Os mistérios da múmia de Yakútia, encontrada em cova de areia na Sibéria

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Em 2019, uma múmia feminina foi descoberta na região de Yakútia, no nordeste da Sibéria, em uma área conhecida por temperaturas extremas que chegam a -60 °C. Essas condições, inóspitas à vida, proporcionam um ambiente ideal para a preservação de cadáveres.
Isso permitiu que o corpo, enterrado em uma cova de areia às margens do rio Lena, abaixo do permafrost, fosse encontrado em estado notavelmente bem conservado."Foi uma mumificação natural. Talvez tenha sido enterrada no inverno e congelada", afirmou a arqueóloga Elena Solovyova, responsável pela escavação, ao The Siberian Times.
A descoberta foi feita durante uma expedição do Centro de Pesquisas do Ártico da Academia de Ciências da República de Sakha (Yakútia), em parceria com a Sociedade Geográfica Russa e a Sociedade para a Proteção de Monumentos Históricos e Culturais.

Mistérios
Segundo o Siberian Times, o objetivo inicial da expedição era ambicioso: localizar vestígios do Lensky Ostrog, o primeiro assentamento russo na Yakútia, fundado em 1632 por ordem do cossaco Petr Beketov.
Escavações anteriores no local sugeriam sepultamentos datando dos séculos 15 a 17, baseando-se em datações por radiocarbono. Mas a descoberta da mulher mumificada levou à revisão dessas hipóteses.
A múmia usava roupas típicas da cultura iacuta, uma etnia nativa da região, incluindo shorts forrados de peles, meias de couro de potro com o pelo voltado para dentro e botas tradicionais chamadas torbasa.
Além disso, uma cruz de cobre repousava sobre seu peito. À primeira vista, o artefato parecia cristão, o que alimentou a suposição de que se tratava de uma russa dos tempos coloniais.
Mas análises revelaram inscrições rudimentares, provavelmente feitas por artesãos locais, e partes das roupas apresentavam costura mecânica, incompatível com o século 17.

A datação por carbono-14 feita pelos pesquisadores foi decisiva: a mulher foi enterrada provavelmente entre 1850 e 1880, já sob forte influência da missão cristã ortodoxa, que havia se intensificado na Yakútia no século 19 como parte do projeto de integração imperial.
Apesar do plano inicial de analisar os crânios encontrados no cemitério para distinguir a origem étnica dos sepultados — russos ou iacutos —, Solovyova optou por não separar a cabeça da mulher do corpo por respeito ético, alegando não conseguir violar aquele estado de preservação.
"Não fizemos a pesquisa morfológica completa, mesmo tendo havido um plano para estudar os crânios dos enterrados neste cemitério a fim de saber se eram russos ou iacutos. Não consegui fazer isso por questões éticas", afirmou.
A mulher estava mumificada, não eram apenas ossos espalhados. Simplesmente não consegui separar a cabeça do corpo. Mas tenho certeza de que ela era iacuta".
A descoberta também levantou novas questões sobre a sobreposição de cemitérios em camadas temporais diferentes. Embora ainda não haja provas materiais da existência do Lensky Ostrog sob o sítio atual, a hipótese não está descartada. A presença de vestígios mais recentes pode simplesmente ocultar camadas mais antigas, como ocorre em muitos sítios arqueológicos estratificados.


