Testamos: Óculos Ray-Ban Meta é uma boa compra para quem vai viajar

Rota De Férias









Não foram poucos os olhares de reprovação que recebi mundo afora ao filmar ou fotografar interiores de restaurantes, trens e aviões para o Instagram do Rota de Férias, mesmo quando estava a convite dos próprios administradores locais. Afinal, ninguém gosta de ver um celular apontando para sua cara sem aviso prévio (mal aí, pessoal!). Foi por isso que resolvi comprar um óculos Ray-Ban Meta, que está dando o que falar no mercado pela capacidade de gravar vídeos e fazer fotos com boa qualidade e de uma maneira discreta, embora com sinais visíveis (ou nem tanto assim) para quem está ao redor.
Aqui, vale dizer que, ainda assim, sempre evito focar os rostos das pessoas ou filmar muito próximo em ambientes privados. E caso alguém que não foi avisado apareça de forma nítida, descarto o material. É o mínimo, né? Posto isso, vamos lá.
Depois de alguns meses e muitos testes, decidi compartilhar minhas experiências de compra e uso do equipamento nas mais variadas situações. Posso adiantar que, para viajantes, profissionais ou não, os óculos Ray-Ban Meta são um baita acessório, desde que algumas expectativas sejam alinhadas antes mesmo de você adquirir o produto.
Como comprar os óculos Ray-Ban Meta
Óculos Ray-Ban Meta - Modelo Wyfarer | Paulo Basso Jr.
Moro nos Estados Unidos e, por isso, não tive dificuldade para encontrar os óculos Ray-Ban Meta à venda, inclusive em Bentonville, uma cidade pequena no interior do Arkansas, praticamente no “meio do nada”. Por aqui e em diversos lugares do país, dá para comprá-los tanto no site oficial quanto em óticas e grandes redes, como Walmart e Target. No Brasil, a Meta ainda não informou quando o produto será lançado, restando a possibilidade de importar ou comprar o acessório durante viagens ao exterior.
Depois de pesquisar bastante e testar rapidamente os óculos do meu amigo Caio, do @dicasdemiamieorlando, resolvi escolher um para mim. A decisão nem foi tão complicada, já que atualmente existem apenas três modelos de óculos da Meta: Skyler (com design retrô no estilo “olho de gato”) e Wyfarer (mais retangular, com bordas arredondadas), ambos da Ray-Ban, e o HSTN, da Oakley (com formato circular e estilo mais esportivo).
Achei que o Wyfarer combinou mais comigo e fiquei com ele. É possível selecionar também a cor da armação. No Wyfarer, há apenas preto brilhante ou fosco. Nos outros modelos, a gama é maior: cinza, branco, marrom e transparente para o HSTN, e branco para o Skyler. Além disso, você deve escolher o tom das lentes, que podem ser claras ou escuras – neste último caso, com opção de verde, azul, marrom e ametista (quase preto).
Lentes de grau
Assim que cheguei à loja (era uma ótica dentro do Walmart), confesso que fiquei um pouco perdido com tantas variações de modelos. Pensando nos locais onde gravaria, porém, acabei optando por lentes transitions, que ficam transparentes em ambientes internos e ametista nos externos. Antes que você diga de forma preconceituosa que isso é coisa de velho, vale saber que já passei dos 40 faz tempo. Então, não preciso mais ter vergonha.
Além disso, pedi lentes com grau, pois tenho dificuldade para enxergar de longe. Nesse caso, como ocorre com qualquer óculos, é preciso apresentar uma receita de um oftalmologista ou optometrista americano emitida há menos de seis meses. Se optar pela compra online, inclusive, dá para enviar a prescrição pelo site, sem problemas.
Vale mencionar ainda que os óculos Ray-Ban Meta vêm de fábrica com diversos recursos de proteção ocular. Entre eles, destacam-se filtros contra raios UVA e UVB e resistência a riscos e a respingos.
Ah, e não posso deixar de comentar: me chamou atenção o entusiasmo da vendedora ao apresentar os modelos e explicar as funções básicas, inclusive sobre carregamento (vou detalhar adiante). Ela foi a primeira de várias pessoas que, até hoje, demonstram curiosidade e empolgação ao notar os óculos – de amigos e colegas de trabalho até, acredite, minha dentista, que quase espetou minha gengiva por engano de tão fascinada que ela estava em observar o acessório no meu rosto. E eu não estava gravando, juro.
Primeiras impressões
Case do óculos Ray-Ban Meta | Paulo Basso Jr.
