Suçuarana é road movie onde a jornada revela mais que o fim

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Conhecido por mostrar que a jornada muitas vezes revela mais do que o destino final, o road movie é um gênero consagrado no cinema. Suçuarana, dos diretores Clarissa Campolina (Canção ao Longe) e Sérgio Borges (O Céu Sobre os Ombros), segue essa tradição, transformando o percurso de sua protagonista em experiência poética, política e social. Premiado no 43º Festival de Brasília – Melhor Filme, Direção, Montagem, Roteiro e Prêmio Especial do Júri (Elenco) – o longa mistura realismo social e elementos fantásticos para explorar pertencimento, memória e transformação.
Dora (Sinara Teles, O Silêncio das Ostras) percorre há anos as estradas de Minas Gerais, guiada por uma foto antiga de sua mãe que revela o mítico Vale do Suçuarana, única pista desse lugar onde ela imagina que possa encontrar pertencimento. Entre caronas e paisagens devastadas pela mineração, ela enfrenta os riscos de viajar sozinha. Após um acidente, encontra refúgio em uma fábrica abandonada, onde uma comunidade de trabalhadores oferece, por instantes, o lar que busca.
A narrativa se desenvolve como uma travessia reflexiva. Cada encontro de Dora pelo caminho — seja com Ernesto (Carlos Francisco, Estranho Caminho), outros personagens ou o cão Encrenca (de nome Tony Stark na vida real) — expõe um Brasil marcado por desigualdades históricas, devastação ambiental e formas coletivas de sobrevivência. Ao atravessar territórios arruinados pela mineração, a protagonista não apenas procura um refúgio físico, mas também ressignifica a ideia de pertencimento em um país em constante reconstrução.
Ao tornar visível a fragilidade das comunidades e a destruição ambiental, o longa destaca a coragem de uma mulher viajando sozinha, enfrentando estradas perigosas, caronas de desconhecidos e desafios pelo caminho. Sua solidão, arriscada e libertadora, reflete a força de todos aqueles que resistem às margens da sociedade, muitas vezes invisibilizados, e continuam a lutar por formas de existir e se reinventar.
Inspirado livremente na novela A Fera na Selva, de Henry James, Suçuarana dialoga também com o cinema brasileiro contemporâneo, como Arábia (2017) de João Dumans e Affonso Uchoa, ao tratar da busca individual como metáfora de coletividade e de um país em transformação. O longa mergulha na ancestralidade e nas marcas históricas da escravidão, mostrando que a experiência de Dora ecoa a de muitos outros, cuja cor de pele, trajetória e resistência dão voz a uma memória social coletiva.
O filme ainda evoca a ideia de paraíso utópico e inalcançável, à maneira de Shangri-La, o mítico vale tibetano criado por James Hilton no romance Horizonte Perdido (1933). Suçuarana funciona como um lugar simbólico: inalcançável, mas essencial para orientar a jornada de Dora e de todos que, como ela, transformam o caminho em descoberta. No fim, pouco importa se ela encontrará o vale: o filme nos lembra que todos estamos, de algum modo, na estrada, tentando reinventar juntos um espaço que talvez só exista na imaginação, mas cuja busca é, por si só, significativa.
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