Dia Mundial de Luta Contra a AIDS: entenda a importância da data
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Nas últimas décadas, o mundo assistiu a uma transformação profunda na resposta ao HIV. Os números mostram conquistas reais: as novas infecções caíram, mais pessoas têm acesso ao tratamento e a mortalidade relacionada à AIDS diminuiu de forma expressiva. No entanto, por trás dos avanços, cresce também uma preocupação – a de que retrocessos no financiamento e no acesso a serviços essenciais coloquem em risco tudo o que foi conquistado até agora.
Enquanto a ciência oferece novas tecnologias e estratégias eficazes, milhões de pessoas continuam sem acesso ao diagnóstico, à prevenção e ao cuidado. Seja por falta de recursos, estigma, discriminação ou barreiras estruturais. O resultado? Uma crise silenciosa que ameaça especialmente países de baixa e média renda.
Cenário atual
A resposta global ao HIV avançou muito desde 2010. As novas infecções diminuíram significativamente; as mortes relacionadas à AIDS caíram mais da metade; e o acesso ao tratamento antirretroviral atingiu níveis inéditos. Esses avanços salvaram vidas, fortaleceram sistemas de saúde e renovaram a esperança de que a AIDS deixe de ser uma ameaça à saúde pública na próxima década. Mas o progresso não é igual para todos.
Apesar das conquistas, o cenário atual ainda é alarmante: 40,8 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo; mais de 1 milhão de novas infecções ocorreram apenas no último ano; e quase 10 milhões de pessoas seguem sem acesso ao tratamento.
Segundo o relatório “Eliminar as barreiras, transformar a resposta à Aids”, divulgado pelo Unaids, duas tendências preocupam: o corte no financiamento internacional e o enfraquecimento de serviços essenciais, sobretudo em regiões onde a epidemia é mais intensa. Para Winnie Byanyima, diretora-executiva do Unaids, “a crise de financiamento expôs a fragilidade do progresso que lutamos tanto para alcançar”. Ela reforça que cada estatística representa uma vida interrompida pelo estigma, pela falta de diagnóstico ou pela ausência de políticas consistentes.
“Por trás de cada dado deste relatório estão pessoas, bebês e crianças que não tiveram acesso a exames de HIV ou diagnóstico precoce, mulheres jovens que não receberam apoio à prevenção e comunidades que, de repente, ficaram sem serviços e cuidados”, afirma. “Não podemos abandoná-las.”
O impacto do corte de recursos
A queda no apoio internacional tem efeitos imediatos: menos investimentos em prevenção; redução no acesso a medicamentos inovadores, como os antirretrovirais injetáveis de ação prolongada; e fechamento de organizações comunitárias, fundamentais para alcançar populações vulneráveis.
Estima-se que a assistência externa à saúde possa cair de 30% a 40% até 2025 em comparação a 2023, segundo a OCDE. Se nada mudar, o Unaids alerta. “O fracasso em atingir as metas globais pode resultar em 3,3 milhões de novas infecções por HIV entre 2025 e 2030″.
O apelo global por ação e coragem política
O Unaids pede que líderes mundiais mantenham e ampliem o financiamento, reforcem o multilateralismo e protejam os avanços conquistados. Winnie Byanyima ressalta: “sabemos o que funciona – temos a ciência, as ferramentas biomédicas e as estratégias comprovadas. O que precisamos agora é de coragem política.”
E acrescenta que é impossível avançar sem investimento nas comunidades e sem enfrentar o estigma que ainda impede o acesso ao cuidado. “Podemos permitir que esses choques desfaçam décadas de conquistas duramente alcançadas ou podemos nos unir por uma visão compartilhada de acabar com a Aids. Milhões de vidas dependem das escolhas que fazemos hoje.”
Onde está a esperança?
Apesar dos desafios, acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030 é considerado possível. Para isso, é preciso: expandir o acesso aos antirretrovirais; fortalecer serviços de prevenção e diagnóstico; garantir que novas tecnologias cheguem aos países mais vulneráveis; apoiar organizações comunitárias; combater o estigma de forma ativa e estruturada. A combinação de inovação, acesso universal e compromisso político pode transformar o cenário atual.
