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A Funerária: A sombria história real do crematório que cometia práticas desumanas
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A Funerária: A sombria história real do crematório que cometia práticas desumanas

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Aventuras Na História
08/06/2025 19h00
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©Divulgação/Max
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No último domingo, 1º, estreou na Max a série documental “A Funerária” ("The Mortician", no título em inglês), que revela um escândalo real e grotesco ocorrido nos bastidores de uma funerária familiar em Pasadena, na Califórnia (EUA).

Sob o comando de David Sconce, o Lamb Funeral Home adotou práticas criminosas e profundamente antiéticas para ampliar os lucros, como a cremação simultânea de corpos, o roubo de joias e a entrega de cinzas trocadas às famílias enlutadas. 

Dividida em três episódios lançados semanalmente, a série mostra como Sconce, à frente do negócio nos anos 1980, ignorou qualquer limite moral. Ex-funcionários relatam os horrores que presenciaram, enquanto familiares de vítimas contam o choque ao descobrir que as cinzas recebidas não pertenciam aos seus entes queridos.

O escândalo 

As suspeitas surgiram quando donos de funerárias concorrentes perceberam que Sconce oferecia cremações por valores muito abaixo do mercado e em ritmo acelerado. Segundo a revista Time, o número de procedimentos saltou de menos de 200 em 1981 para mais de 25 mil em 1986 — um aumento de mais de 12.000%.

Ex-funcionários revelaram o motivo: ele cremava vários corpos ao mesmo tempo, chegando a quebrar ossos para fazê-los caber no forno. A prática não apenas acelerava o processo como permitia operar em escala industrial. Para evitar fiscalização, Sconce transferiu a operação para uma instalação remota no deserto da Califórnia, onde até 200 corpos eram queimados por vez, sem qualquer controle sanitário.

A denúncia decisiva veio de um veterano da Segunda Guerra Mundial, que morava nas proximidades do novo local. Ele reconheceu o cheiro de carne humana — o mesmo que sentira ao participar da libertação do campo de concentração de Auschwitz. O relato deu início à investigação que levou à condenação de Sconce.

Os depoimentos colhidos pela polícia revelaram práticas grotescas. Corpos eram despidos para que as roupas fossem vendidas, joias eram arrancadas com amputações, e funcionários faziam disputas para ver quem conseguia enfiar mais cadáveres em um único forno. As cinzas geradas eram misturadas e distribuídas aleatoriamente entre as famílias, que acreditavam estar recebendo os restos de seus parentes.

Barbara Hunt, ex-mulher de Sconce, afirmou que só soube da dimensão dos crimes pela imprensa. Ainda assim, recorda-se de vê-lo quebrando dentes com um martelo para extrair ouro, que ele guardava num copo de isopor com a inscrição "Au", símbolo químico do metal. “Ele vendia o ouro”, conta. “Eu só conseguia pensar: em que mundo eu estou vivendo?”

Além disso, descobriu-se que o ex-cremador nunca teve licença para atuar como embalsamador. Operava com um registro de aprendiz, posteriormente cancelado por descumprir exigências legais. Documentos e depoimentos indicam que sua mãe, Laurieann Lamb, também estava envolvida nas irregularidades, inclusive falsificando rótulos das cinzas entregues às famílias.

Em 1989, Sconce se declarou culpado por violar leis sanitárias e profanar cadáveres. Cumpriu alguns anos de prisão. Em 2013, voltou à cadeia por portar uma arma, violando sua condicional. Foi libertado em 2023.

Sconce
David Sconce / Crédito: Divulgação/HBO

Sem remorso?

O ex-cremador participa de "A Funerária" sem demonstrar qualquer sinal de arrependimento. Fala com frieza sobre uma das práticas mais chocantes pelas quais foi condenado: a mistura de cinzas entre diferentes corpos. Justifica o ato dizendo que é algo “normal”, já que, em suas palavras, “isso não é mais uma pessoa”.

Em um trecho da série que aparece no trailer, afirma: “Não há diferença entre cinzas de ninguém… As pessoas precisam controlar melhor as emoções. Aquilo não é mais seu ente querido — nunca foi. Ame-os enquanto estão vivos. Ponto final.” 

Ele também argumenta que muitos clientes autorizavam o espalhamento das cinzas no mar, sem familiares presentes. De acordo com Sconce, isso justificava operacionalmente qualquer mistura entre restos, já que, para ele, aquilo deixava de ser um ente querido para se tornar “resíduo térmico”.

Para o diretor Joshua Rofé, a postura do entrevistado é um retrato extremo da desumanização que pode surgir quando a busca por lucro se impõe sobre qualquer limite moral. “Havia um olhar nos olhos dele como eu nunca tinha visto. Assustador”, disse à Time, referindo-se à primeira conversa que tiveram logo após a libertação do ex-cremador.

Ainda segundo o cineasta, dar espaço a uma figura como Sconce foi uma escolha consciente e necessária. “Evitar histórias de criminosos é negar a realidade. Fingir que o mundo é cor-de-rosa seria um desserviço à humanidade. Encarar essas pessoas de frente é necessário.”

Apesar da gravidade dos crimes, profissionais funerários entrevistados na série insistem que o caso foi isolado e levou à criação de novas leis, como a obrigatoriedade de inspeções surpresas em crematórios e criminalização da extração furtiva de ouro e prata de cadáveres.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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