os autores, o enfraquecimento da AMOC é "um sinal preocupante de que partes críticas do sistema climático estão mudando", como alertou o paleoceanógrafo David Thornalley, da University College London, que não participou do estudo.

Segundo o 'Live Science', a descoberta encerra um debate antigo entre cientistas que apontavam causas atmosféricas, como a poluição por aerossóis, e aqueles que apostavam na dinâmica oceânica como explicação para o resfriamento.

Com dados que remontam ao início do século 20, os pesquisadores conseguiram mapear o comportamento da AMOC e provar que o lento enfraquecimento das correntes é o principal fator por trás do fenômeno.

Futuro

Além de ajudar a esclarecer o passado, a pesquisa tem implicações diretas para o futuro. Um colapso da AMOC é uma possibilidade real: estimativas indicam que ela pode enfraquecer em pelo menos 20% até o fim do século. Isso afetaria não apenas os padrões climáticos na Europa, mas também ecossistemas marinhos, já que temperatura e salinidade influenciam a distribuição e sobrevivência de diversas espécies.

"Em certo sentido, o debate agora é sobre quão ruins serão os efeitos e se teremos tempo para nos adaptar, não se eles acontecerão", disse o oceanógrafo Nicholas Foukal, da Universidade da Geórgia. A resposta para a mancha fria, ao que tudo indica, é apenas a ponta do iceberg de uma transformação muito mais ampla nos oceanos do planeta.