Após o pedido, os óculos ficaram prontos em menos de uma semana. O Ray-Ban Meta vem dentro de um estojo elegante, que imita couro marrom-claro e funciona também como carregador. O esquema lembra o dos fones de ouvido sem fio: há uma entrada USB (o cabo é vendido à parte) para recarregar a case, que, por sua vez, abastece os óculos.
Por dentro, chamam atenção os conectores magnéticos, localizados na região do apoio do nariz, responsáveis pelo carregamento. Na parte traseira do estojo há um botão auxiliar que pode ser usado durante a configuração ou para reiniciar o sistema.
Na frente da capinha, um LED verde indica carga completa, enquanto o amarelo mostra que ainda está carregando. Para conferir o nível exato, é possível abrir o aplicativo Meta AI – disponível para Android e iOS, mas por enquanto apenas em contas ativas nas lojas dos EUA – ou ouvir a informação assim que ligar os óculos e pareá-los via Bluetooth, já que o dispositivo “sussurra” a porcentagem no ouvido do usuário.
Como são os óculos Ray-Ban Meta
Botão liga/desliga do óculos Ray-Ban Meta| Paulo Basso Jr.
Apesar de um pouco mais pesados do que eu esperava, os óculos Ray-Ban Meta no modelo Wyfarer são confortáveis. A armação tem hastes largas, o que transmite segurança até em situações mais agitadas, como corridas ou ao encarar uma montanha-russa.
Na lateral esquerda, próximo às lentes, há um botão de liga/desliga acionado por deslize. Do lado direito, perto da parte superior das lentes, fica um botão mais discreto, com o qual dá para tirar fotos e fazer vídeos.
Mais para o meio das hastes, antes da curva sobre as orelhas, dá para notar pequenas grelhas onde estão os alto-falantes embutidos . São dois de cada lado, mas apenas um orifício visível à esquerda e outro à direita. Além disso, as laterais são sensíveis ao toque, abrindo espaço para comandos gestuais.
Aqui, vale dizer que todos os comandos e informações dos óculos Ray-Ban Meta giram em torno da armação, e não das lentes. Assim, você nunca verá dados em frente aos seus olhos, como muita gente espera de um óculos inteligente. Achei ótimo, pois certamente ficaria incomodado caso algo interferisse minha visão.
Funções e controles dos óculos Ray-Ban Meta
Este botão serve para tirar fotos e fazer vídeos | Paulo Basso Jr.
Os óculos Ray-Ban Meta se conectam ao celular por Bluetooth, mas – como já citei – é preciso instalar no celular o app Meta AI para liberar todos os recursos. No primeiro pareamento, é obrigatório autorizar a localização para o aparelho ser encontrado e vincular uma conta do Facebook ou Instagram, já que essas redes integram diretamente aos óculos.
Depois disso, pelo aplicativo, é possível configurar várias funções, como o tempo de gravação (de 15 segundos a 3 minutos) e o uso do comando de voz “Hey Meta”, que executa diferentes ações. Por enquanto, as interações rolam apenas em inglês. Dá para usar frases como “Hey Meta, take a picture” para tirar fotos, “Stop recording” para parar vídeos, “Call (nome do contato)” para ligar, ou “Play”, “Pause” e “Next” para controlar músicas.
A maior parte dos comandos também pode ser feita de forma manual. Para fotografar, por exemplo, basta apertar o botão na haste direita. Para iniciar uma gravação de vídeo, é preciso segurá-lo por três segundos.
Na parte de trás da armação, próximo à lente direita, uma pequena luz branca indica que as funções de foto ou vídeo estão ativas – embora ela passe despercebida em ambientes claros ou quando você está meio desatento. Na frente dos óculos, à direita e acima, outro LED branco acende para avisar que está acontecendo uma gravação ou pisca para informar que uma foto foi registrada. Mais tarde, volto nesse tema ao falar de privacidade.
Os controles de mídia, por sua vez, ficam no meio das hastes, na parte externa: um toque reproduz ou pausa músicas e ao deslizar o dedo você ajusta o volume (para frente aumenta, para trás diminui). Todos os comandos, inclusive, podem ser personalizados no aplicativo Meta AI.
Memória
Os óculos Ray-Ban Meta são equipados com Bluetooth 5.3 e Wi-Fi de duas bandas. Graças ao Wi-Fi Direct, a transferência para o smartphone é muito rápida. Se estiver com o Google Fotos sincronizado, as imagens aparecem lá em questão de segundos. O próprio app Meta AI também facilita o compartilhamento em redes como o WhatsApp.
