O legado das bruxas do passado para a contemporaneidade

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É interessante observar como uma mulher segura e consciente de si, que respeita a natureza e extrai o que há de melhor dela, assusta as pessoas. Na Idade Média, mulheres que estavam além de seu tempo eram mortas por não serem compreendidas.
Elas morriam por curarem doenças; por serem capazes de simplesmente nadar; ou, até mesmo, por terem mais de 30 anos, serem solteiras e conseguirem se manter sozinhas, sem uma presença masculina. Enfim, as causas eram as mais esdrúxulas possíveis.
As bruxas analisavam as ervas medicinais e suas propriedades curativas, manipulavam energia e preparavam soluções para tratar inúmeras enfermidades. Tal conhecimento era transmitido oralmente de geração para geração, e não baseado em estudos científicos. Por trazerem a dádiva de acreditar no que seus olhos não viam, essas mulheres descobriam diferentes formas de cura para as doenças do corpo e da alma.
Entretanto, seria importante ressaltar que elas foram bem mais que isso. Como os alquimistas, a ciência que praticavam estava interligada ao estudo do comportamento humano e da espiritualidade.
Sendo mulheres que não aceitavam o que era imposto pela igreja, fortaleciam-se espiritualmente. Aliavam-se à natureza, recebiam coragem e assertividade, por meio da intuição, e isso apavorava quem não se atrevia a adentrar o universo místico.
Mulher moderna
Atualmente, a mulher moderna encontra resquícios deste conhecimento único em livros sobre os elementos da natureza, em contos de fadas e na crescente linha que desenvolve o sagrado feminino.
Movimento que busca a conexão com a energia feminina, por meio da reconexão com a natureza, a ancestralidade e a intuição, trazendo a mulher de volta ao mundo interior. De seu íntimo, como no mito de Perséfone, ela retorna das profundezas com soluções criativas e inovadoras.
Valorizando suas aptidões natas, a mulher descobre-se como alguém adequada, diferente do que fizeram-na acreditar por séculos. Agora percebe-se os diversos atributos que surgem naturalmente quando aceita seu corpo, suas emoções, seus sentimentos. Ao respeitar a própria natureza cíclica e se tratar com cuidado, a mulher contribui de forma mais rica para o mundo exterior.
Apesar de ainda haver muito a ser recuperado, hoje já se observa a bruxa como um ser sábio e abre-se a mente para desenvolver seus potenciais. Percebeu-se o quão infundadas foram as acusações relacionadas a essas mulheres e a valiosa herança deixada por elas.
Ao resgatar a forma de vida das bruxas, que era profunda e autêntica, a mulher restaura a sua essência. Ela compreende que pode cuidar de si, que não é um ato de egoísmo se amparar, e deixa de lado os julgamentos e a frenética exigência do ego de agradar aos outros, exceto a si mesma.
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Também é interessante recordar que nos contos de fadas, as bruxas, personagens transformadas de velhas sabias a vilãs, não esperavam que tomassem atitudes em seus lugares. A astúcia delas realmente assustaria pessoas que por muitos anos orgulharam-se de colocar o sexo feminino numa situação vulnerável e passiva.
Assim, torna-se perceptível que o movimento de retorno à essência feminina retira as mulheres de uma situação opressora, colocando-as na posição de protagonistas da própria vida. Não mais esperando que façam por elas e, sim com atitude de quem possui o leme nas mãos.
Talvez seja por isso que, entre os séculos 15 e 18, houve de 40.000 a 60.000 condenações à morte por bruxaria. Essas pessoas, denominadas “bruxas” eram senão mulheres sábias, conectadas à natureza, autênticas e livres.
*Luana Barros é psicoterapeuta junguiana, professora e autora de oito livros, entre eles, “A Dança das Bruxas - Iniciação”. Também produziu o podcast “Em Cada Conto um Ponto”, no qual interpretou 18 contos de fadas a partir da teoria junguiana