O armazenamento interno é de 32 GB, espaço suficiente para salvar cerca de 500 fotos ou 50 vídeos de um minuto. O processador é o Qualcomm Snapdragon AR1 Gen 1, o mesmo usado no Quest, cujo desempenho me agradou bastante.
Fotos e vídeos
Foto feita com os óculos Ray-Ban Meta, sem tratamento: formato só na vertical| Paulo Basso Jr.
A câmera, com sensor de 12 MP, entrega fotos surpreendentemente boas para o tamanho do dispositivo. Uma atualização recente do software deixou as imagens ainda mais nítidas, sobretudo se a ideia é observá-las no celular ou publicá-las em redes sociais. Por ser ultrawide, entretanto, pode haver alguma distorção nas bordas. Além disso, a saturação é um pouco forte, mas em compensação não há borrões nem rastros, mesmo nos registros em movimento.
Nos vídeos, o limite de três minutos ajuda quem, como eu, esquece que está gravando e acaba registrando o chão por um tempão. Para tomadas curtas em restaurantes, meios de transporte, passeios de bike ou mesmo paisagens em geral, a qualidade para exibição em telas pequenas é ótima. Filmei em tempo real a montanha-russa TRON Lightcycle Run, um das mais velozes da Disney World, e o resultado ficou incrível. Não para assistir em uma tela de cinema, claro, mas extremamente satisfatório para smartphones e tablets.
Já subi vários reels no @rotadeferias feitos quase que inteiramente com vídeos gravados pelos óculos da Meta. É o caso deste, andando de bike, e deste, filmando a sede do Walmart. Entre para ver o que acha.
Pontos negativos na geração de imagens
O maior ponto negativo em relação a imagens nos óculos Ray-Ban Meta é a impossibilidade de alterar a proporção das fotos e vídeos, sempre registrados em formato vertical. Assim, o uso fica mais restrito para a produção de conteúdos voltados para redes sociais como Instagram e TikTok ou para serem vistos no celular, sem funcionar tão bem para plataformas como o YouTube, por exemplo. Espero que a Meta reveja isso e libere o formato horizontal nas próximas avaliações ou nos novos modelos.
Outro fator que deve ser levado em consideração é que as fotos e os vídeos ficam comprometidos em ambientes com pouca iluminação. Além disso, a instabilidade deixa a desejar em filmagens mais dinâmicas – embora, ainda assim, tenha me surpreendido positivamente, pois achei que seria pior. Com o tempo, você percebe que não pode balançar muito a cabeça na hora de gravar e, assim, tudo se ajeita.
Privacidade
Led indica quando um vídeo ou foto estão sendo registrados | Paulo Basso Jr.
Para reduzir preocupações de quem possa estar sendo fotografado ou filmado, os óculos da Meta trazem um pequeno LED branco que acende sempre que a câmera é ativada, indicando que imagens estão sendo registradas. Não há opção de desligar essa luz sem comprometer o funcionamento do aparelho – embora sempre surja alguém mal intencionado dizendo que basta colar um adesivo sobre o ponto luminoso.
A própria Meta recomenda que não se grave em locais sensíveis, como banheiros, salas de aula ou áreas restritas de empresas. Mesmo assim, por ser um aviso discreto, o LED pode passar despercebido em determinados contextos, gerando discussões a respeito de sua real eficácia.
Também há questionamentos sobre o armazenamento das informações e como a Meta gerencia esses dados, uma vez que o conteúdo pode ser sincronizado à nuvem da empresa. Na prática, porém, os óculos não fazem nada muito diferente do que Facebook e Instagram já realizam há anos com fotos e vídeos dos usuários.
Funciona como fone de ouvido
Grelhas das caixas de som podem ser vistas na parte superior das hastes | Paulo Basso Jr.
Chega de imagens, pois é hora de falar de som. Afinal, graças aos alto-falantes embutidos nas hastes, é possível usar os óculos Ray-Ban Meta como se fossem um fone de ouvido. Dentro das limitações do design aberto, o áudio tem boa clareza. Pode acontecer de pessoas próximas ouvirem o que está tocando se o volume estiver alto, mas, no geral, o recurso é prático e útlil.
O Bluetooth 5.3 garante estabilidade na conexão, mesmo a mais de 50 metros do celular. Costumo deixar o smartphone em um cômodo e circular pela casa ouvindo músicas ou podcasts no Spotify, sem que haja falhas. Também testei várias vezes andando de bicicleta e a experiência foi positiva.
Aqui, vale dizer que, nas primeiras vezes que usei os óculos, por diversas vezes me atrapalhei um pouco ao tocar nas hastes sem querer – para ajeitá-lo no rosto, por exemplo. E aí, rolaram algumas situações inusitadas. Enquanto fazia uma entrevista em inglês, por exemplo, do nada comecei a escutar uma música em alto volume. Sorte que era “One Love”, do Bob Marley, e não algo do System of a Down ou do Rage Against the Machine. Se o entrevistado percebeu, não sei dizer, mas que a resposta que ele me deu foi pro saco, ah, não teve jeito!
Inteligência artificial e tradução simultânea
Os óculos da Meta fotografam, filmam e funcionam como fone de ouvido, mas o recurso mais curioso é o de inteligência artificial. Com o comando “Hey Meta” (disponível apenas em inglês por enquanto), é possível pedir para o acessório identificar objetos à sua frente e até perguntar qual sapato combina com determinada roupa.
Também dá para consultar hora, temperatura e outros dados práticos. Fora isso, assim que você coloca os óculos, sem qualquer tipo de comando, escuta-se em qual nível a bateria se encontra – algo que é repetido algumas vezes quando a carga está abaixo dos 20%.
Outro destaque é a promessa de tradução simultânea, por enquanto oferecida em quatro idiomas: inglês, espanhol, francês e italiano. O resultado impressiona, mas é mais útil para vídeos curtos ou diálogos rápidos, como na hora de tirar uma dúvida com alguém ou pedir uma informação durante uma viagem.
Em papos mais longos, ou ao assistir a uma série, por exemplo, a coisa complica. Isso porque há um atraso considerável entre o que é falado e o que se ouve traduzido (chega a 25 segundos), provocando altas confusões. A sensação é parecida com a de ver um filme com áudio e legenda fora de sincronia.
Vale dizer, porém, que o app Meta AI transcreve o texto traduzido. Achei essa função bem útil para quem participa de reuniões e palestras, entre outras situações. Estou na torcida para que, em breve, adicionem o Português ao sistema.
Bateria e carregamento
Interior da case conta com dispositivo para carregar a bateria | Paulo Basso Jr.
Os óculos Ray-Ban Meta têm bateria de 154 mAh, suficiente para cerca de quatro horas de uso contínuo entre fotos, vídeos e músicas. Com uso mais moderado, a autonomia pode aumentar.
Uma vez, forcei a barra gravando sem parar enquanto visitava as principais atrações de Chicago. Aí, de fato, em aproximadamente quatro horas, o aviso de carga baixa foi cochchado no meu ouvido.
A case que acompanha os óculos oferece até oito recargas completas, segundo a fabricante. Ainda não consegui colocar isso a prova. A boa notícia é que o carregamento é rápido: em cerca de 20 minutos, o nível aumenta em 50%.
Preço
Nos Estados Unidos, os óculos Ray-Ban Meta nos modelos Wayfarer ou Skyler custam a partir de US$ 299 em óticas, grandes varejistas e no site oficial da Meta. Lentes com prescrição têm custo adicional.
O Oakley Meta HSTN, com visual mais esportivo, parte de US$ 399. Há ainda edições especiais com lentes de alto desempenho, como as versões com tecnologia Prizm e polarização, que podem chegar a US$ 499.
Vale a pena comprar os óculos Ray-Ban Meta?
Óculos Ray-Ban Meta | Paulo Basso Jr.
Tudo depende do objetivo. Para quem, como eu, quer registrar fotos e vídeos para redes sociais, ouvir música sem precisar de fones e ainda receber respostas do “Hey Meta” para previsão do tempo ou pequenas dúvidas, os óculos Ray-Ban Meta entregam uma ótima experiência. A qualidade das imagens surpreende para um dispositivo desse porte e o som embutido é bem satisfatório.
Por outro lado, se a intenção for gravar vídeos totalmente estáveis para campanhas publicitárias ou escutar música com isolamento total, ele pode não atender às expectativas. O mesmo vale para a tradução “simultânea”, que ainda tem atrasos e não inclui português.
Mesmo assim, considero que os óculos Ray-Ban Meta apresentam mais pontos fortes do que fracos e tendem a evoluir bastante. No meu caso, viraram item indispensável, útil em diversas situações. E, pelo que percebo dos olhares curiosos e das perguntas – “você está usando os óculos da Meta?” ou “que legal, como funcionam?” —, eles não passam nada despercebidos e muita gente está interessada em adquiri-los.



